15 de fev. de 2012

Drummond falando sobre escrever, em entrevista no ano de 1982.

"É necessário uma certa emoção que você ao mesmo tempo se entrega a ela e a controla, compreendeu? É um jogo assim, curioso, no meu caso particular, eu sinto isso, uma certa necessidade de escrever uma coisa que possa ser considerada verso. Eu não sei se aquilo vai continuar, eu terei um impulso suficiente para prosseguir? Ou se aquilo vai ser travado de repente. Às vezes uma pessoa bate na porta e me oferece uma xícara de café. Terrível. Às vezes você tá no ônibus, tá no táxi, e vem uma daquelas ideias que você considera maravilhosa, e você não tem um lápis, não tem um papel e aquilo voa toda vida e não aparece mais. 

Eu acho, ao contrário das teorias modernas, que a inspiração existe. Inspiração é o momento em que você sente um impulso, às vezes criando assim até uma espécie de elevação ligeira da temperatura, você se sente um pouco inflamado, um pouco quente, com vontade de fazer alguma coisa. Depois vem a razão, vem a análise, você vai fazer a frio o poema, já agora com a razão mais do que com o sentimento, mas sem abandonar nunca o sentimento. 

Agora, em geral, nunca sai perfeito da primeira vez. Você tem que ler aquilo, reler mostrar a um amigo, guardar para o dia seguinte, botar na gaveta. Às vezes é necessário até, botar três meses na gaveta ler depois e dizer "Fui eu que escrevi isso? Não é possível, tá muito ruim.""