5 de nov. de 2008


Entrei sem prestar muita atenção em nada. Alias, há meses eu não prestava atenção em nada. Talvez jamais tenha prestado. Não sei bem. A moça retocava a maquiagem. Mas não era uma cena comum. Seus olhos eram tristes, estavam úmidos, um sinal de lágrima recém chorada, recém sufocada, recém secada. Ela não me olhou diretamente, mantinha a cabeça baixa. Nunca na vida um silêncio me perturbou tanto. Muito menos um silêncio de um estranho. Esfreguei os olhos e molhei o rosto na tentativa de voltar ao meu estado normal, o da indiferença encenada com maestria pelos dias e dias afora. Levanto a cabeça, vejo um reflexo de rosto molhado no espelho. Estou só. Maquiagem nas mãos. Retoco. Sorrio leve. Saio. Devolta à vida. Vida? Não. Acho que não. Devolta ao mundo.






jc