19 de mar. de 2011

Mais de um ano... fiquei pensando -  sozinho aqui no quarto - como é gratificante, no agora, perceber alguns fiapos de recuperação. Mudei tanto a minha vida, fui radical comigo mesmo, fui bruto, e ao mudar eu pensei que não suportaria, talvez quase não suporte. Tão difícil recomeçar.
Mas há um momento em que não adianta mais ficar, não adianta mais ser o mesmo homem enfeitando a sala, nem ter o mesmo outono na janela, dizer os mesmos nadas, fazer, ver, respirar, abraçar os mesmos sempres de sempre, décadas, uma, duas, três, e logo mais: mais.
A mudança traz uma revolta gelada, solidão da mais negra e nebulosa, me senti até arrependido em alguns momentos. Mas era disso que eu precisava, o choque, e mesmo que faça o caminho de volta um dia, me foi necessário ter vindo parar aqui, no hoje.
É mesmo extremamente lento se transformar sem auxílio, mudar sem ajuda, sem grandes empurrões, sem significativas indicações de caminho. Tenho tentado, e dentro da tentativa começa brotar um modesto orgulho por estar tentando e estar conseguindo ainda que miserávelmente.
Meus passos ainda estão atrapalhados, cambaleio como uma criança sem colo, sem mãos de adulto estendidas, e tem dias em que caio, caio fundo no fundo escuro de mim, me despedaço todo e dói muito, mas vou levantando outra vez, porque não há outro jeito - muito cedo para a morte.
Dias de salto em altura, dias de arrasto, de suar frio e ter medo de não chegar nunca num bom lugar.
A vida crava os dentes da realidade no meu pescoço, nessas grossas veias onde correm sonhos re-sonhados... e suga tudo, me deixa sem nada de nádaras e lá vou eu re-re-sonhar.
Me equilibro na ponta dos pés à beira do poço, me sustento suspenso, me reafirmo, me faço firme, me contabilizo, eu me rezo, e apesar dos apesares cuido de mim. Muito. Principalmente para manter trabalhando essa força que eu gasto para me suportar, suportar os outros, e suspirar os meus-ideais-falidos-tão-lindos.


jc