28 de fev. de 2011

"Você compreende, compreende e compreende cada vez mais, e o que você vai compreendendo é cada vez mais atemorizante - então você "pira". "


Caio F. Abreu
(...) e temo que seja outra vez aquela coisa piedosa, faminta, as pequenas-esperanças.


[Caio F.]

27 de fev. de 2011

Será que vou ter que viver a vida inteira à espera de que o domingo passe? 




(Clarice Lispector)
Apesar das muitas conversas, 
pouca coisa fora dita. 
O essencial sempre ficara no fundo, 
esmagado pela superficialidade.


Caio Fernando Abreu 

25 de fev. de 2011

"Posso dar só meia volta por cima? Preguiça."


Tati Bernardi.



- Queria muito você aqui.


- Queria estar aí. (...) O que a gente iria fazer?


- A gente ia se apaixonar mais.



- É. A gente ia.


 "O bom de ficar velho é que dá uma preguiça de sofrer."


Tati Berbardi

22 de fev. de 2011

Não se digere amor, não se cospe amor, amor é o engasgo que a gente disfarça sorrindo de dor.




Tati Bernardi.
Se quando casar passa eu tô na merda.


Tati Bernardi.
“Todas as manhãs ela deixa os sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver. Todas as manhãs ela caminha vagarosamente para pegar o ônibus que a levará para lugar nenhum, para ver ninguém E todas as manhãs ela imagina como serão as tardes, ja sabendo a resposta, finge ser feliz assim todas as manhãs E todas as manhãs ela espera pela noite, ela espera assim arduamente para voltar para seu quarto, e ser triste. É quando ela sente que esta assim completa. Completamente triste, mas completa. E quando ela tira a roupa e põe todo o seu corpo em baixo das cobertas quentes e sente que começa a sonhar, é quando ela sorri . Assim pra ninguém. Mas pra ela mesma. E viver vale a pena."




C. Lispector
"Se pudesse comer o universo para o despejar na pia, comia-o."


Fernando Pessoa

21 de fev. de 2011

Não é fossa. Fossa dá idéia de uma coisa subjetiva e narcisista. São motivos bem concretos, que inclusive transcendem o plano pessoal.


Caio Fernando Abreu 

19 de fev. de 2011

Quando a gente se abre mais, o outro vê fundo. E o fundo é quase sempre escuro e assusta.


Caio Fernando Abreu
Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje é já outro dia. Chorei.




Caio Fernando Abreu 

17 de fev. de 2011

 No meio do caminho tinha um coração de pedra.


Tati Bernardi 

Normal não me serve, não encaixa, não acalma.

Tati Bernardi 

Cada pensamento é um demônio, um inferno.




Sylvia Plath.

15 de fev. de 2011

Suas mãos estavam cheias apenas de perplexidade, não de ódio.

Caio F.
...mas porque havia todo um processo de despir-se de conceitos anteriores, de barreiras e resistências, para poder compreender. Isso levava horas. Levava horas o despir-se.




Caio F.
Guardou vários dias o perfume dos cabelos dele nos pêlos do próprio braço. Como um adolescente. Agora só vê um braço deserto, a pulseira preta do relógio sublinhando a zona do pulso. A parede em frente cheia de fotografias. Arranca todas, vai picando em pedaços cada vez e cada vez menores. Solta devagar no cesto de lixo. Guarda um entre os dedos. Espia. Num fundo indeciso, resta um olho a observá-lo. Azul.




Caio F.
Chegara à constatação de que era só, Único, e que devia bastar-se a si mesmo, e justamente por isso precisava de uma outra pessoa. Os grãos de areia nunca se tocam. Mesmo quando juntos há entre eles uma espécie de carapaça que não os deixa tocarem se. Jamais um núcleo toca outro núcleo.




Caio F.
...sentir os espinhos rasgando carne, 
as pedras entrando no corpo, 
o rosto espatifado contra o fim desconhecido. 


Caio F.
Eu não procurei, não insisti. Contive tudo dentro de mim até que houvesse um movimento qualquer de aceitação. Quando houve, cedi. A sua cabeça pesava no meu braço. Ele estava bêbado? Estava cansado? Eu era apenas um braço onde ele debruçava a sua exaustão? Ele se indagava se eu o recebia como receberia qualquer cansaço humano ou sabia que eu estava tenso, na espreita, dilacerado? 




Caio F.
Olha em torno, o vazio do olhar fundindo-se com o vazio da sala. As pessoas, máscaras penduradas em corpos, o colorido das roupas gritando alto como se pudesse emprestar alguma individualidade ao que não era sequer sombra.




Caio F.
Examina o relógio, mas não vê as horas, não vê nada. Seu pensamento lateja preso numa imagem determinada. Quase não pode projetá-la para fora de si, concretizá-la em visão. E o vê abrindo lento a porta,investigando em tomo, de repente erguendo as sobrancelhas num gesto de quem reconhece.




Caio F.
Levantamos os olhos, nos encaramos tensos, quase em ódio, quase em amor, naquela repressão à beira de alguma coisa que poderia conduzit a qualquer gesto, mesmo ao homicídio. Mas sorrimos, e foi depois que tudo quebrou. Jamais voltamos à entrega mesma de antes e à ausência de solicitações e à aceitação sem barreiras. Foi de um de nós que partiu a morte, ou ela já nascia involuntária como a madrugada por trás dos vidros?




Caio F.
Ah houvesse um jeito de dormir completamente só, sem a companhia sequer de si mesma. Não havia. 




Caio F.

11 de fev. de 2011

'Perdoo tudo por preguiça de carregar peso.' 

(Ziris)
"O amor não resolve nada. O amor é uma coisa pessoal, e alimenta-se do respeito mútuo. Mas isto não transcende o colectivo. Levamos já dois mil anos dizendo-nos isso de amar-nos uns aos outros. E serviu de alguma coisa? Poderíamos mudá-lo por respeitar-nos uns aos outros, para ver se assim tem mais eficácia. Porque o amor não é suficiente."


José Saramago
"A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve de tolerar ter. Porque, quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa passe durante o tempo governando a idéia e o sentir da gente; o que isso era falta de soberania, e farta bobice, e fato é." 


Guimarães Rosa
"Fiquei encantado: ele era uma pessoa larga. 
Largueza, para mim, é qualidade muito importante nas pessoas."



Caio F.
"Amar é ter um pássaro pousado no dedo.
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,
a qualquer momento, ele pode voar.”



Rubem Alves
'PACIÊNCIA: o intervalo entre a semente e a flor.'





Ana Jácomo
Além desta enfermaria afetiva, tem outras. Posso desabafar?"



(Caio F. em carta para Jacqueline Cantore, 05-06.01.91, 

Caio Fernado Abreu - Cartas, organizado por Italo Moriconi, p. 198)
O tempo que passa e leva de arrasto (...)


Caio F.
"(...)E eu fico muito comigo mesmo nisso tudo — cada vez mais sufocado, mais necessitado que pinte um VERDADEIRO ENCONTRO com outra pessoa, seja em que termos for. Parece que ou eu ou os outros não somos mais tão disponíveis. Será que estou fechando, perdendo a curiosidade? Eu não sei.(...)"


Caio F.


Todas as tentativas estão atropeladas. Quando chegamos no ponto, o ponto certo, nosso ponto, chegada, partida, começo, meio e happy end, o ônibus já tinha sumido longe, o trem já tinha virado maria-fumaça, o barco mal se via, ficou só estrada, trilho e mar, vazios.
E que vazio! Ficamos ali olhando tudo, eu daqui, você dali. Se a pressa é inimiga da perfeição a lentidão mandou lembranças também.
Eu mentia pra fugir, você fugia pra mentir, a ordem dos fatores não altera o produto.
Nuvens negras anunciam chuva e continuamos parados com nossas mochilas, nossos pesos, nossas culpas, nosso passado empacotadíssimo. E quem tá na chuva é pra se molhar - ou tomar raio.
Não nos falamos, não vamos embora, não nos aproximamos nem um passo a mais; E agora? A que horas tudo muda? E muda?


jc

10 de fev. de 2011

(...) Solidão, melancolia, angústia, fossa, depressão - tudo ficava infinitamente inferior àquela espera enorme.


Caio Fernando Abreu 
"Cada um que conviva com sua própria irrealização."


Martha Medeiros
... permanecerei totalmente consciente, resoluta, enquanto cortam e costuram e podam meus órgãos malignos queridos.


Sylvia Plath 

De repente a gente se encontra numa esquina, num outro planeta, no meio duma festa ou duma fossa, a gente se encontra, tenho certeza.


Caio Fernando Abreu 

Sexo é talento.


Fabrício Carpinejar
"Eu quero o mapa das nuvens e um barco bem vagaroso." 

(Mário Quintana)
"Até hoje não diferencio os cogumelos venenosos dos sadios. Como descobrir o que mata sem morrer um pouco por vez?"

(Fabrício Carpinejar)
"Quando deitava, a lua ainda não tinha vindo; quando acordava, já fora embora. Carregava pesada e magoada uma lua vista apenas por dentro. Que amava a lua? Obsessiva, voltava à pedra. Talvez descobrindo que lhe entrara no sapato. Por que não jogá-la longe de vez?"

Caio F.
“Eu preciso de alguém para refletir comigo se estou caduco, louco, ou se o mundo está ficando esquisito”


Chico Buarque

1 de fev. de 2011

Eu não faço a menor idéia de como esperar você me querer. Porque se eu esperar, talvez eu não te queira mais. Eu não queria ir embora e esperar o dia seguinte porque cansei dessa gente que manda ter mais calma. E me diz que sempre tem outro dia. E me diz que eu não posso esperar nada de ninguém. E me diz que eu preciso de uma camisa de força. Se você puder sofrer comigo a loucura que é estar vivo, se você puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar o outro, se você puder esquecer a camisa de força e me enroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum equilibrio. Se você puder ser alguém de quem se espera algo, afinal, é uma grande mentira viver sozinho, permita-se. Eu só queria alguém pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos.

Tati Bernardi
– Não quero ir sozinho — disse. – Vem comigo.
– Mas não irás sozinho, embora eu não vá contigo.



Caio F.
Mas não é verdade que nunca tivesses suspeitado desta tarde e desta fome: não é verdade que por um momento sequer tivesses tentado fugir à tua trágica determinação: não é verdade que alguma vez tivesses sequer pensado numa possibilidade de salvação: sabias desde o começo da consistência ácida do que tecias, e no entanto persistias nela, como quem penetra num beco sem saída, caminhando pela estreita dimensão que sabias desde sempre intransponível: sim, tu sabias deste momento a construir-se desde o começo, e não fizeste nenhuma tentativa de evitá-lo: agora é necessário que enfrentes: embora talvez não soubesses do depois deste momento que se faz agora e portanto não possas estar preparado para o próximo momento: mas deste sabes: tudo se encaminhou para ele, e já não podes fazer mais nada, a não ser enfrentá-lo: tens ainda no peito a chama que te consumia nessas noites paradas de verão: tens ainda o que convencionaste chamar força: tens ainda todas as partículas de tua determinação: tens ainda a tua integridade, embora saibas que ela pode te destruir: pois então toma dessa fibra que a si mesma se construiu em solidão sob teu olhar espantado e impassível: toma dessa fibra feita de algo tão denso quanto o ódio: toma do teu ódio: e agora enfrenta.




Caio F.
O AFOGADO 
[...]
V

— mas o que chamas de paz se pressinto em ti essa coisa mansa que se faz nos outros e em cada momento que te olho inúmeras coisas escuras escorrem dentro de mim pois se a paz não é uma coisa escura pois senão não continuarei não te farei nenhuma pergunta embora precisasse não para te definir ou para te compreender não preciso saber de onde vens assim como para me definires ou me compreenderes não precisas de nenhum dado concreto mas eu não te defino nem te compreendo apenas sei que chegaste e que esta tua chegada modificará em mim todas as coisas que se tornaram suaves todas as cordialidades ou amenida des que construí nesse tempo de absoluta sede ansiava por ti como quem anseia pela salvação ou pela perdição porque qualquer coisa poderia me salvar desta imobilidade que me devasta por dentro te direi apenas para sobreviver mas já não quero sobreviver já não quero apenas ir adiante é preciso que qualquer coisa abata esta letargia porque já não admiro precariedades por que não sei o que digo nem o que sinto mas persistirei no que pressinto ainda que tudo isso seja um lento processo de morte um enveredar em direção ao mais terrível vejo em ti o meu roteiro de agonia além disso nada sei mas não fujo foram muito poucas as coisas que vivi percebo que não cheguei a existir exatamente mas não sou forte apenas construí de minhas fraquezas essa coisa que talvez chamasses força há muito tempo eu permanecia esquecido de mim mesmo foi preciso que chegasses para eu perceber que somente destruindo se pode construir agora eu quero a destruição que me propões mas não propões nada deixas que eu enverede sozinho é assim sei que não me deixarás sozinho sei que te recusas a te definires em palavras não por que eu me atemorizasse mas por que as palavras não te dizem te mos muito pouco tempo nesse pouco tempo é preciso que todos percebam em ti o que nunca viram e somente no último momento possam ver a tua face essa face terrível que todos suspeitam terrível mas eu reivindico a posse desse terrível porque me sei capaz de suportá-lo não falta muito tempo agradeço por me teres dado a consciência da minha inutilidade mas eu de nada sei nada conheço do que falo mesmo assim estou pronto embora sem compreender inteiramente sim semearemos a fome e a discórdia semearemos o que eles não seriam capazes de viver se não chegasses não me esquivarei vejo a tua mão estendida em direção a mim e estendo a minha própria mão e minha mão e tua mão se tocam e a minha espera e a tua conduz sim preparo-me para o grande mergulho no desconhecido:

— antes que tentes aviso já te disse tudo não sou nada além de meu nome meu nome é minha essência mais profunda assim como a tua talvez seja a que vivas no momento talvez nada sejas além destas paredes descascadas destes móveis poucos esta bacia de louça naquele canto mas não te julgo pelo que vejo em ti externamente não julgo a ninguém nem a mim mesmo vim duma coisa que ainda não conheces vim duma coisa enorme da es curidão e de luz mais absolutas que possas imaginar a um só tempo vim duma coisa sem medo mas não sabes que trago em mim o princípio e o fim de todas as coisas sabes por ventura que te farei meu cúmplice e despertarei teu ódio esse ódio calado que consome as vísceras por que de todos és o único que sabes da absoluta inutilida de de todas as coisas e sa bes dessa vontade incon tida de ser maior que todas essas coisas sabes dessa vontade amarga no peito de cada um e esquecida duran te a trivialidade sabes de tudo isso e por saberes é que te escolhi te digo que o acaso não existe e que aconteci no momento exato em que não suportavas mais embora não soubesses da tua exaustão é preciso que as coisas se intercalem exatamente como está sen do feito esses momentos de luz aparentemente banais é preciso essa linearidade para que subterraneamente escorra um fluxo intenso e te digo que subitamente os homens enlouquecerão e perpetrarão o que ja mais seriam capazes de perpetrar te digo dessa loucura tão próxima te digo da proximidade de tua própria destruição e sei que não temes porque eu não te escolheria se não soubesse embora saiba que temerás no momento exato e que mais tarde julgarás que foste fraco mas eu te digo ainda que todas as coisas estão sendo feitas e que não podes fugir delas porque a partir do momento em que alguém é escolhido faz-se necessário assumir essa escolha os temores não serão infundados nem mesmo esses obscuros pressentimen tos que te assaltam é preciso que alguém faça penditar a ordem das coisas por que essa ordem permane cena inabalável se não houvesse a minha chegada pois quem provou do ódio desejará provar coisas cada vez mais intensas e o mais intenso que o ódio só pode ser essa região sombria à qual os homens deram um nome mas esses de nada sabem mesmo tu de nada sabes eu vim dessa região para semear a fome e a discórdia e não preciso te convencer de nada quero apenas que te deixes conduzir toma a minha mão e vê como ela é leve toma da minha mão e pensa nos lugares para onde te levarei nesta noite de quase dezembro e agora prepara-te para o grande mergulho no desconhecido:
[...]


Caio F.
descobria no mesmo instante que o medo era matéria de sobrevivência, como o eram todas as coisas, mesmo as esperas frustradas e as inúmeras sedes e os espantos e pequenas descobertas que em si nada significam mas que juntas formavam lentamente camadas superpostas e densas demais, sim, as densidades insuspeitadas e as estrelas cadentes e a queda de estrelas e a cadência dos passos todas as manhãs a aspirar a maresia e atravessar a praça e muitas coisas e todas as coisas




Caio F.
tens ainda o que convencionaste chamar força: tens ainda todas as partículas de tua determinação: tens ainda a tua integridade, embora saibas que ela pode te destruir: pois então toma dessa fibra que a si mesma se construiu em solidão sob teu olhar espantado e impassível: toma dessa fibra feita de algo tão denso quanto o ódio: tomado teu ódio: e agora enfrenta.


Caio F.
Que doía. Depois de muito tempo. Um ponto doía, inacessível.


Caio F.
[...] era a marca de um homem bom, embora incógnito. Não se permitia excentricidades, e por excentricidades abrangia uma série infindável de atitudes, desde dividir a cachaça do entardecer no bar dos pescadores, mostrar a si mesmo ou evidenciar carências. Alguns, talvez, o julgassem orgulhoso. Era. Carregava com alguma dificuldade uma aceitação tão grande e silenciosa, tão absurda no seu quase mutismo e absoluta desnecessidade de comunicá-la ou demonstrá-la, sobretudo tão óbvia, lhe parecia, que parecia também que nenhuma daquelas pessoas seria capaz de compreendê-lo, da mesma forma como não compreenderiam a sua própria e pesada, intransferível, indivisível carga.




Caio F.
Não havia necessidade de palavras 
para expressar o que brilhava com suficiente intensidade 
nos braços cruzados em expectativa.   


[Caio F.]