30 de jun. de 2007




Queria ter coragem

Para falar deste segredo
Queria poder declarar ao mundo
Este amor
Não me falta vontade
Não me falta desejo
Você é minha vontade
Meu maior desejo
Queria poder gritar
Esta loucura saudável
Que é estar em teus braços
Perdido pelos teus beijos
Sentindo-me louco de desejo
Queria recitar versos
Cantar aos quatros ventos
As palavras que brotam
Você é a inspiração
Minha motivação
Queria falar dos sonhos
Dizer os meus secretos desejos
Que é largar tudo
Para viver com você
Este inconfesso desejo.









Carlos Drumond De Andrade
INCONFESSO DESEJO

29 de jun. de 2007


Dorme enquanto eu velo...
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho.
Quero-te para sonho,
Não para te amar.
A tua carne calma
É fria em meu querer.
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme. dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atento
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir.


Fernando Pessoa

Fragmentando


Hei d escrever-te um dia, amada minha,
Um poema tão louco, q t faça compreender-me d todo.
Dizes q me amas, porém achas Drummond um chato,
Minha rosa daninha, eis q sou um louco, amo esta espera angustiada.
Meu mundo depois d ti é um romance d ficção científica,
E eu q sempre odiei este gênero, eis um dos meus castigos.
Sou príncipe e princesa de um castelo distante q tu nem em sonhos imagina tamanha grandeza.
Mas, uma página adiante, sou apenas um bobo-da-corte a tua espera, amada minha.
Ñ vos deixeis cair em tentação, o mal tem milhões de faces, quase todas simpáticas,
Já eu, minha musa do séc. XXI, sou um antipático adorável,
Tenho na alma uma implicância compulsiva,
Meu medo ñ é a desordem nacional, nem os pecados como insiste aquele cara vestido de Papa,
Minhas razões ñ são mesquinhas, tenho medo é da hipocrisia dos Sistemas e das pessoas, minha adorada,
Acautelai-vos caríssima,
Estas vendo minha deusa mitológica, como misturo td,
Jamais há d entender-me.
Essa mistura q sou, d indignação moral e d amores sem recurso,
Este coração lendário que carrego, pesa-me às vezes tanto ...
A alma vive impregnada dessa vontade de ti,
Vontade q me afoga desejosa de amar-te noite adentro,
Ah se eu já soubesse Latim, musa dos meus delírios, q grande escritor eu seria,
Mas isso perde totalmente a importância qndo vejo seus braços estendidos na minha direção.
Ñ importam-me + minhas rasuras, nem minhas indagações político-religiosas,
Qnto egoísmo tu me fazes nutrir,
Sinta culpa, tu me fazes perder o senso.
E eu sem senso sou nada, um perdedor,
Perdedor perdido nos teus braços, sonhador eterno desse teu tesão alucinante,
As tuas muralhas me prendem,
Sou um louco d amor na tua masmorra d feitiços mil.
Esta masmorra em forma d lábios...
Ñ passo msm d um maluco alucinado, doidão, mto afim d t dar uns pegas,
Estas vendo amor, eu ñ sei ser moderninho, ñ me cai bem,
Meu jeitinho medieval é q t hipnotiza.
Meus poemas sem nexo, sem processo, ofensores da gramática,
Processual p mim é vc, q um dia , há d compreender meus poemas loucos,
Meu amor sem lógica prática, com nexo e sem sexo e com sexo ...
Adorável fada da minha ilusão comedida,
Perdoa-me ser tão confuso aos olhos escuros.
Enqnto a melodia prossegue assim, esperando tua chegada em meus aposentos reais,
Escreverei bravamente destemido.
Ñ me importo, c/ nada q esteja fora do castelo,
Só me comove o teu êxtase,
Opiniões alheias ñ me abalam.
Eu sou assim amada minha, mil perdões...
Sou um romântico irremediável,
Um ser deslocado neste mundo contemporâneo,
Sou um dramático às avessas.
Mas isso tmb ñ faz diferença,
Sou teu.
Princesinha pós-moderna,
Msm q eu redija os versos sem concordância,
Há d concordar q a amo.
Rebeldes e indóceis nós 2, mas incorruptíveis no amor.
Msm q nos esqueçamos à médio prazo,
Restará ainda um fiapo deste vôo,
Achas q faço humor? Ñ, minha flor abrupta.
Eu sou tão realista qnto romântico, e é isto q me mata.
Casamo-nos então sob as estrelas,
Eu qero q a civilização se foda meu anjo,
Ao diabo c/ a retórica e as convenções.
O mundo é cheio de conselheiros meu amor,
Mas no final, o problema é teu, sempre assim.
Suspiro, nem tesão d prosseguir tenho +,
Afinal tu ñ vai me entender ñ é?
Ñ pensa sonho meu, deixa q penso eu,
Faz a tua parte e corre pro meu subterfúgio,
Se joga do arranha-céu e cai na minha história vulgar puríssima.
Qem ama ñ esqece, isso é quase uma ameaça,
Se ñ ama, é condenado, manequim de propaganda, é fumaça.
Minha rosa daninha, amada minha, eterna adorada,
Sou bondoso, tu me faz mau,
Sou cruel, tu me faz bem.
Mas ainda hei d escrever-te, prometo, algo ao alcance da compreensão,
Te espero na província distante dos meus poemas,
Guarda p mim teu corpo, d resto já te tenho toda.
E me perdoa amor, os loucos d amor gostam d sofrer,
Sofrimento dá margem p escrever infinitamente,
Aguarde amor, se encherem o saco, fugiremos,
Meio promíscuo e cafona, mas bonito ñ é?
Vontade d chorar,
Qnto + t amo, + vôo, q agonia.
Ta vendo aqela estrela no céu?
É tua.


JC


Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.



E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo. Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó principes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.



Alvaro de Campos
Poema em Linha Reta