26 de fev. de 2008



Eu não quero falar

Não quero estragar

Não quero simplificar...

Me deixa dormir aí perto

Que eu te explico...

19 de fev. de 2008


Mas um dia destes,
com ou sem cabeça,
com ou sem coração,
vou conseguir acordar
sem pensar em ti
durante três minutos
e depois adormecer outra vez....

Acredito que a verdade reside muito mais vezes no silêncio do que nas palavras, por mais belas e justas que sejam, mesmo quando voam do coração dos poetas para o coração do papel e ficam ali a dormir, à espera que alguém as apanhe.Sou de poucas conversas e prefiro falar do mundo com ironia do que dissertar sobre o que me forra a alma, porque quem me conhece consegue ler nela tudo o que precisa e além disso, sem palavras nunca há equívocos. Tenho mãos e olhos e tempo para aqueles que amo e quando se ama alguém é como se nos nascesse um néon na testa, maior e mais brilhante do que o do "Bellagio" em Las Vegas, uma luz serena, quase divina, que nenhum curto-circuito consegue apagar.

[...]

O amor ao silêncio vem-me da infância, quando brincava anos a fio com o Ferry, um dos seres mais notáveis e superiores que conheci. Era um pastor alemão de olhar vivo e bom porte que corria como um leão e brincava comigo com uma criança. Sabia sempre qual era o seu lugar e usava o seu charme canino para conquistar os humanos com grande talento e muita discrição. O Ferry era o meu cão, o meu irmão mais novo, o meu melhor companheiro e mais fiel amigo. E nunca precisámos de conversar. Às vezes, muito poucas, eu dizia-lhe duas ou três coisas que me preocupavam e ele respondia-me com um olhar ou um suspiro e eu percebia o que ele me queria dizer; que o mundo poder ser um lugar difícil, mas, se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós. E que o importante é não complicar, ter tempo para descansar e brincar, seja qual for a nossa idade ou profissão. O Ferry ensinou-me a amar o silêncio e a respeitar o silêncio dos outros. Mas também me ensinou a atacar de forma letal os meus inimigos, a ser grato a quem me quer bem e a lamber as feridas longe dos outros. Morreu envenenado e deixou um vazio na minha vida.Nunca esquecemos aqueles que amamos, nunca deixamos de amar aqueles que nos amaram, nunca perdemos a sabedoria que nos legaram, nunca deixamos de ter saudades daqueles que mudaram a nossa vida. E é por isso que quando escondes a cabeça abaixo do meu ombro direito e dizes em voz muito baixa temperada com riso e embaraço que se calhar te estás a apaixonar por mim, fico calado para que me oiças melhor e penso que sou uma pessoa cheia de sorte. O Ferry tinha razão; a vida nem sempre é fácil e o mundo pode ser um lugar vil e torpe onde há homens que têm prazer em mutilar crianças e envenenar cães, mas se formos bons, a vida traz-nos as pessoas certas que nos podem proteger e cuidar de nós. E tu já fazes parte da minha vida.



Margarida Rebelo Pinto

As mulheres aprendem a observar nos outros
aquilo a que mais tarde chamam intuição.
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Margarida R. P.

Vejo a minha existência como um tesouro e sinto-me protegida. Mas o mundo abre-me os olhos para muitos outros mundos, em que há pessoas que não têm nem nunca tiveram metade do que tenho. E essa sensação de impotência cansa-me porque sinto que só posso ajudar as pessoas escrevendo, enchendo-lhes a vida com histórias, tornando-me uma companhia num dia de maior tristeza ou solidão.
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Margarida Rebelo Pinto,
24 de Março de 2005
nenhum destino se cumpre nem está completo sem um toque de ironia

18 de fev. de 2008

As vezes,
Nascem diamantes salgados no fundo da alma.

Que importância tem,
se aquilo que por um momento embalou teu coração,
não passa de uma saudade?
Que mal tem viver num pequeno mundo inventado
se cada segundo passado a imagina-lo fez sorrir, sentir…amar?

Na solidão do dia que caminha lentamente,
procuro no tempo que passa,
a resposta para a ausência…

Não sei quando te voltarei a ver, ou a ter notícias tuas, mas sabes uma coisa? Já não me importo, porque sempre soube que ia ser assim. Guardei-te no meu coração antes de partires. Numa noite perfeita entre tantas outras, liguei o meu coração ao teu com um fio invisível e troquei uma parte da tua alma com a minha, enquanto dormias.
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Margarida Rebelo Pinto in "Vou contar-te um segredo"

Procuro por ti
nas linhas que tecem meu coração,
nas teias emaranhadas de pensamentos
onde vives constantemente
e nos horizontes de uma alma em silêncio.

11 de fev. de 2008


…Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo. Eu bati a 200 km por hora e estou voltando á pé pra casa, avariada.

Eu sei,não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Telvez este seja o ponto. Talvez eu Não seja adulta o suficiente para brincar tão longe do meu patio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, de acreditar em contos de fada, de achar que a gente muda o que sente, e que bastaria apertar um botão que as luzes apagariam e eu voltaria a minha vida satisfatória,sem seqüelas, sem registro de ocorrência? Eu não amei aquele cara. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada.

Não era amor,era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, eram dois travesseiros. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. NÃO ERA AMOR, ERA MELHOR”




Martha Medeiros em Divã

Eu mesma
não passo de uma pessoa apenas
e apenas quero ser uma pessoa sensata
mesmo com as trapaças das outras pessoas
ora,
eu mesma me passo para tras!

Não há em ti inquietudes

ou desassossegos restantes.

Fez-se silêncio em tua alma.

Fecha teus olhos e me busca.

Ouves teu peito? Sou eu.

Entre mim e meus sonhos não há abismo
e me resumo no espaço do teu sorriso.
meus olhos desenham as linhas tuas
e me encontro mais menina na alma.
delinqüeço mulher entre teus dedos
e te entrego um punhado dos meus medos.


Se o amor for grande...
a espera não será eterna,
os problemas não serão dilemas,
e a distância será vencida.
Se a compreensão insistir,
as brigas fortalecerão-nos,
os fatos farão-nos rir,
e os diálogos marcarão-nos.
Se o respeito prevalecer,
os carinhos serão doces e suaves,
os beijos profundos e cheios de valor,
e os abraços calorosos e confortantes.
Se a confiança existir,
a dúvida se extinguirá,
as perguntas serão respondidas,
e as palavras poderão ser ditas.
Talvez não seja um amor eterno.
E não é um amor doentio,
Nem um amor ideal.
Mas um amor verdadeiro.
Aquele que vence as barreiras
Impostas pela vida e pelas ocasiões.
Aquele que não teme o tempo,
E faz a opção de simplesmente
Ser vivido.

Amo como ama o amor.
Não conheço
nenhuma outra razão
para amar senão amar.
Que queres que te diga,
além de que te amo,
se o que quero dizer-te
é que te amo?


Fernando Pessoa

“sabe, eu me perguntava até que ponto
você era aquilo que eu via em você,
ou apenas aquilo que eu queria ver em você,
eu queria saber até que ponto
você não era apenas uma projeção
daquilo que eu sentia,
e, se era assim,
até quando eu conseguiria
ver em você todas essas coisas
que me fascinavam e que,
no fundo, sempre no fundo,
talvez nem fossem suas, mas minhas,
e pensava que amar era só conseguir ver,
e desamar era não mais conseguir ver, entende?”



[para uma avenca partindo - o ovo apunhalado.]

Caio F.

“sabe que o meu gostar por você chegou a ser amor, pois se eu me comovia vendo você, pois se eu acordava no meio da noite só pra ver você dormindo, meu deus como você me doía de vez em quando,
eu vou ficar esperando você numa tarde cinzenta de inverno bem no meio duma praça, então os meus braços não vão ser suficientes para abraçar você e a minha voz vai querer dizer tanta, mas tanta coisa que eu vou ficar calada, um tempo enorme só olhando você sem dizer nada, só olhando e pensando, meu deus mas como você me dói de vez em quando.”


Caio F.

Quem - estando ausente - entra no quarto,

quem deita ao lado meu,

quem passano meu coração seus lábios quentes,

quem desperta em mim as feras todas,

quem me rasga e cura,

quem me atrai?


Quem murmura na treva e acende estrelas,

quem me leva em marés de sono e riso

quem invade meu dia após a noite,

quem vem - estando ausente -e nunca vai?



Lya Luft

Tô nem aí pro futuro,

pra celulite, tô nem aí para queixas datadas,

tô nem aí pro telefone mudo, pros surdos,

pro preço do combustível,

tô nem aí se vai chover amanhã,

se o presidente vai viajar, se vai voltar, tô nem aí.


Pra discussão sobre maioridade penal,

violência e barbárie, tô aí.

Pro fim desta impunidade

que incrementa a bestialização das nossas vidas,

tô muito aí.


Tô nem aí pros especuladores da vida alheia,

pro Schwarzenegger, pros índices de audiência,

tô nem aí se fui convidada ou preterida,

quem é a primeira da lista, a segunda, a última,

tô nem aí pro novo namorado da Nicole,

pras declarações da Luana,

quem é gay ou não, com silicone ou sem,

se é virgem, se é rodada.


Pros sentimentos das pessoas, tô aí.

Para seus desejos e dúvidas,

para seus medos e ousadias, tô aí.

Para tudo aquilo que tem consistência,

para tudo aquilo que nos comove,

para o leve e o denso,

para a alegria genuína e para o luto, tô aí, sim.


Tô nem aí para quantas calorias tem um bife,

tô nem aí pra corrida espacial,

se há vida após a morte,

tô nem aí pro carro do ano,

pra musa do próximo verão,

pro gol mais bonito do domingo,

pra manchete da capa de amanhã.


Para a grosseria e a falta de delicadeza

que corrói as relações, tô aí.

Para a brutalidade das pessoas, pro egoísmo,

pra falta de educação e civilidade,

para todos que possuem


uma nuvem preta acima da cabeça

e a carregam pra onde quer que vão,

tô aí e me dói profundamente.


Tô nem aí pro que foi decidido

na reunião de condomínio,

na reunião de cúpula, na reunião de mães,

nas reuniões que duram mais de dez minutos,

tô nem aí pro salário dos outros, pras novas tendências,

pra cotação das minhas ações no mercado externo.


Tô aí pra alguns, pros meus.

Tô aí e estou aqui. Estou atenta. Estou dentro.

Estou me vendo. Estou tentando. Estou querendo.

Estou a postos só para o mínimo, o máximo.

Para o que importa mesmo. Para o mistério.

A verdade. O caos. O céu. O inferno.

Essas coisas.


No mais, tô nem aí. Refrão e desabafo.




Martha Medeiros