24 de jan. de 2012


- Porra! – gritou.
Amaranta, que começava a colocar a roupa no báu, pensou que ela tinha sido picada por um escorpião.
- Onde está? – perguntou alarmada.
- O quê?
- O animal! – esclareceu Amaranta.
Ursula pôs o dedo no coração.
- Aqui – disse.

Gabriel Garcia Márquez, in “Cem Anos De Solidão”

Coisa bem diferente teria sido a vida para ambos se tivessem sabido a tempo que era mais fácil contornar as grandes catástrofes matrimoniais do que as misérias minúsculas de cada dia. Mas se alguma coisa haviam aprendido juntos era que a sabedoria nos chega quando já não serve para nada.
- Gabriel Garcia Marquez in “O Amor no Tempo do Cólera”

Acabou pensando nele como jamais imaginara que se pudesse pensar em alguém, pressentindo-o onde não estava, desejando-o onde não podia estar, acordando de súbito com a sensação física de que ele a contemplava na escuridão enquanto ela dormia, de maneira que na tarde em que sentiu seus passos resolutos no tapete de folhas amarelas da pracinha custou a crer que não fosse outro embuste da sua fantasia.
Gabriel Garcia Marquez in “O Amor no Tempo do Cólera”

Chamo-lhe amor para simplificar. Há palavras assim, que se dizem como calmantes. Palavras usadas em série para nos impedir de pensar. O que existia, existe, entre nós, é uma ciência do desaparecimento. Comecei a desaparecer no dia em que os meus olhos se afundaram nos teus.
Inês Pedrosa in “Fazes-me Falta”

Passei a vida inteira a querer interpretar-te – oh! delicioso desperdício! – e nem sequer era por amor.
Inês Pedrosa in “Fazes-me Falta”

A arte é uma maneira de ser dentro da vida. Há outras… É uma maneira de se vingar da vida. Assim como se você procurasse atingir o bem negativamente, esgotando todos os caminhos do mal. É preciso ter pulso, é preciso ter estômago.
Fernando Sabino in “0 Encontro Marcado”

Nesses momentos, abraçados, falavam de si, revelando-se mutuamente, se experimentavam, maravilhados, descobriam pontos de contato, afinidades insuspeitadas. Recompunham o mundo à sua maneira, tentavam um entendimento completo além das palavras.
Fernando Sabino in “0 Encontro Marcado”

Vontade de dormir, de desistir, fugir, sair correndo, esquecer aquele suplício. Medo. Os outros também se sentiriam assim, fragilizados pela emoção, sucumbidos pela espera?
Fernando Sabino in “0 Encontro Marcado”

Daí sua conduta, aberta numa dualidade irremediável: de um lado o que ele queria ser e de outro o que ele realmente era. Agora, por exemplo, estava apenas no que realmente era, a ponto de nem saber direito o que queria ser. Onde estivesse aquilo que buscava, e o que quer que fosse, o certo é que tomara o caminho mais longo.
Fernando Sabino in “Encontro Marcado”

A sua conversa era encantadora e cheia de espírito. Conseguiu mesmo fazer-me rir, o que eu precisava. O meu riso estava todo dentro de mim à espera duma ocasião para sair.
Charles Bukowski in “Mulheres”

Há qualquer coisa dentro de mim que me magoa.

Charles Bukowski in “Mulheres”


Devia tê-la agarrado? Como podia um homem saber o que devia fazer? Geralmente, pensei, é melhor esperar se sentimos algo pela pessoa. Se não se gosta dela, o melhor é fodê-la logo; se não, é melhor esperar, fodê-la e depois odiá-la.
Charles Bukowski in “Mulheres”
Não tenho talento para escrever sobre o bonito. Poucos tem. Jamais escrevi nada que alcançasse este amor. Pura questão de altitude; Por isso este trecho também acaba triste. Coisas bonitas implicam em esforço, em esticar-se todo. São tão raras que só conseguimos vive-las, há um tremendo medo de perder tempo descrevendo-as.



jc

As pessoas deviam ser leais umas com as outras, mesmo que não fossem casadas. Em certa medida, a confiança devia ser mais profunda, porque não era santificada pela lei.
Charles Bukowski in “Mulheres”

Quero ouvir música rouca, ver rostos, roçar-me em corpos, beber um Benedictine ardente. Belas mulheres e homens atraentes provocam desejos em mim. Quero dançar. Quero drogas. Quero conhecer pessoas perversas, ser íntima delas. Nunca olho para rostos inocentes. Quero morder a vida e ser despedaçada por ela. Henry não me dá tudo isso. Eu despertei o seu amor. Maldito seja o seu amor. Ele sabe foder como ninguém, mas eu quero mais que isso.
Eu vou para o inferno, para o inferno, para o inferno.
Selvagem, selvagem, selvagem.


- Anais Nin
(...) Que necessidade profunda dele. Só quando estou em seus braços as coisas parecem direitas. Depois de uma hora com ele, pude continuar o meu dia, fazendo coisas que não quero fazer, vendo pessoas que não me interessam.


- Anais Nin

(...) Perguntam-me muitas vezes o que penso acerca de Simone de Beauvoir, o que penso acerca de The Golden Notebook, e é-me sempre difícil responder. Não os considero livros enriquecedores, porque me repetem incessantemente como as coisas estão, mas nunca me mostram como posso mudá-las. Logo, quando Simone de Beauvoir escreve um livro acerca do envelhecimento, ela está a curvar-se à idade cronológica e a dizer que em determinada altura ficamos velhos. Mas nós às vezes ficamos velhos aos vinte anos. A idade é outra coisa que temos de transcender e de encarar com outra atitude. Não é cronológica. E penso o mesmo em relação à descrição de coisas tal como elas são, sem uma abertura que nos diga para onde podemos ir a partir dali ou como podemos transcendê-las, que encontro naqueles que chamo os escritores enriquecedores. É por isso que, quando não estou apaixonada por escritores, digo sempre que posso respeitar as suas ideias, mas que não me dão o sentimento que me empurra para a vida.
- Anais Nin -

A vida de todos os dias não me interessa. Procuro apenas os momentos elevados. Estou de acordo com os surrealistas quanto à procura do maravilhoso.
Quero ser uma escritora que lembre aos outros que estes momentos existem. Quero provar que existe um espaço infinito, um sentido infinito para as coisas, uma dimensão infinita.
Mas não estou naquilo que se pode chamar de estado de graça. Tenho dias de iluminação e febre. Há dias em que a música para na minha cabeça. Então remendo peúgas, limpo árvores, apanho frutos, dou brilho ao mobiliário, mas enquanto faço isto sinto que não vivo.
- Anais Nin

O verdadeiro infiel é aquele que só faz amor com uma fração de ti. E nega o resto.
- Anais Nin
"Não vemos as coisas como são: 
vemos as coisas como somos."




Anais Nin

DEVE CHAMAR TRISTEZA

Deve chamar-se tristeza 
Isto que não sei que seja 
Que me inquieta sem surpresa 
Saudade que não deseja. 
Sim, tristeza - mas aquela 
Que nasce de conhecer 
Que ao longe está uma estrela 
E ao perto está não a Ter. 

Seja o que for, é o que tenho. 
Tudo mais é tudo só. 
E eu deixo ir o pó que apanho 
De entre as mãos ricas de pó.

Fernando Pessoa


‎"Sempre nos pedem para compreender o ponto de vista
do próximo não importa quão antiquado tolo ou obnóxio.

pedem para enxergar com bondade

todos os seus erros suas vidas desperdiçadas,
principalmente se eles são velhos.
Mas envelhecer é tudo que nós fazemos.
Eles envelheceram mal porque
viveram fora de foco, eles se recusaram a entender.
Não é culpa deles? é culpa de quem? minha?
Me pedem para esconder deles meu ponto de vista
por medo de seus medos.
Envelhecer não é crime
mas a vergonha de uma 
vida deliberadamente desperdiçada entre tantas
vidas deliberadamente desperdiçadas é."


-Charles Bukowski
-The Last Night of the Earth Poems (1992)

Amar, nunca me coube

Mas sempre transbordou
O rio de lembranças
Que um dia me afogou

E nesta correnteza
Fiquei a navegar
Embora, com certeza,
Não possa me salvar

Amar nunca me trouxe
Completo esquecimento
Mas antes me somou
Ao antigo tormento

E assim, cada vez mais,
Me prendo neste nó
E cada grito meu
Parece ser maior







Mario Quintana

19 de jan. de 2012


16 de jan. de 2012


‎"A vida podia ser apenas estar sentado na erva,


segurar um malmequer e não lhe arrancar as pétalas,


por serem já sabidas as respostas,

ou por serem estas de tão pouca importância,

que descobri-las não valeria a vida de uma flor."








[Saramago]

12 de jan. de 2012

Tudo envolve você. Meu mundo te abraça, a minha crise te enlaça, o teu jeito embaraça...nossos cabelos cada vez mais. Te envolver na coberta, te devolver a calma, tentar não te prender. Aprender. De domingo a domingo a saudade insiste, mas a história merece... paciência infinita. Então que seja. Doce. Grudados, intensos, brigando abraçados em pensamentos. Te tocar de novo vale o preço todo que estamos pagando. Te lembrar enquanto respirar, como na música gravada naquela tua camiseta que dorme comigo. Perder sono, ganhar promessas lindas. Sentir dor e chorar junto na hora de partir por mais uma estação. Esperar que a distância acabe, que o sofá seja grande, que o chalé pequenino comporte tanto coração. O meu, o teu, o do cachorro (lá vem plural) e o do filho(a), que já tem nome, etc e tal. Tudo te envolve... e me aperta, no teu abraço grande. Amigo, abrigo, amante. Um beijo de manhã e a vida, encaixa, me puxa, te puxa pra mim, não quero saber de nenhuma lei da física ali. A gente casa e você faz a horta ...e eu prometo que escrevo tudo aqui. Eu quero eternizar nós dois. Retrato gigante. Me envolve, me dissolve em beijo. E deixa pra lá o meu ciúme, aquela briga, a tua falta de percepção. A gente resolve, passa por cima, vai ser sempre assim. Te amo mais. Que tudo.



jc

11 de jan. de 2012

‎"São Paulo
5:03 da manhã sinto a ferrugem,
telefone continua calado.
Chego em casa tomo meu wisky 
e alimento mais a minha solidão
O gosto amargo insiste em permanecer no meu corpo
Corpo...corpo...está nú...
Gelado com o peito ardendo, gritando por socorro, 
prestes a cair do 14º andar...
A sacada é curta, o grito é inevitável...
Eu vou acordar o vizinho, eu vou riscar os corpos, 
eu vou te telefonar...
E dizer que eu só preciso dormir..."







(Ira)
Tá bem, nós todos 
Vivemos a perigo 
Mas meus males são os piores 
Acontecem comigo

(Millôr Fernandes)

10 de jan. de 2012

Firme e piadista por fora… mas assustadíssima e carentíssima por dentro.




[Tati Bernardi]
Tem uma coisa que parece fome e que faz a gente sair pras ruas. Animais eretos e perfumados. Camadas de cabelos, camadas de roupas, camadas de saltos, camadas de não. Tudo resguardando uma ânsia que nunca fica clara se é de colocar pra dentro ou se é de colocar pra fora. Dai a gente pede salada e fica cheia. Dai a gente bebe e fica esvaziada. E nada disso tem a ver com essa fome. Dai a gente segura firme o braço de uma pessoa. Troncos alheios e descartáveis para não afundar no mar gelado e escuro dos raros momentos em que a solidão parece o caminho mais difícil.
Mas no meio de tantas tentativas frustrantes de abrir com uma ponta fina de faca o peito coberto de mentira, existem ainda esses momentos em que o oxigênio entra tão branco e gelado e de longe, que notamos, não sem saudade, quão fétida, frágil, medíocre e quente é a nossa falsa segurança. Tenho agora um pêlo na garganta, me fazendo tossir e achar graça. Estou rindo e tossindo desde as nove da manhã. Não tenho vontade de cuspir o pêlo, de tomar banho, de separar os nós do meu cabelo, de tirar o disco do Caetano. Porque minha preguiça suja, a voz do Caetano e o ar que ainda guarda bem de leve o seu cheiro são os segundos finais do nosso encontro.
É por pessoas como você que eu não troco a tristeza da minha vida por nada.


Tati Bernardi
Você chega todo compacto no espaço que lhe foi dado. Anda calmo, fala calmo, olha calmo, separa com seus dedos calmos a comida e a comida chega na sua língua antes da sua língua chegar na comida. Mas da sua pele saltam fúria, pressa e violência. Seus braços não ultrapassam os ombros, seus joelhos não ultrapassam os passos, você não cogita se ultrapassar porque sabe do que é capaz de causar quieto, num canto, quase atormentado.


Tati Bernardi
Hoje não, martelo. Um dia sem repensar cem vezes todas as coisas que ainda nem pensei. Hoje eu quero me perder nos lábios rosas e nos olhos azuis, todos muito claros e inchados e cheios de três pontinhos, da menina...


Tati Bernardi
Não me sonhe, por favor. (...) Eu e minhas crises de ansiedade somos seres solitários, arrogantes e multiplicados por megalomanias. São mil vezes cem anos de análise e nada. (...) O problema é que eu quase sempre sou muito mais engraçada e rápida e semi genial que eles. (...) Sou imatura, egocêntrica e debilmente iludida por uma auto-estima analgésica de efeito rebote. E dane-se. (...)

[Tati Bernardi]
Você é meu personagem favorito. O dono de todos os meus textos, de todas as minhas histórias. O dono da curvinha das minhas costas. E eu tenho que dizer isso agora, só pra uma foto numa rede social. Porque você morreu na minha vida. Você pediu demissão, seu cargo era o de presidente, era membro honorário do conselho, tinha tapete vermelho e eu me vestiria até de secretária se te agradasse. E você pediu demissão, sem aviso prévio nem nada. Me diz agora? Como viver bem? Como sobreviver, sem essa ponta de angustia? Eu sou feliz, cara. Eu sou feliz demais. Mas eu sou infeliz demais, quando penso em você. Quando penso no que poderia ser, no que poderia ter sido. Eu sei que não dá. Eu nem quero que dê. Não quero mais. Mas não sei o que fazer com esse nó. Vai passar né? Eu sei. Com o tempo eu não vou mais olhar sua foto, nem sofrer, nem pensar o quanto é infeliz tudo o que aconteceu. Tomara que passe logo. Porque a vontade de te ressuscitar às vezes, me domina.

Tati Bernardi.

5 de jan. de 2012

Penso em você. E nunca pensei tão intensamente em minha vida. Desde o nosso último encontro, tudo o que sou se dividiu em dois. Escrevo de um modo que jamais achei possível. Minha caneta arranha a superfície das coisas. As máscaras. E então, tudo vai além disso, ao âmago, na profundeza das sombras, até a substância fria medular. (...) Toco o fundo de minha alma e meus poemas se escrevem sozinhos. Sou como você disse, cru, sangue, vida. E eu também quero estar vivo. 

Garcia Lorca em carta para Salvador Dalí, em "Poucas Cinzas"