7 de jan. de 2010



[...]
Alguma coisa deu errado em mim, eu não sei te explicar e eu não sei como arrumar e nem sei se tem ajuda pra isso. Mas meu corpo inteiro se revolta quando gosto de alguém.
[...]
Me perdoe pelos meus mil anos à frente dos nossos segundos e pela saudade melancólica que eu senti o tempo todo mesmo sendo nossos primeiros momentos.
[...]
Me perdoe pelas vezes que de tanto querer leveza acabei pesando a mão. De tanto querer sentir, pensei sobre como estava sentindo, e perdi o sentimento.
[...]
Minha maior dor é não saber fazer a única coisa que me interessa no mundo que é amar alguém. Me perdoa por eu querer de uma forma tão intensa tocar em você que te maltrato. Minha mão acostumada com um mundo de chatices e coisas feias fica tão gigante quando pode tocar algo lindo e puro como você, que sufoca, esmaga e estraçalha. Me perdoe pela loucura que é algo tão pequeno precisando de amor e ao mesmo tempo algo tão grande que expulsa o amor o tempo todo. Eu sou uma sanfona de esperança. Eu tenho estria na alma.
Enfim. Cansei de pedir desculpa por quem eu sou. Cansei de ouvir de todo mundo como é que se trabalha, se ama, se permanece, se constrói. Eu tentei com todas as forças amar você e agora sofro com todas as forças pelo buraco que ficou entre o sofá e a planta e o meu coração. Você vai embora e eu vou voltar para as minhas manhãs com o iogurte que eu odeio mas que é a única coisa que passa pela garganta quando o dia tem que começar.
[...]
E que se foda o amor próprio.
Você me disse e me olhou de formas terríveis mas o que sobrou colado em cada parte do dia e de mim é a maneira como você sorri levantando que nem criança o lábio superior direito e como eu gosto de você por isso e por tudo e mesmo quando é ruim e sempre quando é incrível e ainda e muito e por um bom tempo.




Tati Bernardi.


Existe ir embora da minha própria cama? Existe sair do meu próprio peito? Existe tirar você daqui de dentro, vomitar você, matar você? E tudo isso só porque, vai ver, esse medo todo é justamente que você saia? Que é isso? Como posso precisar tanto no mesmo instante em que não suporto não ser só minha? Um milhão de coisas que cabiam tanto que ela não suportava, mas a sensação de que não se podia nada.



Tati Bernardi.


Ela fazia listas há 30 anos pra nunca esquecer de como queria ser pra si, nunca conseguindo exatamente, e agora, seria para outro? Mas ainda não deu tempo, entende?



Tati Bernardi.


“Não é a toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu. E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido o caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho, com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei."







(Clarice Lispector)

5 de jan. de 2010





Os livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a umidade, os bichos, o tempo e o próprio conteúdo.



Paul Valéry


"já que fora dispensado após tantos anos de análise, já que a crise permanente parecia a forma mais estável para sobreviver, já que ninguém lembrara de assassiná-lo ou pedi-lo em casamento, já que podia olhar em volta e em menos de um minuto escolher alguém pra conversar dizendo coisas como voce anda sumido(a), e ai, conta mais, diga lá, toma outra - em nome disso, prosseguia, embora sem saco."




Caio F.


Por favor, façam um grupo de oração, uma roda de samba, uma macumba, qualquer coisa. Eu preciso muiiito desencalhar. Não aguento mais ter instintos selvagens a cada 5 minutos. Nem precisa ter tapete vermelho no fim do túnel. 






kkkkkkkkkk
[Juro que desconheço o autor(a)]



“E eu que esperava fogos de artifício
me esqueci que as estrelas não fazem barulho”

3 de jan. de 2010




Entrando no ano novo.






Não falarei da virada de ano convencional, do tempo de festas em que a gente se finge de santo, vai à missa mas odeia meio mundo, pede perdões mas vive fazendo maldade, arma um sorriso babaca, abraça a família, que na verdade está um caos, manda uísque para os colegas a quem detesta, e um presentão para o chefe pelo qual se sabe desprezado.



Não falarei das comemorações dos escravos do consumismo, que nesta época se endividam em dez prestações para dar presentes impossíveis a pessoas nem sempre amadas, ou cujo amor tem de ser comprado. 


Não falarei do começo de ano amargo dos que dizem que para eles essas datas não existem: espalham o negativismo de suas decepções com a raça humana, que na verdade não é tão grande coisa assim, portanto não se deveria esperar que o fosse.


Talvez eu fale de um começo de ano mais simples, porque não foi antecedido por um daqueles Natais de religiosidade fingida, amor com hora marcada, presentes supérfluos ou adquiridos com sacrifício; talvez eu fale de confraternização, abraço amigo sincero, acolhimento da família – amada apesar de diferenças, sabendo que ali a gente é aceito mesmo quando não é entendido, mais que isso: é respeitado e querido.


Falo de uma tentativa real de recomeçar até onde é possível: com um olhar um pouco diferente para pessoas a quem a gente admira ou estima e normalmente não tem tempo de abordar (que pena, que desperdício). Gente que nos interessa pelo simples carinho, independentemente de status, grana, importância e possível utilidade.



Falo de uma entrada em um novo ano abrindo as portas e janelas da casa e da alma. Sem frescura, sem afetação, sem mau humor, sem pressão nem formalidade. Pensando que a gente poderia ser mais irmão e mais amigo, mais filho e mais pai ou mãe, mais humano, mais simples, mais desejoso de ser e fazer feliz, seja lá o que isso signifique para cada um de nós. 





Não com planos mirabolantes que não se podem cumprir, mas inventando novos modos de querer bem, sobretudo a si mesmo, pois sem isso não tem jeito de gostar dos outros de verdade. 


O bom é entrar num novo ano sem nostalgia melancólica, sem suspiros patéticos e sem lamentações inoportunas, sem torrar a paciência dos que, ao redor, estão querendo começar o novo ano num clima positivo.


Não falarei, nunca, de festas de passagem de ano tendo de encher a cara para agüentar o próprio deserto interior e a frivolidade de toda uma vida ou para enfrentar a loucura generalizada, o desamor dos parentes chatos, dos filhos idem, da mulher ou marido irônicos, da sogra carrancuda, do amigo interesseiro ou o prenúncio das contas que se acumularão porque a gente gastou o que não podia com coisas que não devia.


Algumas pessoas saem da manada e se propõem a cada ano uma vida possível, mais amena e humana apesar de tudo. Na qual, independentemente de crença, ideologia e vivências, aqui e ali se consegue refletir e reavaliar algumas coisas. Com um pouco mais de aproximação, de reflexão, de algum otimismo, a gente sendo menos arrogante, menos fria, menos desinteressante, mais... gente. 


E, já que é um novo ano, vai aí um presente meu, simplesinho, que os tempos estão difíceis: 

Deus, eu faço parte do teu gado: esse que confinas em sonho e paixão, e às vezes em terrível liberdade. Sou, como todos, marcada neste flanco pelo susto da beleza, pelo terror da perda e pela funda chaga dessa arte em que pretendo segurar o mundo.



No fundo, Deus, eu faço parte da manada que corre para o impossível, vasto povo desencontrado a quem tanges, ignoras ou contornas com teu olhar absorto. 





Deus, eu faço parte do teu gado estranhamente humano, marcado para correr amar morrer querendo colo, explicação, perdão e permanência.








[ Lya Luft - Revista Veja ]







Peço à aeromoça algumas revistas ou jornais brasileiros. Ela me traz uma Manchete. Misses, futebol, parece horrível. Então sinto medo. Por trás do cartão-postal imaginado, sol e palmeiras, há um jeito brasileiro que me aterroriza, O deboche, a grossura, o preconceito.




Caio F.


Pelo menos estou vivo. Em movimento, andando por aí, perdendo ou ganhando, levando porrada, passando fome, tentando amar.






Caio F.


Só quero ir indo junto com as coisas, ir sendo junto com elas, ao mesmo tempo, até um lugar que não sei onde fica, e que você até pode chamar de morte, mas eu chamo apenas de porto.








Caio F.



Poucos ainda sorriem e olham nos olhos. Hoje é dia, mais uma vez, de mudar de casa e de vida. Os olhos buscam signos, avisos, o coração resiste (até quando?) e o rosto se banha de estrelas dormidas de ontem, estrelas vagabundas encontradas pelas latas de lixo abundantes de London, London, Babylon City. Alguém pergunta: “O que é que se diz quando se está precisando morrer?” Eu não digo nada, é a minha resposta. Sento no chão e contemplo os escombros [...] bye, bye. Amanhã é dia de nascer de novo. 








Caio F.

1 de jan. de 2010




E me dissestes naquele tom amigo e sincero que eu estava numa fóssa-sarcástica. E eu curti. Bixo, eu curti mesmo!. Resolvi colocar o sarcasmo na mala. - Inseparável. - Pegar a estrada e ser mais feliz. As fóssas que me sigam se já não estiverem de língua de fora.






JC



'Ele dizia teorema ao invés de problema, 
teorema é mais leve. E tem Deus na raiz, Teo.'



[Lygia Fagundes Telles]



"Lá está ela, mais uma vez. Não sei, não vou saber, não dá pra entender como ela não se cansa disso. Sabe que tudo acontece como um jogo, se é de azar ou de sorte, não dá pra prever. Ou melhor, até se pode prever, mas ela dispensa. [...] E se ela se afogar, se recupera"


Caio F. Abreu



"(...) de vez em quando
vem um vento bobo
e sopra: é preciso acreditar.
é preciso ter uma paciência revolucionária.
é preciso ter uma fé inquebrantável.
é preciso ter fantástica felicidade."


(Chacal)



às vezes me dá enjôo de gente. 

depois passa e fico de novo toda curiosa e atenta. 

e é só.






- Clarice Lispector