14 de nov. de 2012

Se toda aquela parte mais profunda começou com um texto, nada mais nobre, civilizado, sofrido, justo e injusto do que terminar com outro TEXTO. Poderia ser um texto feio ou amargo, que se deixasse levar pela dor ou falta de compreensão dos fatos, mas não, será bonito, forte... como o tempo que passamos juntas.


*"Posso ficar horas tentando te explicar. (...) Não são por essas coisas que não se ama. Não são por essas coisas que se ama. Essas são apenas as coisas sobre as quais conseguimos falar na nossa ânsia de ocupar a cabeça enquanto nos encaramos um pouco assustados.

A verdade é que, no meio da multidão, estamos carregando nossas malas pesadas de riquezas e belezas e sentimentos. E uma hora, só porque acontece e não se pode explicar sem parecer ingênuo e arrogante, escolhemos uma pessoa que nos leve. Eu sei que é amor porque eu te escolhi pra me levar (...)

Mas, no último segundo do sinal fechado, eu abri a janela do meu carro e joguei a mala com milhões de moedas de ouro. A mala não te atingiu, caiu meio metro antes do seu último passo. Nem o som do meu peito desmoronado, nem o cheiro do meu amor metalizado, nem a luz da minha devoção dourada. A mala espatifou no meio da avenida caótica pela chuva e pela véspera do feriado. Os famintos, os entediados, os pobre-ninguéns, os todos-os-outros, se engalfinharam pra tirar proveito do amor que, lançado ao homem sem mãos aparentes, agora ficou esparramado, exposto e restante no asfalto, como um resto de feira reluzente. ''*



Acho que não quero entender mais nada. Sei que você cansou de esperar por muitas coisas e é justo que vá viver a sua vida. Tudo é sempre justo não é? Não parece justo quando eu lembro das palavras que você dizia pra mim e que eu dizia pra você. Nem parece justo diante dos planos perdidos, e das imagens que sobraram no HD. Mas no fundo eu sei, é justo.

E eu que errei tanto e pensei tanto em terminar mas sempre soube que não queria isso. Esse eu, esse eu ficou aqui; Encerrado à força. Lágrimas a mais, quilos a menos. Lembranças, ruas que recuso a passar, lugares que me fazem sofrer. Buraco, desespero, Deus, Kardecismo, terapia, voluntariado. E os dias.

Não faço força pra matar o amor, ele foi tão imenso e bondoso que não merece ser apunhalado pela pressa de algo novo. A dor trouxe a fé, e o tempo trará o alívio nas formas que forem necessárias.

Nada mais é do tamanho do que eu quero dizer ou do que eu sinto. Não agora. Eu sinto o maior medo e a maior tristeza que já senti em toda a minha vida. Mas ainda tem amor; Claro, claro que depois ele precisa ser transformado em outra coisa. Mas ainda não é depois.

Penso em ligar de novo, conversar de novo. Mas te dou o respeito que você pediu. Respeito a sua vida mais leve, a sua escolha. Respeito porque é assim que você é feliz. Não? Parece que Sim. ...Assim, longe da minha falta de coragem. Perdoa. Lembra do meu pedaço bonito, lembra que é tudo seu. E que se um dia você quiser voltar, eu conto tudo. Contigo do meu lado eu conto tudo, te assumo. Não fiz a tempo, mas faria pra ter você de volta. Pra poder morder novamente a tua bochecha.



*''A tristeza é uma criança de rua com uma faca apontada pra falta de amor que o mundo ofereceu pra ela. (...) A tristeza é ter que comer um risoto caro, com amigos felizes, quando só se quer vomitar no banheiro de casa, sozinha. E triste.

Eu quero vomitar tudo. A água, a saliva, a língua, o seco da garganta, a amígdala, o apartamento de milhões de metros quadrados vazios que virou o meu peito. Quero vomitar minha pele, meus olhos, meu fígado, meus horários, minhas listas de vontades. Eu quero tudo fora, tudo fora. Eu quero eu fora. Eu quero ir pra fora de onde está tão devastado e de onde eu tinha pintado tudo de azul pra te ver sentado bem no centro. No centro do meu peito, você, com a luz azul da minha esperança.

(...) A tristeza é o amor ter acabado sem ter acabado. É não saber o que é amor e não saber o que é acabar e não saber o que é não acabar. A tristeza só sabe que é triste e todo o resto ela só tenta saber, mas fica louca e desiste."*



Eu te amo. Até não poder mais.







jc

[trechos marcados * : Tati Bernardi]