26 de dez. de 2008


Escreve pra mim uma carta daquelas coloridas,
perfumadas e com lacinho. Escreve?
Não, nem precisa ser hoje não.
Em algumas dessas vidas que ainda vamos viver.
Tenho milhões de anos na alma.
Neles todos eu fui aprendendo a arte irremediável
de ...esperar.






jc

25 de dez. de 2008


Para quê? Para quando? E onde? Eu não sei.











jc

24 de dez. de 2008


Te manda daqui coração. Que o meu peito tá muito estreitinho. Que o meu corpo já não abriga mais tantas histórias. Que a minha mente tem tédio de ti. Te manda daqui pedaço de um pedaço meu. Ali, bem perto, ali tem uma janela, vê se pula e larga de mim. Vai catar outro otário pra te manter vivo. Me deixa! Explode. Some com a lua. Vc e ela são coisas perigosas demais. Descobri. Eu quero paz. Te manda daqui!















jc

O que vc quer aqui? Tira essa luz da minha cara seu babaca. Vai comemorar as tuas misérias lá bem longe. Não me tórre a paciência e o bom senso. Tu me dá nojo. Amor de merda.













jc

Não me olha assim que eu não gosto. Não me olha assim como se eu fosse um quadro triste em exposição. Não me olha! Não me olha! Quem acha que um quadro triste é só mais um quadro triste deveria ser proibido de parar no corredor que passa por aqui.









jc

Que coisas eram essas que cresciam sem controle?
Feias e perversas. Desesperançadas.
Que coisas eram essas que pareciam realidade em 3D ?











jc

Eu tinha que lhe dizer tantas coisas. Mas já não havia em mim uma noção de qual seria o melhor momento. Ou, se, existiria mesmo este melhor momento. Melhor não. Tenho muitas coisas para arrumar por aqui. Parece que não toco em nada nesta casa há anos. Não que houvesse pó, era apenas falta. Falta de vida nesses objetos todos. Falta de sons. Falta de cor e movimento. Andando de lá para cá eu pensava no que diria se realmente começasse a dizer. Mas intercalavam-se momentos de não querer dizer mais nada. Deixaria que passassem natais, invernos, carnavais. Porque tudo, tudo passava. A vida sempre se movia fora de mim. Dentro é que eu não sabia se havia tráfego, buzinas, combustiveis. Não era muito provável. O que havia era um engarrafamento de muitos kilometros, uma cena em pause. Sem gritos ou reclames. Haviam tambem muitos envelopes nas gavetas. Ali eu dizia. Dizia sempre. Mas gavetas, óbvio, são coisas feitas para permanecerem fechadas.





jc

“Ele chorou um pouco. Era um belo homem, com barba por fazer e abatidíssimo. Via-se que havia fracassado. Como todos nós. Ele me perguntou se podia ler para mim um poema. Eu disse que queria ouvir. Ele abriu uma sacola, tirou de dentro um caderno grosso, pôs-se a rir, ao abrir as folhas. Então leu o poema. Era simplesmente uma beleza. Misturava palavrões com as maiores delicadezas. Oh Cláudio – tinha eu vontade de gritar – nós todos somos fracassados, nós todos vamos morrer um dia! Quem? Mas quem pode dizer com sinceridade que se realizou na vida? O sucesso é uma mentira”.






Clarice Lispector

"Não tenho vergonha de dizer que estou triste, Não dessa tristeza ignominiosa dos que, em vez de se matarem, fazem poemas: Estou triste por que vocês são burros e feios E não morrem nunca..."






Mário Quintana

"Verdade, eu tinha qualquer coisa assim como andar de costas, quando todos andam de frente. Qualquer coisa como gritar quando todos calam. Qualquer coisa que ofendia os outros, que não era a mesma deles e fazia com que me olhassem vermelhos, os dentes rasgando as coisas, eu doía neles como se fosse ácido, espinho, caco de vidro”.





Caio F. Abreu

"Se eu pudesse dar-lhe uma idéia do meu sentimento de solidão! Nem entre os vivos nem entre os mortos, não tenho alguém de quem me sinta próximo. Não se pode descrever como é aterrorizador; e apenas o treino em suportar esse sentimento e o caráter progressivo de sua evolução desde a tenra infância permitem-me compreender que não tenha sido totalmente aniquilado por ele."









Trecho de uma carta ao amigo Overbeck
(Cf. MARTON, 1991: 75-6).
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Nietzsche

16 de dez. de 2008


-Tão tarde já tu não achas?
-Talvez.
Olhávamos pela janela. Alguem um dia me disse que a janela te liberta mais do que a porta. É. Já tenho certeza. Nem comentei. Acho, hoje, que deveria. Deveria ter dito isso para ele.
Mas o fato é que olhávamos por janelas diferentes e tínhamos nas mãos apenas telefones. Não havia naquela relação um desejo sequer que fosse palpável. Ja experimentou isso? Viver, viver, e não tocar em nada? Patético. Suspirei apenas.
-Vamos dormir querido, colocar os sonhos no lugar dos sonhos.













jc

15 de dez. de 2008


Confesso . . .
hoje eu não sei dizer, não sei falar, não sei confessar
e preciso tanto.







jc

Vou-me hoje para muito além
Como se foram um dia os meus sonhos todos
E vou-me mais certo do que nunca
De que deveria ter partido antes eu
Os sonhos, depois.







jc

"Devia haver no inferno o círculo social, aparentemente o mais suportável de todos, mas só na aparência. Homens e mulheres com roupa de festa, andando de um lado para outro, falando, andando, falando, exaustos e sem poder descansar numa cadeira, bêbados de sono e sem poder dormir, os olhos abertos, a boca aberta, sorrindo, sorrindo, sorrindo...O círculo dos superficiais, dos tolos engravatados, embotinados, condenados a ouvir e a dizer besteiras por toda a eternidade."






Lygia Fagundes Telles

"...Quem me detesta tanto assim
para me atacar ate em sonho?
quis saber e nesse instante
vi minha imagem refletida no espelho."













Lygia Fagundes Telles


"Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas."










Lygia Fagundes Telles

14 de dez. de 2008


"Sou composta por urgências:
minhas alegrias são intensas;
minhas tristezas, absolutas.
Me entupo de ausências, me esvazio de excessos.
Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos."





Clarice Lispector

- Moça, outro café com leite, por favor.
Um aceno com a cabeça.
- Obrigada.
Um sorriso cauteloso.
Leio mais umas páginas, é apenas terça-feira e há silencio no ambiente, passei a gostar das terças-feiras como nunca.
Paro, um tanto desconcentrado. Observo. A "moça" tem o olhar mais perdido que já avistei. Como se tivesse caído da lua. Uma inquietude legitima de quem tem aquela dor nas costas do tombo lunar. Sim, isso mesmo.
- Moça.
Nada.
- Moça, psiu.
- Sim?
- A conta.
- Claro, um minuto.
Passaram-se uns seis minutos talvez. Vi a "moça" ao telefone, vi seus olhos vermelhos e sua rapidez no gesto de secar uma lágrima inoportuna para o horário.
Em outro dia da semana, ou se não estivesse tão observador, poderia te-la feito perder o emprego. Seis minutos para somar alguns míseros digitos sao uma eternidade. Mas não.
- Aqui, sua conta.
- Que horas você sai?
- Como?
- Não me entenda mau, posso esperar ali fora?
- Eu... não sei, é que...
- Tem medo de um leitor solitário?
- Tudo bem, em meia hora.
- Ok
Paguei, saí, sentei-me do outro lado da rua. Era uma noite com muita neblina. Algumas páginas depois ela sentou-se ao meu lado.
- Você é sempre contida?
- Sempre.
- Silenciosa?
- Sempre.
- Não posso ajudar. Sou um estranho que chamou você para sentar em meio a neblina. Deve estar me achando maluco até. Só queria lher dar este livro.
- Um livro pra mim? Porque? Não entendo o que...
Faço um gesto suave para que silencie.
- Aceite. Não há mal algum.
Lágrimas, sem contenção desta vez.
- Há algo no livro - eu disse, secando delicadamente uma de suas lágrimas - que poderá me devolver dentro de duas semanas, na terça-feira, se não o quiseres.
Duas semanas depois voltei lá. Não a vi. Voltei mais algumas semanas. Não a vi. Desisti.
Era assim, que as pessoas perdiam seus corações. Os outros nunca, nunca, em momento algum da história humana, os devolviam. Porém, quantas vidas salvamos quando os damos sem arrependimento?





jc

Ela me olhava concentradíssima e dizia que viver era um jogo muito perigoso. Eu lhe sorria e batia levemente a porta às minhas costas. Estava naquela fase em que você vê vida em tudo. Tudo que esteja lá fora. Incluindo pessoas. Essas que não são você. Nem ao menos parecidas. Essas que você precisa encontrar desesperado aos sabados a noite.

Sabe, que hoje estava sentado aqui e tenho muito mais anos sobre os ombros agora. Então lembrei-me dela, da sua frase ameaçadora e doce. Todas as ameaças de amor são doces. Ou aparentam. Ela não está mais por aqui. Já não nos falamos, nem nos telefonamos, nem nos vemos, apesar de não estarmos tão longe, segundo o que indicam os mapas. (Se é que mapas realmente existem, sempre duvidei.) Hoje, enquanto sentia o gosto meio-amargo de um excelente livro, um daqueles que ela esqueceu aqui num dia qualquer, lembrei-me daquelas palavras, poucas, tão poucas que ecoam atraves dos anos.

Me falta de uma forma tão gigantesca aquele seu olhar concentradíssimo. E me falta porque viver é um jogo muito perigoso. Tenho medo de nunca mais me sentir cheio de coragem para andar alguns quarteirões e dizer-te que estavas certa. Receio contar-te o cheque-mate.








jc

Sem duvida a decisão de ir até aquele lugar foi acertada. Não que eu fosse encontrar você por lá. Essa chance era de uma em dez milhões. Mas havia coisas em mim, coisas, que eu precisava deixar onde fui buscar. Talvez, indo pela ultima vez ate la, onde tudo começou, eu pudesse apagar todo percurso. Não do coração. Mas da mente. Dessa parte da mente muito muito ativa. Perdoe a força tamanha com a qual desejo isto. Eu derrubaria dez mil muralhas com ela.









jc

9 de dez. de 2008


Você acorda, vive o dia que parece muito maior do que aquelas 24 horas, então você dorme, precisa se encher de alguma coisa boa. Estufar, explodir de sonhos, engravidar de ilusões. E certamente acorda denovo porque ainda tem fé e compromisso. Não porque você tenha mais do que isso.













jc

6 de dez. de 2008


Sentamos-nos no telhado. Devoramos um pacote de biscoitos. Devoramos também um pôr-do-sol lá em MG. E um banho de chuva lá em SC. E não quero usar outra palavra que não seja esta: devorar. Devoramos a lua. Devoramos segredos que nem pareciam ser segredos. Devoramos estrelas. Éramos iguais nessa fome por coisas pequeninas. Éramos iguais quando sentávamos no telhado para cuspir frases sobre a vida e sobre a não-vida mais frases ainda. Nós éramos duas imagens completamente diferentes, mas tão iguas sobre os telhados. Tão iguais quando estávamos mais perto do céu, e não porque o céu era o céu, mas porque éramos amigos ali. Dali devorávamos o universo, esse que fica acima das nossas cabeças tão cheias de vento. Por falar em vento, ela gostava de vento, eu me lembro bem, dizia que parecia trilha de filme de suspense. Eu me limitava a sorrir, não apenas por tambem gostar do vento e completar mais uma de nossas afinidades, mas porque mesmo se não gostasse eu acharia bonito ouvir. Ouvir a voz, ouvir o vento. Voz e vento misturados, virando utopias inesqueciveis. Teriam sido mais pacotes de biscoito se houvesse mais tempo. Tempo, tempo para estar ao lado é uma coisa que a gente quase não tinha - só ela vai entender essa frase - mas se tivéssemos . . . Faltariam telhados.







jc

5 de dez. de 2008


"Tudo aos poucos vira dia
e a vida - ah, a vida - pode
ser medo e mel
quando você se entrega e vê,
mesmo de longe."








CFA

4 de dez. de 2008


Que horas eram? E porque? Em que momento vc decidiu tudo? Num metrô, na estação, na depilação, no hotel, tomando um chá, no trabalho, vendo televisão. Quando? O que houve com vc? Encheu o saco? Desencantou? Arranhou paredes? Comprou passagens? Londres, Paris, Buenos Aires, Lisboa, Além-de-mim? Ok. Esquece as perguntas anteriores todas. Além-de-mim é a resposta total.









jc

Já lhe disse o quanto gosto do modo como vc movimenta os lábios? Não? O sorriso com formato de lua crescente. As caretas lindas. Não? Ei, não te ouço, fala mais alto? Quê?
Sim querida, a ausência quando se materializa é um monólogo, eu sei.













jc

Tinha palavras que vinham assim correndo. Atiravam-se em meus braços e imploravam por vida. As vezes eu podia. Outras vezes as matava. Não que eu fosse mau. É que a vida delas fazia carnaval em mim. E havia dias em que eu não era mais do que uma quarta-feira de cinzas antecipada.





jc

3 de dez. de 2008


Atravessei a rua com sorte. Muita sorte eu diria pois não olhei para lado algum. Eu pensava nele. Na verdade eu recordava que já atravessamos juntos ali muitas e muitas vezes. E que hoje não era mais risonho passar por ali. Não era mais engraçado se os carros me molhavam num dia chuvoso. Penso então que essas desgraças pequenas não são nada quando a gente tem alguem ao lado. Porque ter alguem ao lado é ter um sol. Se chover muito um arco-íris. Se fizer muito calor uma sombra e assim por diante. Penso que quando atravessamos a rua sozinhos tudo só é o que é. E quando a vida é só o que é meu amigo, dá vontade de ser atropelado.

















jc

2 de dez. de 2008


Deus, eu sei que tu me ouves. A madrugada inteira ficou me cutucando, muito espaço para a saudade se estender. Levantei incomodada, arrumei os lençóis, abri a porta da varanda, tentei dormir, mas era impossível. Deus, minha cama é muito grande, e não tem ninguém aqui para ocupar tanto espaço, o que fica espalhado são pedaços de passado e expectativas de futuro. Só um lado da cama acorda desfeito, e não o meu, porque tenho deitado imóvel: são minhas mãos sonolentas e esperançosas buscando algum vestígio, agarrando-se ao que não há. Deus, só diminua a minha cama para que nenhuma lembrança vá querer dormir comigo. E só quando der ou se puder, alguém para dormir e caminhar junto.











Cáh Morandi

É que agora – aqui dentro – a casa foi ficando meio empoeirada, como se toda essa mobília sentimental não tivesse sendo mais usada, a janela foi deixada aberta e tanto vento foi passando, levando as cores dos retratos e deixando o pó como ressarcimento.Aqui em casa não tem mais conforto, tudo virou incômodo, e às vezes nem em casa eu me sinto. Não tem mais abraço, não tem mais teto para pintar de sonhos toda a noite, nem tapete colorido para deitar no domingo. Tudo daqui foi sumindo, não tem mais ninguém nessa casa, só um eco se espalha quando eu volto e os passos ficam rangendo o assoalho, e fica uma sensação estranha de ver cinza onde tudo foi festa e euforia. Na porta de entrada eu sempre pedia um beijo, até que um dia o beijo foi de despedida.







Cáh Morandi

Me enchi de uma coragem que até então eu desconhecia, a suportei, não tremi, não gelei, nada, absolutamente nada, nem minha voz, nem ela que é tão delicada e doce como se ainda fosse uma criança, desafinou ou tropeçou:
- Amor, tu me ama?
Ele demorou, talvez mais do que eu pudesse ter suportado, era tempo de eu ter vivido e renascido centenas de vezes. Então por um momento, algo gelou, algo deu de voar para longe, e esse algo era uma espécie de esperança e medo, ainda não respondidos:
- Te amo, mas enfim que já é tão tarde...
Depois eu fui desmoronando, até entender que o amor era algo diferente de mim. Que o amor não tem a mesma urgência, a mesma crença e gana que eu tenho de me sentir viva, ou de apenas sentir.





1 de dez. de 2008


As coisas andam muito ruins por lá - ele me disse. -Relaxa meu bem - eu respondi pra ele com aquela cara desinteressada que a gente sempre faz sem querer. Então ele me olha, me olha muito, por um tempo grande demais e aquele olhar começa me perturbar. Ele me olha indignado.

Me dou conta então, desaprendi o interesse cênico que une os povos.

Você é tão fria - ele me disse - depois de tanto me olhar. Fez menção de levantar-se para ir embora, rapidamente pedi - fica. Sentou vagarosamente como quem volta pra uma relação sem ter certeza, vagarosamente. -Minha vida é um inferno - eu disse à ele. Olhou me confuso e sorriu desajeitado.

Então olhei para ele muito tempo e pensei ' vai embora menino, hoje e sempre faz frio aqui, aqui e em qualquer lugar da galáxia ' . Mas o que eu realmente verbalizei, visto que não queria feri-lo com as verdades do mundo foi: - Adoro essa musica. A previsão é de sol para amanhã você viu?

Eu precisava tanto evitar que ele descobrisse esse Ninguem-Por-Ninguem, esse ultimo grito da moda, essa nojeira. Talvez eu tenha conseguido, por alguns dias ao menos. Não sei.











jc

27 de nov. de 2008


O bar dos deprimidos disse um amigo meu. Devolvo um sorriso honesto. Isolo-me denovo a observar esse vai e vem bobo das ruas. Eu sei, é verão novamente. Já contei como o verão me deprime? Não a estação em si, mas o que ela nos rouba. Falo de nós, os esquisitos de plantão. O verão chega e parece nos arrancar o direito de sofrer, sofrer trancado em casa, com livros e vinhos, cd's anos 80, comida instantanea e toda a parafernalia que nos ressussita enfim. Chega assim invadindo e nos tira a solidão macia do inverno. Divertimento vira obrigação e é bom vc estar disposto a sorrir sempre, do contrario terá sem duvida alguem pra te falar o quanto o dia está lindo e tudo que vc deveria fazer. Chatíssimo. Chatíssimo o verão. Chatíssimo eu. Uma buzina ensurdecedora e acordo do meu semi-transe. Estou ainda ali vivendo o verão. Esbarrando em corpos suados e muitos biquinis. Sim, pq as almas só voltam depois do carnaval sabia? Pois é. Estou nauseado. Maldito vai e vem né, fazer o que. Quase amanhecendo, mais do que hora de ir pra casa. Vou correr. Tenho pressa de fechar as cortinas e colocar o ar-condicionado pra gelar, talvez congelar, idéias.

















jc

26 de nov. de 2008


Não sei se ainda faz algum sentido te contar que as luzes da cidade morrem devagar. Que os amores morrem devagar. Que as insinuações nascem devagar. Que o gozo é um carinho que nasce devagar e muito antes. Te contar que tudo nasce e morre devagar. Menos você e eu e todos eles ali que passam, tá vendo? Quer saber, não valeu a pena te contar. Esquece esse vazio que essas coisas todas dão. Vem, vamos pra casa.






jc

E O Vento Levou...
Lobão
Composição: Lobão - Tavinho Paes


Remoendo vícios
Dei de cara com você
Lembrança de hospício
De loucura e de prazer
Jogo da memória
Tua imagem se formou
Veio o vento e te levou!
Saudade de cisne
Um romance tão barato
Um de nós comia
E o outro cuspia no prato
Sem ressentimento, em silêncio digo adeus
Meu destino te esqueceu!
Sangra e sai de mim, não quero teu amor
Solidão não tem depois!
A mágoa já sumiu, tudo se acabou
Veio o vento e te levou!
Lembro a tua cara quando a gente terminou
Narciso ferido, teu espelho se quebrou
Cínica vanguarda, teu amor de marcha-a-ré
Disse adeus e deu no pé
Coração de bruxa. uma pele de maçã
Sexo de luxo, possuído por satã
Louca de desejo, você me fascinou
No inferno eu fiz amor.

23 de nov. de 2008


Eu quero ligar. Eu quero ligar e dizer que sinto saudades.
Dizer que sinto muito. Que não era pra ter sido assim. Mas não. Cumpro o ciclo. Pijama. Escova de dentes. Abajur. Cama. Inexistente emocional. Obsoleto.







jc

Uma carta embaixo da porta. Você ainda é capaz de imaginar a alegria de ver uma carta embaixo da porta? Nada de caixinhas de correio. Nada de mensagens eletronicas. Nem ligações. Uma carta perfumada. Um pedaço de alguem embaixo da sua porta. Porque não fiquei para sempre naqueles anos tão distantes? Não vou, não posso, não quero me adaptar ao século XXI. Mayday !!!!!













jc



Quero acabar com tudo. Vontade de esvaziar as gavetas. Tacar fogo em todos os papéis. Sair pela janela de manhã. Dar um nome sempre novo, sempre falso. Viver tantos em um só para não morrer nunca. Não morrer assim como morro as vezes quando sou só eu saindo pela porta da frente, voltando pela porta também da frente. Cansei do WELLCOME no tapete. Limpar os pés pra entrar. Tudo tão correto. Quero deixar pegadas sem registro. Digitais sem desenho. Não quero ser lembrado. Não quero ser chorado. Não quero ser uma saudade. Dor sem ferida. Melodia sem pause. Eu quero ser uma alucinação. E abraço sempre as pessoas como se elas fossem uma alucinação. Fica tudo confortável assim.







jc


tristeza.
mas uma tristeza tão dentro que nem dói.
só permanece.













jc

21 de nov. de 2008


Ohh Deus eu fechei aquela porta por conforto. Sete chaves em busca de paz. Deus eu nem sei porque estou falando com Você. Talvez Você nem esteja olhando pela minha janela está noite. Quantas janelas esse mundo tem. Se não me ouvir agora fica no vento o meu registro. Secretária eletrônica celestial, espero que já exista por lá. Oh Deus as pessoas te chamam porque acham ainda loucura falar sozinhas. Mas e se eu não quiser te dar um nome. Se eu não fizer igual a todos eles e não decorar os mandamentos. Se as orações forem improvisadas no caminho, medrósas e comuns, angustiadas por um ombro amigo, ou simplesmente alegres e agradecidas como uma canção. Será que me ouves mesmo assim? Deus, eu estou sozinho em casa e não quero atender a porta hoje. Rebeldia minha, quero ver se estás mesmo em todos os lugares como dizem. Sozinho em casa então? Não. Não, porque brilham estrelas e sopra o vento e abrem-se flores, quebram-se ondas, amam-se os bichos, passam os rios, movem-se o sol e a lua em espetáculo. Sim Tu existes para mim também. Questionadora minha conversa Contigo eu sei. Oro tão diferente é fato. Mas amo cada grão de poeira e cada pólem. Por isto não me podem julgar os que Te dão um único nome, melhores do que eu não são pois eu Te vejo vivo, vivo em todas as coisas e eles talvez não, piores também não são, dão-Lhe menos trabalho certamente. É só por agora, vou ali sonhar pecados mas eu volto. Sei que isso não é problema. Em pecados sou igualzinho ao mundo todo.















jc

20 de nov. de 2008


Tenho saudade de muita gente. Gente que eu li e que me leu também. Gente que precisou seguir porque a vida é assim. Eu invento moda. Tendência pra não seguir tendência nenhuma. Marco horários. Desmarco. Na vida as coisas acontecem já desacontecendo e isso que é lindo. Lindo porque te faz chorar numa sexta a tardinha enquanto a manicure te conta uma história triste que te lembra algo seu. Enfim. Foi lindo um dia. Não foi? Tenho amigos tão especiais que me abraçam sempre com aquele jeito ímpar. Em quantos abraços eu morri de amor e é tão bom. Próximo ao dia 10 vc abre a sua conta telêfonica e encontra tantos DDD's à pagar, já não são grátis os abraços de antes mas enfim, vc ainda morre de amores e tá tudo compensado. Gosto de tagarelar entrelinhas; Aquelas coisas que vc não precisa contar por inteiro porque a outra pessoa completa pra vc, se for uma alma especial, é claro. De gente não-especial tô tão cansada e me calo sempre. São tantas caras e bocas todos os dias, ser uma flor da porta pra fora todos os dias enquanto a Rita Lee grita na sua cabeça
'-Erva Venenosa ê ê ê' ...
Me sento a noite e escrevo sempre para alguém, é bom escrever para alguem, mesmo desconhecido. Eu sou uma palavra-mágica-sem-dono porque ainda não sei se prefiro as fadas ou admiro as bruxas. Sempre detestei gente que repara em tudo, repara e comenta. Eu prefiro as canetas sabe. Sou chata sim, muito chata, convencida e adoro reclamar, alias, adoro não, eu amo. Mas eu tenho um humor apuradíssimo e isso me permite reclamar e continuar amável. Falei que eu era convencida... Que nada. Eu sou é feliz. Me fiz feliz. Desculpe se eu deixo de ligar ou não deixo recado tipo um "táiiis bouuuaa amouurr?" eu sofro com isso mas eu gosto de vc viu, só que a vida segue para todas as direções e eu já entendi isso. Nem sempre sobra forças pra gente se rasgar em mil bilhetinhos. Já se tem que ser tão forte pra guardar as pessoas quietinhas aqui dentro né? Hoje acordei pensando amanhã, não por comando, só uma curiosodade quase infantil, linda, no ontem eu não penso por respeito mesmo, sabe como é? Quero deixar tudo original, porque quando a gente pensa e lembra e fala demais ele se perde, muda todo, vira bobagem. Não que eu não me lembre das tardes de verão no quintal quando demorava demais pra anoitecer por causa do sol e por causa das pessoas que brincavam comigo ali. Eu me lembro. Só não quero turvar, desgastar, nublar de invenções. Vivo os hoje's lutando para não me distrair com essas mentiras modernas, lutando pra que eu seja sempre de verdade, e vc também, vc que eu deixo chegar perto de mim e analiso tanto antes.
É a vida. Prefiro lenta. Observo, sinto o gosto, o cheiro.
Minha-engrenagem-corações-mãos-manivelas-pormenores.











jc

Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais. Mocidade é isso aí, sabia? Sabe nada.















cfa

"E para sempre então, agora, me sinto uma bolha opaca de sabão, supensa ali no centro da sala do apartamento, à espera de que entre um vento súbito pela janela aberta para levá-la dali, essa bolha estúpida, ou que alguém espete nela um alfinete, para que de repente estoure nesse ar azulado que mais parece o interior de um aquário e desapareça sem deixar marcas. "









Caio F Abreu

"porque há o momento do irremediável
como existem os momentos anteriores
de passar adiante em silêncio
tentando tirar o espinho da carne..."











CFA

16 de nov. de 2008


A cabeça dói ! A vida me dói !
O que não dói é a morte. Parece paz.
Uma prece pelo caminho à tardinha.
O que estou
dizendo
é que quero que vc morra em mim.









jc

12 de nov. de 2008


Tenho noites tão sós. Dias. Semanas. Ultimamente mêses. Sós e felizes de serem sós. Inabalávelmente sós. Nem campainhas, nem telefones, nem festas no andar superior ou ao lado ou na frente do meu nariz transformam esse tipo de solidão. Solidão com paz é uma sobremesa perfeita pra mim nesses tempos em que não me sei. São tempos em que não me vejo refletido em vidro algum. Tempos em que minha sóbra não passa de um desenho infantil móvel. Tenho mãos de alisar lençóis, colocar flores na água, mudar de canal. Tenho pés de girar cirandas, ciradinhas repetidíssimas em torno de fotos. Tenho olhos que não me trasmitem. Silêncios que explicam mau, não mau por falta de coêrencia, mas mau por falta de quem os queira compreender. Ninguem quer. Hoje ou amanhã ninguem mais quer entender. Eles não se sabem porque iam querer me saber. Exercicio tão tolo. Exercicio para pessoas como eu. Que passam épocas se procurando assim entre os móveis da casa. Entre os quadros do Louvre. Entre as buzinas do mundo. Entre as estátuetas do parque. As folhas secas de todos os anos. Todos parecem cansados disso. Não desejam mais SER. Eu desejo. Gosto de SER. De me procurar mesmo que nem sempre encontre. Mesmo que bata em paredes, em póstes, em porta-retratos, em cabides, em porões e sotãos de mim. Mesmo que eu já não seja. Gosto de mapear. Rodovia só. Avenida só. Róta de colisão da sala até o quarto. Vice e versa. BUMMMM em mim !!!!!!!
jc

"(...) inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar uma das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal, que acontecia também com outras pessoas e que iria passar."













Caio F. Abreu

Deus, por quanto tempo ei de esperar!!!!!!!!???
Foi assim, aos bérros, que eu descobri a vida. Que eu descobri o coquetel mortal que ela é.
Lento, sujo, contaminado.
Foi assim que eu descobri que temos todos uma péle doentia. Que sente clara a vida triste.
Que observamos com olhos de maldade as alegrias mansas.
Foi assim que eu vivi todos os drinques,
os motéis, as malas, os postos de gasolina,
os vômitos nas beiras-de-estrada,
amores devidamente vomitados, beijos vomitados,
sorrisos vomitados, vomitadas tambem as saudades por uma questão de sobrevivência.
Eu sou triste porque vomitei todas as minhas estrelas.
Porque todas as covardias de todos os guetos do mundo difamaram a vida em mim.
jc

11 de nov. de 2008


Afogo-me em venenos meus. Intimos.
Homicídas sem sucesso. Eles me suicidam.









jc

Lhe ouço chamar. Revirando em pesadelos, passeio, outras éras. Acordo num susto, o corpo queimando em suores frios, contraditório como tudo que é intenso. Pela janela observo raios e trovões, anjos caindo. E nada cai do céu o povo diz em auto tom. Mas cai sim. Cai. Só vc que eu não vejo voltar. O abajur desenha uma sombra na parede à minha frente. Não vejo sombra alguma, vejo vc. Linda, perfeita, com sono, cabelos desalinhados. Pede-me para esperar-te e corre devolta até o quarto. Volta ainda mais linda, não entendo como pode ser possivel. Não que tivesse penteado os cabelos, ou trocado a camisola de seda preta curta sensual inesquecivel. Volta com um bilhete nas mãos. Não um bilhetinho azul como o que Cazuza cantou. Um bilhetinho vermelho. Intenso. Envolto num laço de cor palha. Delicadissimo porém marcante, assim como tu. Me entregas e pedes para que eu leia em casa somente. Atendo teu pedido. Atenderia todos eles por todas as vidas. Beijo-te em despedida e tu me perguntas se não posso mesmo ficar, respondo um triste e suave Não. Pelo qual até hoje me lastimo feito criança boba. Leio. Sorrio. Sorrio diante de tuas juras, teus planos, tuas promessas, tua felicidade. Sorrio pleno. Sorrio diante da ultima linha do bilhete tambem. Escrita em rabiscos amáveis apressados doces. Um código tão nosso. Cheio de amor, de entrega, de esperança. Nada disso eu sonhei, foi tudo real demais. Guardo ainda o bilhetinho vermelho. Guardo ainda sua imagem em perfeição. Emoldurada na memória. Blindada. Eternizada. Tão feliz tão triste recordação. Saudade é contráditório sim. Passau-se muito tempo e até hoje não compreendo onde erramos. O que é um erro. O que exatamente nos afastou assim. Mas tambem não lamento. São todas boas as lembranças. Me guardas tenho certeza. Te guardo tanto quanto, tenha certeza. Olho a janela outra vez. Ainda chove. Desligo o abajur. Deito-me. Pego o controle remoto em cima da cabeceira. Preciso de uma música baixinha para afastar da cabeça sua voz, sussuros, gemidos. Qualquer música do mundo menos aquelas. Seleciono outro genêro. Ecoa um trovão lá fora. Avisando-me que de vez enquando tudo isso irá voltar. Mas assim como vem tambem irá cessar. Repetidamente. Largo sobre o lençol o controle. O controle que auxilia no controle de mim. Adormeço pouco depois. Mas não demora muito faz-se hora de amanhecer. Amanheces em mim. Quietinha. Durante o dia tu não gritas. Silenciamos. Prosseguimos. Invadimos outras vidas. Duplamente contraditóras. No que acreditar?











jc