Mas no meio de tudo isso, sinto o tempo todo uma enorme vontade de ficar só e escrever, escrever, escrever.
Caio F. Abreu
27 de jun. de 2011
'Cada relacionamento entre duas pessoas é absolutamente único. Por isso você não pode amar duas pessoas da mesma maneira. Simplesmente não é possível. Você ama cada pessoa de modo diferente por ela ser quem ela é e pela especificidade do que ela recebe de você. E quanto mais vocês se conhecem, mais ricas são as cores desse relacionamento.'
W. P. Young.
Uma poesia ártica,
claro, é isso que eu desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.
Paulo Leminski
Só tenho passado, o presente é esta viscosidade e o futuro não existe. Ah, eu queria ter um objetivo na vida, uma coisa que sugasse todas as minhas forças, conduzisse todos os meus gestos e as minhas palavras. Não tenho nada, só este vazio. Tão grande que, frequentemente, duvido até dele próprio...
Caio F.
25 de jun. de 2011
23 de jun. de 2011
22 de jun. de 2011
Os pés incham, reclamando de andar por caminhos errados. As costas e os ombros doem, implorando pra se livrar de velhos pesos mortos que resisto a enterrar. A garganta seca, entalada de coisas a dizer, que sei, não direi. Jamais direi todas. As pontas dos dedos perdendo as digitais me mostrando que não venho sendo o que planejei ser. A cabeça dói, raiz de tudo. O joelho ruim, impacto demais. As costelas maltratadas por falta de abraços amigos.
Os braços estão bem, sempre mais fortes, porque é assim que tem que ser. O coração dispara as vezes, e as vezes reduz a marcha, um tanto perdido, metade pó, metade umidade. Os olhos descuidados, coitados, embaçam diante das letras agora, embaralham as palavras e me fazem piscar inúmeras vezes antes de retomar alguma leitura, sem contar que de longe já não distinguem quase nada.
São detalhes, coisas pequenas, nem todas permanecem assim o tempo todo. Melhoram, pioram, melhoram. A instabilidade reina, comanda o império de um corpo pequeno pra tanta alma, ou seja lá que nome isso tudo tenha. [jc]
"Eu digo
Calma alma minha
Calminha!
Você tem muito
Que aprender."
Que aprender."
[Zeca Baleiro]
A gente finge que arruma o guarda-roupa, arruma o quarto, arruma a bagunça. Tira aquele tanto de coisa que não serve, porque ocupar espaço com coisas velhas não dá. As coisas novas querem entrar, tanta coisa bonita nas lojas por aí. Mas a gente nunca tira tudo. Sempre as esconde aqui, esconde ali, finge para si mesmo que ainda serve. A gente sabe. Que tá curto, pequeno, apertado. É que a gente queria tanto. Tanto...
Caio F. Abreu
21 de jun. de 2011
20 de jun. de 2011
19 de jun. de 2011
18 de jun. de 2011
"Amor nenhum faz chamadas por telepatia. Amor não atende com hora marcada. Ele pode chegar antes do esperado e encontrar você numa fase galinha, sem disposição para relacionamentos sérios. Ele passa batido e você nem aí. Ou pode chegar tarde demais e encontrar você desiludido da vida, desconfiado, cheio de olheiras. O amor dá meia-volta, volver. Por que o amor nunca chega na hora certa. "
Martha Medeiros
"Invejo - mas não sei se invejo - aqueles de quem se pode escrever uma biografia, ou que podem escrever a própria. Nestas impressões sem nexo, nem desejo de nexo, narro indiferentemente a minha autobiografia sem factos, a minha história sem vida. São as minhas Confissões, e, se nelas nada digo, é que nada tenho que dizer. "
(Fernando Pessoa)
(Fernando Pessoa)
16 de jun. de 2011
Paraíso, jardim fechado, final de tarde,
Riscos coloridos no tom cáqui.
Fechei os olhos, virei de costas,
Fiquei na porta e não te vi.
Ainda arde
A gente parte, esquece os pontos
Engole os i's
Bem no fundo, além de tudo,
Foi dentro de mim que eu te perdi.
Ali fora o mundo, cinzento e sujo
Não traz respostas. Nem souvenirs.
Tiro no pé, pela culatra, tiro na água
E eu bem aqui
Oca, rouca, memória na boca,
Pouca, pouca, pouca.
Muito antes de adentrar no teu jardim eu cai.
Fraca, opaca, e a visão turva
Em linha reta numa curva
Espatifei.
Não te alcancei.
Nunca mais.
E ademais eu nem sei
Se são só desculpas ou se eu já tentei.
Se fiz de tudo
Ou antes do tudo já desisti.
Pior do que não te ver, eu não te ouvi.
jc
Riscos coloridos no tom cáqui.
Fechei os olhos, virei de costas,
Fiquei na porta e não te vi.
Ainda arde
A gente parte, esquece os pontos
Engole os i's
Bem no fundo, além de tudo,
Foi dentro de mim que eu te perdi.
Ali fora o mundo, cinzento e sujo
Não traz respostas. Nem souvenirs.
Tiro no pé, pela culatra, tiro na água
E eu bem aqui
Oca, rouca, memória na boca,
Pouca, pouca, pouca.
Muito antes de adentrar no teu jardim eu cai.
Fraca, opaca, e a visão turva
Em linha reta numa curva
Espatifei.
Não te alcancei.
Nunca mais.
E ademais eu nem sei
Se são só desculpas ou se eu já tentei.
Se fiz de tudo
Ou antes do tudo já desisti.
Pior do que não te ver, eu não te ouvi.
jc
15 de jun. de 2011
13 de jun. de 2011
Heavy Love.
E se eu te procurasse só pra gente brigar um pouco? Você promete que não briga comigo por isso? Promete que entende que é saudade demais e que foi o único jeito - desesperado - de matar a vontade de você por perto? Não. Eu aposto que não dá pra você prometer.
Iríamos nos enrolar no novelo de todo aquele passado outra vez, brigar por ele, brigar por eu querer brigar. Brigar por você também querer brigar mas não aprovar a idéia.
Então a gente poderia discutir, talvez até ir pra cama, dizer que ama e usar todas as mentiras sinceras que Cazuza já ousou cantar, e voltar ao ponto inicial; é, adivinha só... Você acha que dá pra sentir menos falta de mim assim? Não. Você vai dizer que não dá.
...Mas e se a gente combinasse de brigar mais vezes? Todo dia? Só conversar e discordar um pouco, só um pouquinho de cada vez, raspas e restos me interessam... Será que assim dá pra ser? Não, né? A gente desconfia que assim também não vai dar.
Mesmo assim eu queria.
Mesmo assim eu queria.
jc
12 de jun. de 2011
11 de jun. de 2011
9 de jun. de 2011
A destruição daquela expectativa girava atrás e diante dos meus olhos como um redemoinho.
Não sei exatamente se era no fundo dos meus olhos parados ou no centro da minha cabeça teimosa que tudo começou - de repente - a doer. Doer. Desandar. Ser arrastado num pé de vento;
Respirei o máximo que pude tentando desfazer o aperto dentro do meu peito.
Mas apenas concluí, ferida e mais fria do que eu realmente era ou pensava ser, que alimentar expectativas era como manter os olhos abertos no escuro.
jc
Não sei exatamente se era no fundo dos meus olhos parados ou no centro da minha cabeça teimosa que tudo começou - de repente - a doer. Doer. Desandar. Ser arrastado num pé de vento;
Respirei o máximo que pude tentando desfazer o aperto dentro do meu peito.
Mas apenas concluí, ferida e mais fria do que eu realmente era ou pensava ser, que alimentar expectativas era como manter os olhos abertos no escuro.
jc
8 de jun. de 2011
DIVAGAÇÕES DE UMA MARQUESA
(...)
Por cima a marquesa via o céu, um céu quase sempre rosado de sujeira, algumas estrelas à noite, poucas, vesgas; por baixo a rua, os carros que passavam, mas era desinteressante ver carros passando e pessoas tão pequenas que a marquesa não podia desvendar seus rostos, atribuir-lhes passados, desgraças e futuros, como antigamente. A marquesa gostava de pessoas? Achava que sim, quando estava sozinha achava ardentemente que sim, mesmo aquelas do bloco de edifícios na calçada oposta, que espiavam a sua vida por entre as frestas das persianas, como se ela andasse sempre nua. A marquesa também espiava a vida das pessoas do outro lado, mas espiava sem curiosidade de ver, um que outro rapaz saindo do banho, cabeça molhada, um homem beijando uma mulher, nunca ninguém se masturbando ou fazendo amor ou injetando algo na veia ou tentando o suicídio com navalha. Então a marquesa olhava desinteressada, procurava um resto de chá no fundo do bule ou se perdia em pequenas ações, como acender outro cigarro ou escovar cem vezes os cabelos ou lixar cuidadosamente as unhas.
(...)
A xícara bonita, com alguns pastores e florezinhas azuis — admirava sem emoção, indicador e polegar segurando firmes a asa, dedo mínimo suspenso no ar. "Se eu fosse uma personagem de romance antigo", pensava, "agora jogaria a xícara, ou melhor, a taça ao chão." O autor certamente saberia tirar algum efeito: a) dos cacos espalhados pelo assoalho, talvez um último raio de sol brincando
na coroa de flores da pastora; b) ou então faria com que ela olhasse fixamente para um quadro na parede: em algum lugar, numa praia deserta e distante, uma onda batia forte contra um rochedo, espalhando espuma em todas as direções; c) ou faria com que o marquês, devia haver um marquês qualquer naquela ou nesta história, entrasse de repente para possuí-la sobre tapetes persas, jogando as inúmeras saias sobre a baixela de prata; d) ou que enchesse sôfrega a seringa, procurando a veia, enquanto um rock tocasse na vitrola; e) ou apenas gritasse muito alto, durante muito tempo, até ficar rouca e muda, sem ninguém ouvir.
Qualquer coisa, a marquesa pediu, encolhendo-se contra a última parede da gaiola, qualquer coisa aqui, agora — antes do ponto final.
Caio F.
MERGULHO II
Na primeira noite, ele sonhou que o navio começara a afundar.
As pessoas corriam desorientadas de um lado para outro no tombadilho, sem lhe dar atenção. Finalmente conseguiu segurar o braço de um marinheiro e disse que não sabia nadar. O marinheiro olhou bem para ele antes de responder, sacudindo os ombros: "Ou você aprende ou morre".
Acordou quando a água chegava a seus tornozelos.
Na segunda noite, ele sonhou que o navio continuava afundando. As pessoas corriam de outro para um lado, e depois o braço, e depois o olhar, o marinheiro repetindo que ou ele aprendia a nadar ou morria. Quando a água alcançava quase a sua cintura, ele pensou que talvez pudesse aprender a nadar. Mas acordou antes de descobrir.
Na terceira noite, o navio afundou.
Caio F.
Afasta os cabelos da testa ampla com ambas as mãos e fixa os olhos na porta, vazios, medrosos, uma princesa no deserto, exilada de sua tribo, depois traça riscos nervosos nos braços da poltrona, descabelada, uma mulher das cavernas: escuta ávida o rumor da máquina decepando a grama além das janelas.
Caio F.
7 de jun. de 2011
Eu não gosto nunca de nada e gostei tanto de você. É? Droga. O quê? Eu falando de gostar. E daí? E daí que vai acontecer tudo de novo. O quê? Vou sentir demais, falar demais, escrever demais, você vai embora. Agora eu vou embora. E depois? Depois não sei. Tá. Eu ficaria, sério, eu ficaria muito, muito, muito. Eu sei. Mas agora eu vou. Então tira o dedo dai. Não consigo. Então não tira. Eu queria foder o dia inteiro com você. Eu queria foder a vida inteira com você. Você é exagerada. É só como dá pra ser.
Tati Bernardi.
6 de jun. de 2011
Você disse... t-u-d-o que eu queria dizer. Muitas vezes foi assim: eu poesia, você prática, com você eu gostava desse jeito, essa tua i-n-t-e-n-s-i-d-a-d-e.
E eu li aquilo pelo menos uma dúzia de vezes. E só conseguia pensar: Intenso. Intenso. Intenso. Intenso. In.
As músicas continuam tocando aqui. Tudo que eu posso manter eu mantenho, tudo. Inclusive o costume idem de abrir a janela.
Pensando bem, talvez nunca tenhamos sido tão francos e tão limpos quanto estamos sendo agora. Ainda que indiretamente.
Meio sem jeito e de longe talvez a gente esteja ficando próximos de uma maneira que nunca antes.
E eu li aquilo pelo menos uma dúzia de vezes. E só conseguia pensar: Intenso. Intenso. Intenso. Intenso. In.
As músicas continuam tocando aqui. Tudo que eu posso manter eu mantenho, tudo. Inclusive o costume idem de abrir a janela.
Pensando bem, talvez nunca tenhamos sido tão francos e tão limpos quanto estamos sendo agora. Ainda que indiretamente.
Meio sem jeito e de longe talvez a gente esteja ficando próximos de uma maneira que nunca antes.
jc
4 de jun. de 2011
- As pessoas acham que a alma gêmea é o encaixe perfeito, e é isso que todo mundo quer. Mas a verdadeira alma gêmea é um espelho, a pessoa que mostra tudo que está prendendo você, a pessoa que chama a sua atenção para você mesmo para que você possa mudar a sua vida. Uma verdadeira alma gêmea é provavelmente a pessoa mais importante que você vai conhecer, porque elas derrubam as suas paredes e te acordam com um tapa. Mas viver com uma alma gêmea para sempre? Não. Dói demais. As almas gêmeas só entram na sua vida para revelar a você uma outra camada de você mesmo, e depois vão embora. A missão (...) era acordar você (...) destroçar um pouquinho o seu ego. Mostrar pra você os seus obstáculos e vícios, despedaçar o seu coração para uma nova luz poder entrar, deixar você tão desesperada e fora de controlE que você fosse obrigada a transformar a sua vida (...) O problema é que você não consegue aceitar isso (...) Você parece um cachorro cheirando lixo, baby... fica lambendo uma lata vazia, tentando tirar mais comida lá de dentro. E, se você não tomar cuidado a lata vai ficar presa no seu focinho para sempre e tornar sua vida infeliz. Então largue isso. (...)
- Mas eu queria que eu e o (...)
- Está vendo, esse é o seu problema. Você quer coisas demais, baby. Parece uma galinha tentando quebrar o próprio ossinho da sorte.
Elizabeth Gilbert
in Comer Rezar Amar
3 de jun. de 2011
Que comece agora. E que seja permanente essa vontade de ir além daquilo que me espera. E que eu espero também. Uma vontade de ser. Àquela, que nasceu comigo e que me arrasta até a borda pra ver as flores que deixei de rastro pelo caminho. Que me dê cadência das atitudes na hora de agir. Que eu saiba puxar lá do fundo do baú, o jeito de sorrir pros nãos da vida. Que as perdas sejam medidas em milímetros e que todo ganho não possa ser medido por fita métrica nem contado em reais. Que minha bolsa esteja cheia de papéis coloridos e desenhados à giz de cera pelo anjo que mora comigo. Que as relações criadas sejam honestamente mantidas e seladas com abraços longos. Que eu possa também abrir espaço pra cultivar a todo instante as sementes do bem e da felicidade de quem não importa quem seja ou do mal que tenha feito para mim. Que a vida me ensine a amar cada vez mais, de um jeito mais leve. Que o respeito comigo mesma seja sempre obedecido com a paz de quem está se encontrando e se conhecendo com um coração maior. Um encontro com a vontade de paz e o desejo de viver.
Caio Fernando Abreu
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