Claro que me dá um puta medo de estar me transformando numa criatura intoxicada de palavras escritas — tenho visões futuras onde me vejo fechado num lugar com as parede cobertas de livros, quem sabe gatos, um som e mais nada. Meu coração tá ferido de amar errado, você me entende? (...)
...já não tenho a energia que tinha aos 20 pra enfrentar essas barras. Então,
não sei. Deixo o tempo rolar, arrasto uma psicoterapia, cuido da horta, do jardim,
evito ir ao centro da cidade — na espera meio boba de que pingue a última gota
que me faça arrumar as malas e ir embora pra qualquer lugar mais pro norte. Não
sei quando. Tento arrumar um esquema-de-segurança. Mas a minha desesperança, e
o meu cansaço, boicotam a cada dia esses planos. Sei lá. (...)
Cuide de você, não sofra sem necessidade, me queira bem. Te quero bem.
(CFA, carta a João Silvério Trevisan)