16 de mai. de 2010


não diz nada, você não diz nada. apenas olha para mim, sorri. quanto tempo dura? faz pouco despencou uma estrela e fizemos, ao mesmo tempo e em silêncio, um pedido, dois pedidos. pedi para saber tocá-lo. você não me conta seus desejos. sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me dizer: não. há uma espécie de heroísmo então quando estendo o braço, alongo as mãos, abro os dedos e brota. toco. perto da minha a boca se entreabre lenta, úmida, cigarro, chiclete, conhaque, vermelha, os dentes se chocam, leve ruído, as línguas se misturam. naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo. escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra a minha coxa, calor rijo do meu corpo contra a tua coxa. amanhã não sei, não sabemos.







- Caio Fernando Abreu