17 de jun. de 2010

Da rua onde eu cresci só me sobrou a distancia, as olheiras borradas de
rímel e um pouco de amargura - essa saudade que de tanto doer mudou de nome.
Não é impossível terem me sobrado algumas amizades também, mas o tempo as consumirá até o ultimo grão, eu já sei. Me sobraram, quando fecho os olhos, as imagens do horizonte alto nas montanhas, o sol se pôndo, exibicionista, na janela tambem alta do meu antigo quarto. O vento balançado cipréstes e folhas mil, nuvens fofas e céu-anil, me distraindo da leitura feita no sossego de um chão geladinho de varanda. Eu não nego, são lembranças muito boas, as bolas, as bicicletas, as chuvas.
Uma pena tudo isso ir mudando, ir mudando, ir mudando de nome dentro da gente. É preciso lavar o rímel para deitar, talvez dormir sem sonhos, nesse quarto de adulto.



JC