Como se eu fosse ao mesmo tempo diretor, ator, autor e platéia de um espetáculo que ainda não começara a acontecer. Como se não fosse um espetáculo, porque nada estava previsto e não houvera ensaio algum, como se eu jamais pudesse ter certeza se alguém decorara a sua própria fala ou estava se apropriando da fala de outro ou inventando alguma para não permanecer parado e mudo. Embora não fosse um espetáculo, não podia parar, e a essa fala de outro que era de outro alguém, ou invenção, eu precisaria responder imediatamente, não podia parar, ainda que parasse não pararia, mesmo que meu papel fosse o de um cego ou mudo ou paralítico, de alguma maneira teria que reagir ao que aconteceria à minha volta. E o que aconteceria à minha volta aconteceria de qualquer jeito. A minha não-participação seria ainda uma forma de participar, permitindo que tudo acontecesse sem interferir.
Antes de dar um passo, eu estava exausto daquele jogo tão absurdo que qualquer nova regra podia ser inventada na hora. Não sabia se saberia jogá-lo. Nem se queria.
Caio F.