14 de dez. de 2008


Ela me olhava concentradíssima e dizia que viver era um jogo muito perigoso. Eu lhe sorria e batia levemente a porta às minhas costas. Estava naquela fase em que você vê vida em tudo. Tudo que esteja lá fora. Incluindo pessoas. Essas que não são você. Nem ao menos parecidas. Essas que você precisa encontrar desesperado aos sabados a noite.

Sabe, que hoje estava sentado aqui e tenho muito mais anos sobre os ombros agora. Então lembrei-me dela, da sua frase ameaçadora e doce. Todas as ameaças de amor são doces. Ou aparentam. Ela não está mais por aqui. Já não nos falamos, nem nos telefonamos, nem nos vemos, apesar de não estarmos tão longe, segundo o que indicam os mapas. (Se é que mapas realmente existem, sempre duvidei.) Hoje, enquanto sentia o gosto meio-amargo de um excelente livro, um daqueles que ela esqueceu aqui num dia qualquer, lembrei-me daquelas palavras, poucas, tão poucas que ecoam atraves dos anos.

Me falta de uma forma tão gigantesca aquele seu olhar concentradíssimo. E me falta porque viver é um jogo muito perigoso. Tenho medo de nunca mais me sentir cheio de coragem para andar alguns quarteirões e dizer-te que estavas certa. Receio contar-te o cheque-mate.








jc