11 de nov. de 2008


Lhe ouço chamar. Revirando em pesadelos, passeio, outras éras. Acordo num susto, o corpo queimando em suores frios, contraditório como tudo que é intenso. Pela janela observo raios e trovões, anjos caindo. E nada cai do céu o povo diz em auto tom. Mas cai sim. Cai. Só vc que eu não vejo voltar. O abajur desenha uma sombra na parede à minha frente. Não vejo sombra alguma, vejo vc. Linda, perfeita, com sono, cabelos desalinhados. Pede-me para esperar-te e corre devolta até o quarto. Volta ainda mais linda, não entendo como pode ser possivel. Não que tivesse penteado os cabelos, ou trocado a camisola de seda preta curta sensual inesquecivel. Volta com um bilhete nas mãos. Não um bilhetinho azul como o que Cazuza cantou. Um bilhetinho vermelho. Intenso. Envolto num laço de cor palha. Delicadissimo porém marcante, assim como tu. Me entregas e pedes para que eu leia em casa somente. Atendo teu pedido. Atenderia todos eles por todas as vidas. Beijo-te em despedida e tu me perguntas se não posso mesmo ficar, respondo um triste e suave Não. Pelo qual até hoje me lastimo feito criança boba. Leio. Sorrio. Sorrio diante de tuas juras, teus planos, tuas promessas, tua felicidade. Sorrio pleno. Sorrio diante da ultima linha do bilhete tambem. Escrita em rabiscos amáveis apressados doces. Um código tão nosso. Cheio de amor, de entrega, de esperança. Nada disso eu sonhei, foi tudo real demais. Guardo ainda o bilhetinho vermelho. Guardo ainda sua imagem em perfeição. Emoldurada na memória. Blindada. Eternizada. Tão feliz tão triste recordação. Saudade é contráditório sim. Passau-se muito tempo e até hoje não compreendo onde erramos. O que é um erro. O que exatamente nos afastou assim. Mas tambem não lamento. São todas boas as lembranças. Me guardas tenho certeza. Te guardo tanto quanto, tenha certeza. Olho a janela outra vez. Ainda chove. Desligo o abajur. Deito-me. Pego o controle remoto em cima da cabeceira. Preciso de uma música baixinha para afastar da cabeça sua voz, sussuros, gemidos. Qualquer música do mundo menos aquelas. Seleciono outro genêro. Ecoa um trovão lá fora. Avisando-me que de vez enquando tudo isso irá voltar. Mas assim como vem tambem irá cessar. Repetidamente. Largo sobre o lençol o controle. O controle que auxilia no controle de mim. Adormeço pouco depois. Mas não demora muito faz-se hora de amanhecer. Amanheces em mim. Quietinha. Durante o dia tu não gritas. Silenciamos. Prosseguimos. Invadimos outras vidas. Duplamente contraditóras. No que acreditar?











jc