Depois de mais uma viagem eu percebi, nunca, nada, nada mais mesmo, vai mudar essa solidão e esse cansaço em mim, nenhuma viagem, nenhum melhor emprego, nem o mais terno amor, jamais voltarei a ser o que fui antes da grande verdade. Aquela coisa de ser, de estar, contente, ja esqueci, sem exageros meu amigo, esqueci realmente, te juro. Eu viajei, eu mudei de casa, mudei de cidade, mudei de Estado, e nada. Cada vez mais amargo, cada dia mais sozinho e-meio-que-escolhendo-estar-assim, a cada ano com menos paciência, menos esperança, tenho muito medo de ter expectativas, essa coisa que geralmente vem seguida de frustração, mas não tendo coisa boa nenhuma por medo acho que a gente ja se condena às mais intensas e antecipadas frustrações. Mas é isso, é tarde. Quem sabe se eu mudar de país? Ah, que sonho mais torto, apesar de lindo, deveras inutil, por dentro. O que fica pra mim, é o esconderijo, o aprendizado, o arrependimento daquilo que talvez tenha sido meu maior ato de coragem na vida: dizer-lhes, mansinho, ingênuo, a grande verdade.
JC