30 de dez. de 2012

Um presente que ganhei do presente que eu ganhei:




Eu te amo, E2!

Eu teria casado com você com um anel de plástico, em pé, num aterro de lixo, no meio de um furacão. O espetáculo era para eles. Eu só queria você. [Richard Paul Evans]
A coragem do amor cria a bênção do perdão. [Emmanuel]

26 de dez. de 2012

Para um novo ano. Para um novo eu.



Perdi um amor, mas recuperei a fé há tanto engavetada. Fé em Deus, em Seu Filho, nos Guias de Luz que andam conosco sempre tão companheiros e que nos perdoam e nos revitalizam sempre que necessitamos. Tudo comprovado na minha mente, no meu coração, no meu corpo... que enfrentam nesse momento de transição dores e angustias, pedem por calma e sustentação e recebem. Reaprendi a rezar, a não negar, reaprendi a olhar os outros com mais cautela e delicadeza... E nunca esquecer que já posso ter sido muito melhor ou muito pior do que todos eles.


Agora apenas agradeço essa chance de ter me tornado mais sensível, mais humana, um pouco menos arrogante, orgulhosa, egoísta. É claro que ainda falho e que é longo o caminho, mas é clara a nova estação que se anuncia por dentro. Tenho menos medo, mais coragem, menos escudos, menos espadas, mais proteção.


Sobretudo tenho mais gratidão... pelo amor que tive, pela alegria que trouxe, pela dor que trouxe... E pelo que e quem ficou depois que ele seguiu outro caminho. Grata pela família que ainda do seu jeito torto está sempre presente. Grata pela amizade de Jomara que chega até mim forte e maternal como as ondas de Yemanjá. Grata pelos poucos amigos que mesmo distantes estão sempre presentes em momentos de dura prova, emanando sobre mim seus gestos de amor honesto. E pelos que vem vindo, à seu passo.


Minha escolha, minha evolução... sinto estar dando passos adiante, pequeninos, um a cada dia, um a cada oração, choro, olhar ou sorriso. E sei que depois de tudo fica algo de melhor dentro da casca do meu corpo.


Cada uma dessas coisas, um presente. Pois em verdade não há o que se perder, tudo fica como paisagem e ensino. Tudo se cumpre e segue, para não voltar ou para voltar mais tarde, novo.


Há minutos em que ainda esqueço algumas dessas coisas, em que ainda sobram sentimentos menos puros, e não há culpa nenhuma no acontecer disso, há só uma certeza de que é preciso insistir, prosseguir pela trilha da Lei, retomar a paciência e esperar pelo melhor.


Que Deus misericordioso e os amigos espirituais guiem todos os passos, todas as decisões... Desfaçam os nós das nossas gargantas, tirem os pesos do nosso peito pela manhã, acalmem o nosso coração a noite e nos transportem à lugares de bons encontros. Que fiquem conosco durante o dia e todos os dias, nas estradas e nos lares... Que cheguem ensolarados a quem precisa de liberdade, que cheguem como afago a quem sente solidão, que sejam redescobertos por quem enfraqueceu, que sejam lembrados por quem se fortifica.


Bondade e caridade sejam derramadas sobre corpos ou espíritos que adoecem, que todas as orações vibrem na mesma frequência. E que se multipliquem renovando pensamentos e revendo atitudes.


Obrigada Deus por absolutamente tudo que há, tudo que sinto e acordo para viver hoje. Concede-me sempre e cada vez mais a oportunidade de auxiliar quem passar por mim! Fica conosco! Assim seja!



















jc








24 de dez. de 2012

...e me ocupava em perguntar, de dez em dez segundos, e de dez em dez pessoas, quando é que você iria me ligar e dizer que tinha pensado melhor. Quando? Você nunca ligou, nunquinha. E eu esperei, esperei, esperei tanto tempo, nossa, como eu esperei. Acho que eu nunca esperei tanto nada em toda a minha vida.


Outro dia a Myla me perguntou o que você tinha me ensinado. A gente estava conversando sobre os legados que as pessoas deixam em nossas vidas e ela quis saber qual tinha sido o seu. O coiso me ensinou a gostar de MPB e cinema europeu, o outro coiso me ensinou a gostar de sexo e restaurante caro. Teve o coisinho que me ensinou a ser engraçada e jogar frescobol. E você? Que raios me ensinou? Fiquei sem saber na hora, fiquei sem saber o que responder para a Myla.



Mas hoje... posso dizer que foi você quem me ensinou a lição mais importante da minha vida: você me ensinou a sofrer. Eu nunca, nunca, em vinte e sete anos de vida, tinha sofrido. Nunca.



(...) em casa, quando eu dobrava direitinho o uniforme para o dia seguinte e me sentia um papel de parede bege que ninguém entende pra que serve, eu pensava: um dia um príncipe vai me levar pra longe dessa falta de vida, dessa falta de beleza, dessa falta de compreensão, dessa falta de cor, dessa falta de sei lá o que porque eu era novinha demais pra saber o que faltava.

(...)

Depois de tantos amores estranhos, pequenos, errados e tortos, finalmente eu tinha reconhecido no seu olhar centralizado e no seu sorriso espalhado, o meu príncipe. E o meu príncipe estava me dando o fora. Que porra eu ia esperar da vida agora? Quem iria me levar para longe se você não me queria mais por perto? Não teve como. Foi a primeira vez na vida que não consegui me enrolar e acabei deixando a dor vencer. Pela primeira vez a realidade falou mais alto que a fantasia. Pela primeira vez a realidade da sua ausência falou mais alto que a fantasia de anos a sua espera. Sofri pra caralho, como diz por aí quem sofre pra caralho.


Mais do que livros cabeças, músicas bacanas, frases inteligentes, lugares descolados ou posições sexuais, você me ensinou o que realmente importa aprender nessa vida:  ... Que nem ninguém e nem nada pode te levar para longe de nada. É isso e pronto. E é assim pra todo mundo. E pronto. Qual o drama? A dor infinita dos dias infinitos que vieram depois do dia em que você se foi pra sempre veio misturada com toda a dor que eu não senti em todos esses anos. A dor do seu pé na bunda trouxe vasos jogados, bitucas eternas de cigarros em longas discussões pesadas, tardes perdidas em odiar o mundo, cabeças viradas, corredores frios, papéis de parede beges e grupinhos festivos e fechados.

A nossa dor acabou sendo toda a dor que fazia fila em mim para ser sentida.

E já que a porta pra realidade estava aberta, por que não sofrer também pelas criancinhas carentes, os países em guerra, a estupidez humana e a dor das juntas da minha mãe? Por que não sofrer pela condição das favelas, das prisões e da Terra? Por que não temer o aquecimento global, o ácido dos limpadores de vidro na Henrique Schaumann e as frases do Clodovil? A dor da sua partida trouxe toda a dor do mundo. De uma só vez. Mas agora já passa da meia noite. (...)  E pra te falar ainda mais a verdade, eu acho mesmo que você foi o príncipe que eu esperei a vida inteira. Você chegou e me levou embora. Levou embora a menina que tinha medo de sentir a vida e esperava uma salvação para tudo. Quem sobrou é essa desconhecida que se conhece muito bem (...)










[Tati B.]


“Eu duvido! Duvido que você não chame meu nome quando você sente falta de alguém, duvido que não sinta falta do meu carinho sempre tão sincero, falta de me contar como foi seu dia, as histórias da sua vida que sempre foram pra mim melhor do que qualquer novela. (...) Talvez esse seja o nosso problema... eu sinto, eu penso, eu falo, eu te conheço, isso te assusta né? (...)


Eu queria ligar pra você e te falar sem pausas tudo que eu ensaio toda vez que você me magoa, mas nunca digo pra não te magoar, afinal você não me faz mal por mal, e talvez esse seja o pior mal que se possa fazer a alguém, tão natural.


Bobagem, como se algum ensaio no mundo fosse me deixar firme depois do seu ‘alô’. Então é isso, tô te escrevendo! Sempre fui mais segura com as palavras. Tô te escrevendo pra talvez um dia te enviar, mas tô escrevendo. E não é sobre você dessa vez, é sobre mim. Sobre o quanto eu sou boa, igual a mim tá difícil, meu bem! Sobre como eu não preciso usar cinco centímetros de saia e um decote no umbigo pra ser mulher. Sobre como, ainda assim, só eu sei fazer de você um homem.


(...)


Porque eu sou amor, e ainda que não seja o seu, essa é a minha essência.”




- Tati Bernardi.
De quem seria a língua sem nojo que explorava o mais fundo de todos os buracos do corpo dele? Da janela eu observava as mãos abrindo apressadas o fecho das calças, os dedos hábeis afastando panos, as narinas sugando o cheiro secreto das virilhas... atrás das grades eu queria minhas aquelas mãos que o tocavam e também meus aqueles dedos e minhas ainda aquelas narinas e aquela língua (...)

Pelo dia afora, adentro, essa parte de mim que vai com ele tenta extravasar-se pelos seus olhos, pela sua boca, para alertar as grandes caras móveis que o observam com simpatia. A cada tentativa, ele me pressente e me rechaça, ele me empurra para o fundo de si para que eu não o desmascare. E me rouba a voz, e me leva o gesto, fazendo com que me cale e me imobilize impotente entre as pontas duras das quais ele se desvia ...

Pela cabeça, essa luz que não sei se é compreensão ou loucura. É de mim, de ti ou dele que sai essa voz contando o sonho de ontem? (...) e assim mergulho eu e assim mergulhas tu e assim mergulha ele: a tontura de nossos seis passos equilibra-se instável e precisa sobre o fio da navalha.


[cfa]
E enquanto eu olhava o céu limpo da cidade suja, interpunha entre nós seu primeiro muro de palavras. Confusas, atormentadas, sobre tudo e sobre nada: palavras amontoadas umas sobre as outras, como se amontoam tijolos para separar alguma coisa de outra coisa. Eu, mal sabendo que esse — que parecia seu jeito mais falso de ser — seria nas semanas seguintes seu jeito mais verdadeiro, às vezes único.

Quando o tempo passasse um pouco mais, nos surpreendendo ainda juntos em outra madrugada, minha cabeça repetiria tonta e lúcida "Éramos tão pálidos, e nos queríamos tanto". Éramos muito pálidos naquela primeira manhã entre as latas de lixo da rua deserta, caminhando em direção ao dia de hoje — mas ainda não nos queríamos com este enorme susto no fundo dos olhos despreparados de querer sem dor.

(...)

Me deixava levar, guiado apenas pelo jardim que entrevia pelas frestas dos tijolos, nos muros-palavras erguidos entre nós, com descuido e precisão. Viriam depois, mais muros que os de palavras, muros de silêncio tão espesso que nem mesmo os demorados exercícios de piano, as notas repetidas e os dedos distendidos, conseguiriam derrubar.

(...)

Bati as mãos contra o muro, procurando brechas. Não havia mais. Espatifei as unhas, gritei por uma resposta qualquer. Nem uma veio de volta. Olhei para fora de mim e não consegui localizar ninguém no meio das vibrações da cidade suja. Olhei para dentro de mim e só havia sangue. Derramado, como nas cirandas.

Queria acordar, mas não era um sonho.





CFA


Quase três anos desejando sentar na grama com você, mas hoje te vejo fazendo isso com outra pessoa. Quantos natais e reveillon's desejei passar ao seu lado, mas quem pode ter tudo isso é outra pessoa. A dor é imensa, a saudade é imensa. O amor igualmente imenso. Mas não importa mais pra você. Vivi pra você, morri em você.




jc

23 de dez. de 2012

E você continua escrevendo sua história pulando linhas, errando palavras, esquecendo os títulos.

Tati Bernardi
É por isso que a gente deve tomar cuidado como se comporta. Você e eu devemos prestar atenção no que estamos transmitindo. Desculpe, eu não quero simplesmente passar pela vida. Quero deixar alguma marca, fazer alguma história. Pretensão a minha? Talvez seja. Mas me sinto mais confortável e em paz comigo mesma sabendo que estou fazendo o possível. Pode não ser o suficiente, mas é o meu melhor.

Eu não quero me afogar no meio de sentimentos não expressados. Por isso, procuro mostrar meu amor a cada dia para quem me é essencial. Não me importo que você me ache ingênua, romântica demais, boba, cafona ou careta. Talvez eu seja mesmo tudo isso. E muito mais. Mas pelo menos eu não tenho vergonha na cara e no peito de me abrir, de sentir. Isso é tão importante hoje em dia: sentir. 



Clarissa Corrêa

A PESSOA QUE TE AMA - FLÁVIO GALINDO

A pessoa que te ama vai te mandar uma mensagem de texto às 04 da manhã ou as 08, apenas por saber que você vai acordar para ler ou até mesmo ligar de volta, como também vai deixar você dormir até a hora que você quiser, por saber que você precisa, está cansada e vai acordar com um humor melhor.

A pessoa que te ama vai te encher a paciência só pra te ver brava e vai dar risada de você, como também quando te ver brava vai fazer de tudo para te acalmar, com um sorriso ou simplesmente estar ao seu lado, mas também saberá a hora de te dar espaço para não se sentir sufocada.

A pessoa que te ama vai brigar com você por futilidades. Você terá de saber perdoá-la, pois fará o mesmo se o ama e essa pessoa, também a perdoará. Como também, a pessoa que te ama fará de tudo para te passar todo o amor que lhe tem guardado.


A pessoa que te ama testará seu amor com aquele ciúmes bobo ao olhar para uma garota enquanto estiver de mãos dadas com você, fazendo algum comentário supérfluo que não te agradará e também irá dar risada da sua expressão, como também segurará firme em sua mão e declarará próximo ao seu ouvido o seu amor e dirá que não existe mulher que mude sua opinião de com quem ele deva estar neste e nos próximos dias de sua vida.

A pessoa que te ama irá te compreender quando estiver muito quieta, ou quando estiver brava com o mundo e tentará descontar em cima dele. Irá dizer o quanto você está chata, insuportável e arrogante, como também irá dizer o quanto você fica linda vestida com sua camiseta ou blusa, como você é simpática e bela e seu sorriso sincero faz mudar todo o seu dia.

Ah, sim, mas é claro, como pude me esquecer? A pessoa que te ama irá te perdoar dos piores erros como também te amará com o mais profundo sentimento, porque esta história de que o pra sempre, sempre acaba é para criança dormir. Amor de verdade não se dissipa.
E o amor?, você me pergunta. O amor, ah, sei lá. O amor nem dá pra definir direito. Acho que é um desejo de abraçar forte o outro, com tudo o que ele traz: passado, sonhos, projetos, manias, defeitos, cheiros, gostos. Amor é querer pensar no que vem depois, ficar sonhando com essa coisa que a gente chama de futuro, vida a dois. Acho que amor é não saber direito o que ele é, mas sentir tudo o que ele traz. É você pensar em desistir e desistir de ter pensado em desistir ao olhar pra cara da pessoa, ao sentir a paz que só aquela presença traz. É nos melhores e piores momentos da sua vida pensar preciso-contar-isso-pra-ele. É não querer mais ninguém pra dividir as contas e somar os sonhos. É querer proteger o outro de qualquer mal. É ter vontade de dormir abraçado e acordar junto. É sentir que vale a pena, porque o amor não é só festa, ele também é enterro. Precisamos enterrar nosso orgulho, prepotência, ciúme, egoísmo, nossas falhas, desajustes, nosso descompasso. O amor não é sempre entendimento, mas a busca dele. Acho que o amor não é o caminho mais fácil, pois mais fácil seria dizer a-gente-não-se-entende-a-gente-não-combina-tchau-tchau. O amor é uma tentativa eterna.


Clarissa Corrêa

22 de dez. de 2012

"Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de estilos, onde tudo pode ser completamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis."

Italo Calvino
"(...) O amor é uma ocasião sublime para o indivíduo amadurecer, tornar-se algo por si mesmo, tornar-se um mundo para si, por causa de um outro ser: é uma grande e ilimitada exigência que se lhe faz, uma escolha e um chamado para longe."

Lou Salome

21 de dez. de 2012



À QUEM INTERESSAR POSSA, A VIDA REAL:







T - Amor, casa comigo?

-Caso, todo dia.

T -Fica comigo pra sempre?

-Fico.

T -Quer ser a Sra. Gatão?

-Quero!







... ... ... ... ...

THE END

...




-Volta pra mim!?

T -Não!





=/




... ... ... ... ...

...










jc

15 de dez. de 2012

Não de repente, mas aos poucos, alguém vai entrando na sua vida, ocupando seus espaços, tomando conta do que você não dava mais conta, ou só fingia dar. E também aos pouquinhos, vai fazendo você mudar de idéia, aqui e ali; Faz você querer morar numa casa com quintal ao invés de um apartamento, faz você querer alimentar e dar banho em três cães ao invés de um, te faz querer casar, viajar a dois ou apenas ficar em casa no sofá, te faz querer adotar um filho, te faz entender que o amor é não desistir, te faz chorar, te faz absurdamente feliz, te muda inteirinha. Mas é de repente, dentro de um grande susto, que essa pessoa te deixa sozinha dentro de planos plurais.

As mãos se soltam, você se perde, continua querendo envelhecer junto, continua sonhando os mesmos sonhos, continua sentindo o mesmo amor, você é inteiro um pedaço de saudade, e sente medo de ligar porque não há palavras na sua cabeça além de TE AMO, TE AMO, TE AMO, VOLTA, VOLTA, VOLTA. E revolta, e desentende, e se marcar de sair com alguém não ter vontade de estar lá, só ter vontade de chorar manso. Chorar de medo de deixar esse amor morrer nos braços de alguém que não batalhou por nada disso do que você sente, ou do que o outro sente, e só querer sair correndo sem esquecer as chaves de casa, pra não precisar voltar pra buscar, pra estar o mais rápido possível fazendo qualquer outra coisa que preencha o tempo.

E voltar pra casa e trancar a porta com a mesma chave, ufa. Mas no fundo só pensar em largar tudo, expor verdades, deixar uma carta, ir embora, só desejar que aquele amor ainda exista do outro lado, só querer fugir, reatar, recomeçar, e não ter mais medo de nada. Só desejar poder olhar e ver a mesma pessoa que você conheceu, com os mesmos trejeitos do primeiro encontro, te levando pra bem longe, casando com você improvisadamente, adotando um filho, comprando duas cadeiras de balanço, trocando sua foto da carteira por uma de vocês juntos, velhinhos, serenos.


Mas o real disso tudo é o susto. O último parágrafo agora é plano singular. Só meu.




"E SONHO QUE SE SONHA SÓ, É SÓ UM SONHO QUE SE SONHA SÓ........."





jc

13 de dez. de 2012

E descobrem por fim, que amar não é apenas fantasiar, mas acima de tudo construir. E construir pede não somente o plano e esperança, mas também suor e por vezes aflição e lágrimas. (...)



[Palavras de Libertação - Chico Xavier]

11 de dez. de 2012

[...] Que tenha certeza de que eu quero muito que seja livre, saudável, contente; que seja. Que tudo aquilo que o preocupa, o desassossega, o faz sofrer, por Deus, seja logo transformado, assim como tudo o que o torna feliz seja mais e mais abençoado. Que alcance toda expansão que busca, todo voo que vislumbra, e possa sempre se lembrar de que é capaz de vencer os mais assustadores e impermanentes limites [...]


Ana Jácomo.
Eu precisei percorrer muito caminho para entender que um dos maiores tesouros da vida humana, talvez o mais precioso, é a capacidade essencial de sentir amor e saber expressá-lo. E que boa parte das confusões, das discórdias, das invejas, das doenças, das armadilhas, surge da profunda dor que causa a temporária incapacidade de descobrir onde ele está.




Ana Jácomo.


Vim aqui me buscar, com medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se conhecer mais. Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos. Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez. Vim aqui me buscar para não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em casa, de novo.

Vim aqui me buscar. Aqui, no meu coração.





Ana Jácomo.
Mas eu desejo, profundamente, que Deus também ouça as preces que lhe dirijo quando eu não consigo elaborar prece alguma. Quando a dor é tão grande que minha fala não passa de um emaranhado de palavras confusas e desconexas que desenham um troço que nem eu entendo. Quando o medo me paralisa e perturba de tal forma que eu me encolho diante da vida feito um bicho acuado. Quando me enredo nas minhas emoções com tanta confusão que parece que aquele tempo não vai mais passar.

Que Deus ouça também as preces que lhe dirijo quando só consigo chorar e, mesmo depois de já ter chorado muito, tenho a sensação de ainda não ter chorado tudo.




Ana Jácomo.
Não sei exatamente em que momento comecei a despertar. Só sei que comecei a lembrar de onde é o céu e a perceber que o inferno é onde a gente mora quando tudo é sono. Comecei a sair dos meus desertos. E a olhar, ainda que timidamente, para todas as miragens, sem tanto desprezo, entendendo que havia um motivo para que elas estivessem exatamente onde as coloquei. Nenhum livro, nenhum sábio, nada poderia me ensinar o que cada uma me trouxe e o que, com o passar do tempo, continuo aprendendo com elas. Dizem que só é possível entendermos alguns pedaços da vida olhando para eles em retrospectiva. Acho que é verdade.




Ana Jácomo.

Muitas vezes, nós nos escondemos uns dos outros para nos protegermos e também juramos ser de concreto o nosso muro de folhas. Nós nos escondemos por contraditória defesa, porque, no fundo, além de todo e qualquer medo nosso, a verdade é que tudo o que mais queremos é olhar e sermos olhados com amor.


Ana Jácomo.

8 de dez. de 2012



''Meu coração prefere acreditar nessas promessas
Mesmo essas que só fazem abrir minhas janelas
Pra nenhuma, pra nenhuma, pra nenhuma paisagem

(...)

Meu coração prefere acreditar nessas promessas
Mesmo essas que só fazem deixar na minha pele
Calor, luz, alegria pra nenhum verão.''







Maria Bethânia
O que eu fiz é muito pouco
Mas é meu e vai comigo
Deixo muito inimigo
Porque sempre andei direito
Agasalhei neste peito muita cabeça chorando


Chico Buarque

3 de dez. de 2012

Eu me retiro, com os meus erros assumidos e não corrigidos por falta de uma chance, eu me retiro sem desistência. Com a certeza de que fui amor e clareza até o fim - e depois do fim - eu me retiro. Eu me retiro para não mais ver as imagens que sendo ou não o que parecem, transbordam, de qualquer forma, essa ampla falta de consideração pelo momento, pela história e pela dor. E me retiro após dias e dias de silêncio e não-resposta do outro lado do muro. Eu me retiro amando. Eu me retiro sangrando. Eu me retiro fiel. E se um dia as minhas palavras moveram o teu mundo e hoje não movem sequer um muro, é porque - por tua decisão - ele está sendo e será soberano sobre qualquer tentativa, proposta, ou malas feitas. E eu te desejo auxilio espiritual de alto grau, porque é hora de mais verdades.


Com amor, com tristeza, com paz. 
Gratidão sempre pelos momentos compartilhados. 





jc

1 de dez. de 2012

“O Humanismo prega que encontremos Deus na alegria do canto, da música, da dança, que o encontremos, também, na fartura do alimento comum que é o amor aos, e dos, semelhantes; que se encontre Deus na bênção do ancião, no sorriso da criança, no amor do casal feliz ou no labor diário. Diz também: Deus não o proíbe de fazer nada que lhe permita o seu livre arbítrio, mas como Ele fica feliz quando tudo o que você faz acaba por aumentar o seu amor, respeito e fé em Sua grandeza e generosidade, de Princípio Doador da Vida!”




(R. Saraceni – As Sete Vias de Evolução e Ascensão – Madras Ed.)
O amor é um sentimento abstrato, inato a cada pessoa, que se expressa com maior ou menor intensidade conforme o grau de evolução e merecimento daquele que o manifesta. Não há como comprá-lo ou fingir que o temos.


É o amor que nos leva ao desenvolvimento das mais nobres virtudes humanas: a doação sem condicionamentos.


O amor é uma conquista pessoal, como o amor por outra pessoa, pela religião etc. É vencer egos, conceitos e preconceitos, e, por se tratar do entendimento de cada um, não pode ser tomado como parâmetro coletivo. Uma vez conquistado, nenhuma outra pessoa conseguirá tirar-nos ou fazer-nos perder esse sentimento.


Essa sintonia irradia uma camada vibracional, que estruturará em nós sentimentos puros, determinação, paz interior, equilíbrio e, principalmente, a vontade de amar e de conceder esse amor ao próximo.

27 de nov. de 2012



O mundo é divido entre as pessoas que sabem que amar é uma necessidade básica, e as pessoas que fingem que não – talvez nasceram sem fome, sem paladar, sem boca para o amor. Só quem já fez sexo e amou ao mesmo tempo, na mesma cama, com a mesma pessoa, entende a pequena diferença entre os homens e os chimpanzés. Esse experimento comprova que basta uma só vez, e você se torna um adicto.




Gabito Nunes

'A vida é provocação. Se um dia me grita que é curta, manda em seguida a mensagem de que é preciso saber esperar. Avança e recua, oferece e retira...'




Cris Guerra

Louvado seja Deus meu Senhor, 
porque o meu coração está cortado a lâmina, 
mas sorrio no espelho ao que,
à revelia de tudo, se promete.
(...)
Louvado sejas porque eu quero morrer
mas tenho medo e insisto em esperar o prometido.


Adélia Prado
Cinco anos e cinco meses desse baú online. Cada dia mais cheio. Cada hora mais vazio. Meu inexplícito.


jc

22 de nov. de 2012



"E ninguém é eu. E ninguém é você. Esta é a solidão." 







Clarice Lispector - Água viva

14 de nov. de 2012

Se toda aquela parte mais profunda começou com um texto, nada mais nobre, civilizado, sofrido, justo e injusto do que terminar com outro TEXTO. Poderia ser um texto feio ou amargo, que se deixasse levar pela dor ou falta de compreensão dos fatos, mas não, será bonito, forte... como o tempo que passamos juntas.


*"Posso ficar horas tentando te explicar. (...) Não são por essas coisas que não se ama. Não são por essas coisas que se ama. Essas são apenas as coisas sobre as quais conseguimos falar na nossa ânsia de ocupar a cabeça enquanto nos encaramos um pouco assustados.

A verdade é que, no meio da multidão, estamos carregando nossas malas pesadas de riquezas e belezas e sentimentos. E uma hora, só porque acontece e não se pode explicar sem parecer ingênuo e arrogante, escolhemos uma pessoa que nos leve. Eu sei que é amor porque eu te escolhi pra me levar (...)

Mas, no último segundo do sinal fechado, eu abri a janela do meu carro e joguei a mala com milhões de moedas de ouro. A mala não te atingiu, caiu meio metro antes do seu último passo. Nem o som do meu peito desmoronado, nem o cheiro do meu amor metalizado, nem a luz da minha devoção dourada. A mala espatifou no meio da avenida caótica pela chuva e pela véspera do feriado. Os famintos, os entediados, os pobre-ninguéns, os todos-os-outros, se engalfinharam pra tirar proveito do amor que, lançado ao homem sem mãos aparentes, agora ficou esparramado, exposto e restante no asfalto, como um resto de feira reluzente. ''*



Acho que não quero entender mais nada. Sei que você cansou de esperar por muitas coisas e é justo que vá viver a sua vida. Tudo é sempre justo não é? Não parece justo quando eu lembro das palavras que você dizia pra mim e que eu dizia pra você. Nem parece justo diante dos planos perdidos, e das imagens que sobraram no HD. Mas no fundo eu sei, é justo.

E eu que errei tanto e pensei tanto em terminar mas sempre soube que não queria isso. Esse eu, esse eu ficou aqui; Encerrado à força. Lágrimas a mais, quilos a menos. Lembranças, ruas que recuso a passar, lugares que me fazem sofrer. Buraco, desespero, Deus, Kardecismo, terapia, voluntariado. E os dias.

Não faço força pra matar o amor, ele foi tão imenso e bondoso que não merece ser apunhalado pela pressa de algo novo. A dor trouxe a fé, e o tempo trará o alívio nas formas que forem necessárias.

Nada mais é do tamanho do que eu quero dizer ou do que eu sinto. Não agora. Eu sinto o maior medo e a maior tristeza que já senti em toda a minha vida. Mas ainda tem amor; Claro, claro que depois ele precisa ser transformado em outra coisa. Mas ainda não é depois.

Penso em ligar de novo, conversar de novo. Mas te dou o respeito que você pediu. Respeito a sua vida mais leve, a sua escolha. Respeito porque é assim que você é feliz. Não? Parece que Sim. ...Assim, longe da minha falta de coragem. Perdoa. Lembra do meu pedaço bonito, lembra que é tudo seu. E que se um dia você quiser voltar, eu conto tudo. Contigo do meu lado eu conto tudo, te assumo. Não fiz a tempo, mas faria pra ter você de volta. Pra poder morder novamente a tua bochecha.



*''A tristeza é uma criança de rua com uma faca apontada pra falta de amor que o mundo ofereceu pra ela. (...) A tristeza é ter que comer um risoto caro, com amigos felizes, quando só se quer vomitar no banheiro de casa, sozinha. E triste.

Eu quero vomitar tudo. A água, a saliva, a língua, o seco da garganta, a amígdala, o apartamento de milhões de metros quadrados vazios que virou o meu peito. Quero vomitar minha pele, meus olhos, meu fígado, meus horários, minhas listas de vontades. Eu quero tudo fora, tudo fora. Eu quero eu fora. Eu quero ir pra fora de onde está tão devastado e de onde eu tinha pintado tudo de azul pra te ver sentado bem no centro. No centro do meu peito, você, com a luz azul da minha esperança.

(...) A tristeza é o amor ter acabado sem ter acabado. É não saber o que é amor e não saber o que é acabar e não saber o que é não acabar. A tristeza só sabe que é triste e todo o resto ela só tenta saber, mas fica louca e desiste."*



Eu te amo. Até não poder mais.







jc

[trechos marcados * : Tati Bernardi]




11 de nov. de 2012



"Andei sonhando um pouco, também. Ainda não é proibido, mas tem um preço. Depois andei tentando não sonhar, mas isso também tem um preço. Não tenha expectativas, me disseram. Fiquei tentando não ter expectativas - essa coisa que amolda e desenha o futuro? Me pareceu tão seco."



Caio F. Abreu* in Despedida provisória - A Vida gritando nos cantos*

2 de nov. de 2012

Claro  que  me  dá  um  puta  medo  de  estar  me transformando  numa  criatura  intoxicada  de  palavras  escritas  — tenho  visões futuras onde me vejo fechado num lugar com as parede cobertas de livros, quem sabe gatos, um som e mais nada. Meu coração tá ferido de amar errado, você me entende?  (...)

...já não tenho a energia que tinha aos 20 pra enfrentar essas barras. Então,
não sei. Deixo o tempo rolar, arrasto uma psicoterapia, cuido da horta, do jardim,
evito ir ao centro da cidade — na espera meio boba de que pingue a última gota
que me faça arrumar as malas e ir embora pra qualquer lugar mais pro norte. Não
sei quando. Tento arrumar um esquema-de-segurança. Mas a minha desesperança, e
o meu cansaço, boicotam a cada dia esses planos. Sei lá. (...)

Cuide de você, não sofra sem necessidade, me queira bem. Te quero bem.


(CFA, carta a João Silvério Trevisan)
"[...] Eu ando muito infeliz, Dudu, este é um segredo que conto só para você: eu tenho achado, devagarinho, cá dentro de mim, em silêncio, escondido, que nem gosto mais muito de viver, sabia?"  [cfa]

31 de out. de 2012

Na frente do espelho, nessas manhãs maldormidas, acompanharás com a ponta dos dedos o nascimento de novos fios brancos nas tuas têmporas, o percurso áspero e cada vez mais fundo dos negros vales lavrados sob teus olhos profundamente desencantados. Sabes de tudo sobre esse possível amargo futuro. Sabes também que já não poderias voltar atrás, que estás inteiramente subjugado e as tuas palavras, sejam quais forem, não serão jamais sábias o suficiente para determinar que essa porta a ser aberta agora, logo após teres dito tudo, te conduza ao céu ou ao inferno. Mas sabes principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. [cfa]
Desejá-lo assim, a esse outro tão íntimo que às vezes julgas desnecessário dizer alguma coisa, porque enganado supões que tu e ele, vezenquando, sejam um só, te encherá o corpo de uma força nova, como se uma poderosa energia brotasse de algum centro longínquo, há muito adormecido, quem sabe dessa luz oculta, é então que sentes claramente que ele não é tu e que tu não serás ele, essa coisa, o outro, que mágico ou demoníaco, deliberado ou casual, te inflama assim, alucinando tua alma. Queres pedir a ele que, simplesmente sendo, te mantenha nesse atormentado estado brilhante para que possas iluminá-lo também com teu toque, com tua língua terna, com a vara de condão de teu desejo. Mas ele nada sabe, nem saberá se permaneceres assim, temeroso de que uma palavra ou gesto desastrados seriam capazes de rasgar em pedaços essa trama onde te enleias cada vez mais sem remédio, emaranhado em ti, em tua viva emoção, emaranhado no desconhecido de dentro dele, o outro - que no lado oposto do sofá cruza as mãos sobre os joelhos, quase inocente, esperando atento, educado, que de alguma forma termines o que começaste.
Muito mais que com amor ou qualquer outra forma tortuosa de paixão, será surpreso que o olharás agora, porque ele nada sabe de teu próprio poder sobre ti, e neste exato momento poderias escolher entre torná-lo ciente de que dependes dele para que te ilumines ou escureças assim, intensamente, ou quem sabe orgulhoso negar-lhe o conhecimento desse estranho poder, para que não te estraçalhe impiedoso entre as unhas agora calmamente postas em sossego, cruzadas nas pontas dos dedos sobre os joelhos. [cfa]
A presença do outro latejaria a teu lado, quase sangrando, como se o tivesses apunhalado com tua emoção não dita. Tuas mãos apoiadas em bengalas mentirosas não conseguiriam desvencilhar o gesto para romper essa espessa e invisível camada que te separa dele. Por um momento desejarás então acender a luz, dar uma gargalhada ridícula, acabar de vez com tudo isso, fácil fingir que tudo estaria bem, que nunca houve emoções, que não desejas tocá-lo nem conhecê-lo, que o aceitas assim latejando amigo belo remoto, completamente independente de tua vontade, de todos esses teus informulados sentimentos. [cfa]

30 de out. de 2012



"Mas ó, cuidado hein, sabedoria demais enjoa. Está cientificamente provado que auto-conhecimento em excesso dá vontade de vomitar."




[Paraísos Artificiais]

20 de out. de 2012

"Sertão: quem sabe dele é urubu, gavião, gaivota, esses pássaros: eles estão sempre no alto, apalpando ares com pendurado pé, com o olhar remedindo a alegria e as misérias todas."

Guimarães Rosa

12 de out. de 2012



Amigo


Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!

Amigo é um sorriso

De boca em boca,
Um olhar bem limpo

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!

Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.

Amigo é a solidão derrotada!

Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!





[Alexandre O'Neill]


Há quanto tempo, tudo isto? 
Abro o armário onde o tempo antigo
se enche de bolor e fungos; limpo os papéis,
cartas que talvez nunca tenha lido até ao fim, 
fotografias cuja cor desaparece, substituindo os 
corpos por manchas vagas como aparições; e sinto, 
eu próprio, que uma parte da minha vida se apaga
com esses restos.





Nuno Júdice

9 de out. de 2012


É certo que sou uma selva e uma noite escura cheia de árvores, contudo aquele que não temer a minha obscuridade encontrará, sob os meus ciprestes, caminhos de rosas.

— Assim Falou Zaratustra - Friedrich Nietzsche
‎"Como ciumento sofro quatro vezes: por ser excluído, por ser agressivo, por ser doido e por ser vulgar."

Roland Barthes

4 de out. de 2012



"Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só."




Clarice Lispector - in Água viva

30 de set. de 2012



A grande mentira que ele era, era verdade. Ou: a mentira nele nunca fora fraude, mas essência. Seu segredo mais fundo e mais raso...







CFA


Gostaria de voltar atrás, com sentimentos curtos e claros feito frases sem orações intercaladas, iluminar aos poucos...







CFA
Sonho

Teve um sonho, então. O primeiro que conseguia lembrar desde agosto.
Chegava num bar com mesas na calçada. Ele morava num apartamento em cima daquele bar, no mesmo prédio. Estava aflito, esperava um recado, carta, bilhete ou qualquer presença urgente do outro. Sorrindo na porta do bar, um rapaz o cumprimentou. Não o conhecia, mas cumprimentou de volta, mais apressado que intrigado. Subia escadas correndo, ofegante abria a porta. Nenhum bilhete no chão. Na secretária, nenhum recado na fita. Olhou o relógio, tarde demais e não viera. Mas de repente lembrou que aquele rapaz que o cumprimentara sorrindo na porta do bar lá embaixo, que aquele rapaz moreno que ele não reconhecera — aquele rapaz era o outro.
Não vejo o amor, descobriu acordando: desvio dele e caio de boca na rejeição.




CFA


"Nem sempre ria. Pois havia também horários rígidos, drogas pesadas, náuseas, vertigens, palavras fugindo, suspeitas no céu da boca, terror suado estrangulando as noites e olhos baixos no espelho a cada manhã, para não ver Caim estampado na própria cara. Mas havia ainda as doçuras alheias feito uma saudade prévia, pois todos sabiam que era tarde demais, e golpes de fé irracional em algum milagre d
e science-ficcion, por vezes avisos mágicos nas minúsculas plumas coloridas caídas pelos cantos da casa. E principalmente, manhãs. Que já não eram de agosto, mas de setembro e depois outubro e assim por diante até o janeiro do novo ano que, em agosto, nem se atrevera a supor."










Caio F.
"Pois veio a primavera e trouxe tantos roxos e amarelos para a copa dos jacarandás tantos reflexos azuis e prata e ouro na superfície das águas do rio, tanto movimento nas caras das pessoas do Outro Lado com suas deliciosas histórias de vivas desimportâncias..." 

cfa


''E por dentro do encantamento, da esperança e do desejo, entremeado começou a ter pena do outro, mas isso não era justo, e tentou o ódio.''


CFA

23 de set. de 2012



Então era isso que eles queriam: Mentiras. Mentiras maravilhosas. Era disso que precisavam. As pessoas eram idiotas.




Bukowski
“Agora tudo que se fala é sobre computador e computador, logo todos terão um. Crianças de 3 anos de idade irão ter computadores, e todos vão saber sobre tudo, e também sobre todas as pessoas, antes mesmo de conhece-las. Ninguém mais vai querer conhecer ninguém, nunca mais. E todos serão reclusos, solitários, igual a mim”

- Charles Bukowski


''E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho, que se traia sem se dar conta ao mesmo tempo que se encolhia numa mistura de insensatez e incoerência. Uma verdadeira preciosidade. Uma jóia, linda e espiritual. Talvez algum homem, uma coisa qualquer, um dia a destruísse para sempre. Fiquei torcendo para que não fosse eu."




Bukowski


"Como qualquer um pode lhe dizer, não sou um homem muito bom. Não sei que palavra usar para me definir. Sempre admirei o vilão, o fora-da-lei, o filho-da-puta. Não gosto dos garotos bem barbeados com gravatas e bons empregos. Gosto dos homens desesperados, homens com dentes rotos e mentes arruinadas e caminhos perdidos. São os que mais me interessam. Sempre cheios de surpresas e explosões. Também gosto de mulheres vis, cadelas bêbadas que não param de reclamar, que usam meias-calças grandes demais e maquiagens borradas. Estou mais interessado em pervertidos do que em santos. Posso relaxar com os imprestáveis, porque sou um imprestável. Não gosto de leis, morais, religiões, regras. Não gosto de ser moldado pela sociedade."
















Bukowski


''Não gostava de nada. Vai ver eu estava com medo. É isso: eu tinha medo. Eu queria ficar sozinho num quarto com a janela fechada. Fiquei curtindo essa ideia. Eu era um trambolho. Eu era um lunático.''







Bukowski
‎"Resisti a meus pais, resisti à escola e depois resisti a tornar-me um cidadão decente. O que quer que eu fosse, fui desde o começo. Não queria que ninguém mexesse com isso. E ainda não quero."

Bukowski


"O melhor é esquecer de tudo, quando uma mulher se volta contra você. Elas podem te amar um tempo; mas um dia dá um click, e, então, veem você morrendo atropelado na sarjeta e ainda cospem em cima."







Bukowski
"Agora
algo tão triste
se apoderou de nós
que o fôlego nos deixa
e não podemos sequer
chorar."

Bukowski


E é nisto que toda a sociedade está se transformando: em longas filas à espera de alguma coisa.







Bukowski
Brincadeira de criança, é só disso que essa gente entende: brincadeira de criança – passam da placenta pro túmulo sem nem se abalar com esse horror que é a vida.

Bukowski
A dor chega, BANG, e eis que ela te atinge. É real. E aos olhos de qualquer pessoa pareces um estúpido. Como se te tornasses, de repente, num idiota. E não há cura para isso, a menos que encontres alguém que compreenda realmente o que sentes e te saiba ajudar…

Bukowski


"Quando a gente acha que chegou no fundo do poço, sempre descobre que pode ir ainda mais fundo. Que escrotidão."




Bukowski


Nada estava em sintonia, nunca. As pessoas vão se agarrando às cegas a tudo que existe : comunismo, comida natural, zen, surf, balé, hipnotismo, encontros grupais, orgias, ciclismo, ervas, catolicismo, halterofilismo, viagens, retiros, vegetarianismo, Índia, pintura, literatura, escultura, musicas, carros, mochila, ioga, cópula, jogo, bebida, andar por ai, iogurte congelado, Beethoven, Bach, Buda, Cristo, heroína, suco de cenoura, suicídio, roupas feitas à mão, voos a jato, Nova York, e aí tudo se evapora, se rompe em pedaços. As pessoas têm de achar o que fazer enquanto esperam a morte. Acho legal ter uma escolha.





Bukowski


"Quase amanhecendo,
pássaros pretos no fio de telefone
esperando,
enquanto eu como o sanduíche esquecido de ontem
às 6 da manhã, em uma tranquila manhã de domingo.


Um sapato no canto
de pé
o outro posicionado ao seu
lado.

Sim, algumas vidas foram feitas para ser
desperdiçadas." 








Charles Bukowski

21 de set. de 2012

‎"O Espiritismo, como doutrina moral, só impõe uma coisa: a necessidade de fazer o bem e evitar o mal. É uma ciência de observação que, repito, tem conseqüências morais. Que são a confirmação e a prova dos grandes princípios da religião; quanto às questões secundárias, ele as abandona à consciência de cada um”.

Allan Kardec


No final, não nos lembraremos das palavras dos nossos inimigos, mas do silêncio dos nossos amigos.


Martin Luther King


Todos deveriam ter um lugar favorito no universo, um lugar que dê a sensação de que você vai escapar do que for, de seja lá o que você está sentindo. Aquele lugar onde as pessoas de quem você gosta vão te procurar quando você provavelmente sumiu por não aguentar a barra, como acontece no cinema, quando os personagens estão perdidos, prostrados ou loucos de amor.




[Gabito Nunes]

16 de set. de 2012

O importante, o irreversível, o definitivo, o claro nessa história toda é que eu gosto muito de ti. Muito mesmo. Não adoro nem venero, mas gosto na medida sadia e humana em que uma pessoa pode gostar de outra, O resto é detalhe. [cfa]
Também não sei se o que me prende tanto a você. Deve ser justamente essa impossibilidade de sermos, finalmente, nós. [cfa]
E enquanto eu olhava o céu limpo da cidade suja, interpunha entre nós seu primeiro muro de palavras. Confusas, atormentadas, sobre tudo e sobre nada: palavras amontoadas umas sobre as outras, como se amontoam tijolos para separar alguma coisa de outra coisa. Eu, mal sabendo que esse — que parecia seu jeito mais falso de ser — seria nas semanas seguintes seu jeito mais verdadeiro, às vezes único. [cfa]
‎"Cansado. Tu olhas para o teto imaginando mil coisas, memórias, compromissos, desejos, saudades. Te fito com dor. A luz do abajur faz sombra na tua pilha de livros, que folheei um dia e quis pedir emprestado mesmo sabendo que não havia intimidade para pedidos. Por razões que desconheço, nossas aproximações foram sempre pela metade. Interrompidas. Um passo para a frente e cem para trás. Retrocessos. Descaminhos. Procuro sinais de algum amor teu. Vestígios de noites passadas. Tu não me vês, estou incógnita a te observar. Como sempre estive, olhando pelas janelas, de longe, coração apertado. Nós poderíamos ser amigos e trocar confidências. Assistiríamos a filmes, taça de vinho nas mãos, e tu me detalharias as tuas paixões e desatinos. Nós poderíamos ser amantes que bebem champanhe pela manhã aos beijos num hotel em Paris. Caminharíamos pela beira do Sena, e eu te olharia atenta, numa tentativa indisfarçável de gravar o momento e guardá-lo comigo até o fim dos meus dias. Ou poderíamos ser apenas o que somos, duas pessoas com uma ligação estranha, sutilezas e asperezas subentendidas, possibilidades de surpresas boas. Ou não. Difícil saber. Bato minhas asas em retirada. Tu dormes, e nos teus sonhos mais secretos, não posso entrar. (…) E me pergunto se, quem sabe um dia, na hora certa, nosso encontro pode acontecer inteiro." [cfa]
— Você sente falta, não é? Você sente muita falta dele? zero hora, trinta e dois minutos, doze graus, zero hora, trinta e três minutos, doze graus, zero hora, trinta e.

— Sinto, às vezes. Sinto muita falta.

[cfa]
Quem se importa com o meu olho escancarado e cheio de desencanto? Quem, entre todos vocês, estenderá a mão para passar no meu cabelo? Quem cantará um acalanto para a minha insônia? — [cfa]
“Em outros tempos diria “Tomei raiva de você”. Mas nem foi raiva, vejo isso agora. É só tristeza mesmo. “Tomei tristeza de você”.” 

[cfa]

4 de set. de 2012

— escrever uma carta é um ato de desmedida coragem.

Fernanda Young.

2 de set. de 2012



Quer saber um segredo? As pessoas mentem. Nem todo mundo viveu um amor. E não é todo mundo, desculpa a franqueza, que vai ter a chance, a sorte, a ousadia...




Clarissa Corrêa
‎"E o amor?, você me pergunta. O amor, ah, sei lá. O amor nem dá pra definir direito. Acho que é um desejo de abraçar forte o outro, com tudo o que ele traz: passado, sonhos, projetos, manias, defeitos, cheiros, gostos. Amor é querer pensar no que vem depois, ficar sonhando com essa coisa que a gente chama de futuro, vida a dois. Acho que amor é não saber direito o que ele é, mas sentir tudo o que ele traz. É você pensar em desistir e desistir de ter pensado em desistir ao olhar pra cara da pessoa, ao sentir a paz que só aquela presença traz. É nos melhores e piores momentos da sua vida pensar preciso-contar-isso-pra-ele. É não querer mais ninguém pra dividir as contas e somar os sonhos. É querer proteger o outro de qualquer mal. É ter vontade de dormir abraçado e acordar junto. É sentir que vale a pena, porque o amor não é só festa, ele também é enterro. Precisamos enterrar nosso orgulho, prepotência, ciúme, egoísmo, nossas falhas, desajustes, nosso descompasso. O amor não é sempre entendimento, mas a busca dele. Acho que o amor não é o caminho mais fácil, pois mais fácil seria dizer a-gente-não-se-entende-a-gente-não-combina-tchau-tchau. O amor é uma tentativa eterna..."

(Clarissa Corrêa)

19 de ago. de 2012



‎'Outro dia, uma amiga se queixou ao telefone- ‘Tenho vinte e sete anos e descobri que, até agora, tenho me alimentado de migalhas'. Falei qualquer coisa banal e consoladora, como 'a vida é assim mesmo, paciência' - e desliguei. Só não desliguei a cabeça- a frase ficou dias dando voltas dentro dela. Até que, não lembro bem como, de algum lugar de dentro de mim veio a resposta que não cheguei a dar à minha amiga- 'Mas será que isso que você chama de migalhas não será, afinal, o próprio pão?'


Caio Fernando Abreu

15 de ago. de 2012

Daqui uns anos 30. E eu ainda beirando o mesmo abismo, Zézim (vou te pegar emprestado Zézim, porque eu tinha que falar isso pra alguém, então eu te achei num livro e te peguei pra mim, um pouquinho só viu...). Em toda crise é isso, toda vez que algo me deprime eu volto a essa coisa escura que grudou na minha alma e não sai mais. Aquele dia que falei pra eles que sou homossexual e eles tiveram nojo, me acharam perturbada, influenciada, acharam que ia passar, chantagearam o meu coração, Zézim; e eu deixei, ainda deixo.

Já passaram mais de meia dúzia de anos, e olha eu aqui me debatendo como um passarinho doente, sem coragem de bater pela primeira e definitiva vez as asas; me sentindo responsável por quem tranca minha gaiola, a inversão dos papéis naturais, o bichinho que precisa cuidar do seu dono. O animal culpado por ser quem ele é.

Dói tanto Zézim, passo meses engasgada olhando pela janela, sem cantar, sem sorrir, sem piar, sem me mudar daqui da pequena jaula. Com um medo cada vez maior de perder o meu amor por ser tão covarde. Sei que ela não se importa e compreende e sabe e espera e ama, mas também sei que dói.

Passei muitos meses sem escrever algo que preste, mas tem uma noite que a gente explode; pena não explodir pela boca, pelo grito; pena ficar só aqui nessas páginas, escondida como sempre. Ôh Zézim, a hipocrisia permanece até hoje, e amanhã, e não sei quando vou manda-los à merda. Talvez nunca, idiota sentimental que eu sou. Mas por dentro, Zézim, por dentro é que eu guardo o desamor, deles e meu; a falta de apoio, a mentira, a cegueira, o fingimento, os olhares que me tombam tanto. E quem me levanta Zézim? A não ser os braços dela que eu amo tanto. Nem pai, nem mãe, nem irmão, nem ninguém, só ela. Tô cada vez mais longe deles sem fazer as malas, isso não é traumático?

Mas deixando aqui no cantinho as queixas, tenho tido uma sorte imensa de ter ela comigo, mesmo com tanto esconde-esconde e tanta dificuldade. A cor dos olhos dela me mantém. O futuro eu volto pra contar depois.


jc

13 de ago. de 2012

‎''Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco seria uma outra forma de loucura. Necessariamente porque o dualismo existencial torna sua situação impossível, um dilema torturante. Louco porque tudo o que o homem faz em seu mundo simbólico é procurar negar e superar sua sorte grotesca. Literalmente entrega-se a um esquecimento cego através de jogos sociais, truques psicológicos, preocupações pessoais tão distantes da realidade de sua condição que são formas de loucura — loucura assumida, loucura compartilhada, loucura disfarçada e dignificada, mas de qualquer maneira loucura.''

Ernest Becker

11 de ago. de 2012

Eu sou o intervalo entre tudo aquilo que você vive sem mim.


jc


Que importa a paisagem, a Glória, a baía
a linha do horizonte?
-O que vejo é o beco.


Manuel Bandeira

3 de ago. de 2012



Não é preciso fazer barulho pra romper os laços.







jc

27 de jul. de 2012

"Algumas vezes me pego fantasiando que esse é o jeito dele de mostrar que gosta de mim. Rude, corrosivo, fulminante. Tenho pra mim que todas essas historinhas que ele administra muito bem não passam de uma fuga. No fundo ele precisa que uma garota de coração bom passe suas camisas e dê um jeito nessa cara de menino sujinho. Um dia ele se toca, e eu quero estar aqui pra ver."


Gabito Nunes

19 de jul. de 2012



‎"Na cama, à noite, enquanto penso em meus muitos pecados e em meus defeitos exagerados, fico tão confusa pela quantidade de coisas que tenho que analisar que não sei se rio ou se choro, dependendo do meu humor. Depois durmo com a sensação estranha de que quero ser diferente do que sou, ou de que sou diferente do que quero ser, ou talvez de me comportar diferente do que sou ou do que quero ser.
Minha nossa, agora estou confundindo você também."




- O Diário de Anne Frank

14 de jul. de 2012

“Fui eu que mudei? Se não fui, então foi este quarto, esta cidade, esta natureza; é preciso escolher. Acho que fui eu que mudei. (...) Mas, enfim, tenho de reconhecer que sou sujeito a estas transformações súbitas. Sucede que só muito raras vezes penso; assim uma infinidade de pequenas metamorfoses vai-se acumulando em mim sem eu dar por isso. E depois, um belo dia, produz-se uma verdadeira revolução.”

(Jean-Paul Sartre, in A Náusea)


Eu sabia que o isolamento e a solidão eram muito necessários para meu amigo nessas horas de intensa concentração mental em que ele passava toda partícula de evidência, construía teorias alternativas, contrapunha uma à outra, e decidia quais eram os pontos essenciais e quais eram os insignificantes...




(Sherlock Holmes em: O cão dos baskerville)

11 de jul. de 2012



Na ânsia, nossos relacionamentos andam modernos demais, revolucionários demais, experimentais demais, como um filme francês meio nonsense, executado do fim ao início, cuja grande inovação é não ter roteiro nenhum por trás de uma profunda tristeza de seus personagens perdidos, sem saber exatamente qual lente mirar, em que momento, qual o plano, qual o foco. A fotografia denota nosso daltonismo afetivo: enxergamos o amor cor-de-rosa através da câmera, quando na realidade ele é roxo-escuro. Como um hematoma.







Gabito Nunes

8 de jul. de 2012

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse -- "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria -- "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse -- e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse -- "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago -- mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem -- "mas de onde é que você tirou essa história?" -- eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Rubem Braga in "A traição das elegantes", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1967, pág. 91.

7 de jul. de 2012

‎"Como é ridículo o amor... alheio!" 


(Mario Quintana)


“E, aquele que não morou nunca em seus próprios abismos 
nem andou em promiscuidade com os seus fantasmas, não foi marcado. 
Não será exposto às fraquezas, ao desalento, ao amor, ao poema.”


Manoel de Barros

30 de jun. de 2012

Sinto falta daí. Me digo que na verdade sinto falta do colo, do conforto, do útero. E que devo ficar por aqui. Então tenho que ser forte, tenho que me exercitar em auto-controle. Claro que me pergunto pra-quê? - e claro que não tenho resposta. Mas vou atravessando os dias, a casa muito vazia, às vezes dói. Nos últimos dias, além de trabalhar, cozinho, faço pequenas coisas. E atravesso os dias, um pouco opaco, com breves iluminações - como há pouco, no portão, olhando o céu.
Passa um avião.

[Carta a Luciano Arabarse - Caio 3D 1980; pág 244]

28 de jun. de 2012



O que você fez daquilo que te fizeram?




[Sartre]

26 de jun. de 2012



Que amava. Liberta do entorpecimento do sono que a perseguia até então, encarava-se antipatizada consigo mesma. Que amava? Pedra no caminho, a interrogação afazia tropeçar um pouco despeitada. Não com a pedra nem com o tropeção, que pedras sempre havia e tropeções eram fatais, mas com não poder passar adiante, sacudindo a poeira do vestido e acariciando prováveis arranhões. Lavava o rosto, fazendo-se mais e mais inteligente à medida que se despia dos acessórios do sono. Resíduos nos olhos, fios de cabelo fora do lugar, gosto ruim na boca – com sabonete, água, pasta e escova de dentes ela os eliminava um a um. E em sagacidade, crescia. Cabelos erguidos num coque, quase gênio, voltava à afirmação. Que amava. Pois afirmara e não apenas, modesta, indagara. Passava a outras operações. Matinais, femininas. No corpo, aquela quase idiota sensação de sujeira que o sono deixava. Sentia-se imoral ao acordar. Incestuosa. Principalmente quando sonhava consigo mesma. Ah houvesse um jeito de dormir completamente só, sem a companhia sequer de si mesma. Não havia. Incestuosamente, então, deitava-se às dez da noite para acordar às seis da manhã. Oito horas exatinhas. Às vezes detinha-se e pensava: antilunar o meu sistema. Quando deitava, a lua ainda não tinha vindo; quando acordava, já fora embora. Carregava pesada e magoada uma lua vista apenas por dentro. Que amava a lua? Obsessiva, voltava à pedra. Talvez descobrindo que lhe entrara no sapato. Por que não jogá-la longe de vez? Que amava? Em resposta, mirava-se triunfante no espelho, boca pintada, cabelo penteado, seios empinados, e totalmente assumida em mulher. Vagamente desgostosa triunfo murchando na vistoria do corpo -aqui entre nós, dizia-se, quase indecente na intimidade consigo mesma -aqui entre nós, um tanto passado. Franzia as sobrancelhas, disfarçava a raiva espiando pela janela.
O sol ainda não viera. E sem lua nem sol ela estava sozinha no banheiro. Esta revelação a fez baquear um pouco. Meio tonta com a solidão e a brancura do momento. Trôpega, buscou apoio na extremidade da pia, que respondeu fria e asséptica ao pedido de ajuda. Olhou para a porta, e se então tivesse saído teria escapado. Mas ficou. Ferindo a si mesma e por si mesma sendo ferida. Com o pretexto de lavar as mãos, molhou os pulsos, sem admitir a tontura – que às vezes tinha esses pudores íntimos.
Recuperada, voltou à pergunta. Que amava? Com fricotes de namorada, fingia não querer responder, não querer saber -que amava? Didática, explicou-se: amar, verbo transitivo direto: quem ama, ama alguma coisa. Ou alguém, completou. Analisou-se, voltando à afirmação do início -que era uma mulher e amava: 1)Que era uma mulher; 2)Que amava: a) alguma coisa ou b) alguém. O pronome indefinido colocou-lhe um arrepio definido e melancólico na espinha. 







Caio F.

20 de jun. de 2012



Contudo – de fato e amargamente – quase amores se dão como formigas em pote de mel.




Gabito Nunes
‎"Quando a gente se vê, eu estendo a mão de forma solene, quero que ele perceba que minha cena é um grande gesto de reconciliação. Que eu não esqueci, mas que também todo aquele drama não tem mais importância. Não somos mais jovens estúpidos, agora somos adultos estúpidos. Ademais, eu ando meio desesperado por pessoas à minha volta. Tenho passado tempo demais em casa, sozinho, sem brilho, desocupado, numa pequena crise." 



Gabito Nunes

11 de jun. de 2012

Estamos afastados a quase meio ano. Mas na verdade já faz muito mais tempo e essa contagem não passa de um disfarce para amenizar o que não pode mais ser corrigido. 


Entrelinhas para todo lado e mensagens indiretas alimentam a pequena esperança de que talvez um dia nossos passos se cruzem novamente. Pouco creio. Mas não desisto.


Bem e mal se chocam na nossa história e temos enorme dificuldade de deixar tudo pra trás, exatamente por estarem tão entrelaçados estes opostos.


Memórias persistem faça sol ou faça chuva. Sinto falta de coisas simples e tudo ficou tão tortuoso. Falar de você exige uma frieza tão trabalhosa de alcançar.


Apenas aceito que tudo mudou. E que mudamos. Você, seguindo a mesma linha também permanece imóvel. É preciso escolher, mesmo que errado, mesmo que forçado.


Desejo - como deseja uma criança o presente de pacote tão colorido - te perdoar por me fazer perder algo tão valioso. E desejo - como um adulto deseja não esperar mais por presentes - me perdoar por perder você.


Procuro notícias tuas. Não sei de quase nada. E queria muito que estivesse bem, feliz, amando, sem maiores necessidades, sem grandes desesperos, sem solidão e respirando, e sorrindo bobo. E apesar de todo ciúme que me corrói antecipadamente, queria que alguém estivesse cuidando de você.


Sei que se nos reencontrarmos é provável que não se toque nesse assunto, que se finja que tudo passou e se use palavras doces outra vez. E apesar de ser mentira, sim, eu quero exatamente assim.






jc

9 de jun. de 2012



"Nenhum de de nós quer morrer. Queremos ficar, ainda que seja a marretadas, no coração do outro. Nenhum de nós quer não ser. Aliás, como seria não ser mais, já tendo sido um dia?" 




Hilda Hilst


”Sobretudo um dia virá em que todo meu movimento será criação, nascimento, eu romperei todos os nãos que existem dentro de mim, provarei a mim mesma que nada há a temer, que tudo o que eu for será sempre onde haja uma mulher com meu princípio, erguerei dentro de mim o que sou um dia, a um gesto meu minhas vagas se levantarão poderosas, água pura submergindo a dúvida, a consciência, eu serei forte como a alma de um animal e quando eu falar serão palavras não pensadas e lentas, não levemente sentidas, não cheias de vontade de humanidade, não o passado corroendo o futuro! O que eu disser soará fatal e inteiro!”




(Clarice Lispector - do Livro: Perto do Coração Selvagem.)

6 de jun. de 2012



É como um anjo que veio me dar harmonia nesses dias meios remotos, o sorriso é tão aberto, me transmite tanta paz, é como um vento forte e gostoso no rosto da gente. (...) É, eu amo ele profundamente. 




(Caio Fernando Abreu)


A liberdade não é um luxo dos tempos de bonança; é, sobretudo, o maior elemento de estabilidade das instituições.

Ruy Barbosa


A felicidade é benéfica para o corpo, mas é a tristeza que desenvolve os poderes da mente.

Maurice Proust


Quem está apaixonada? Ela por ele? Eu por ela? Ou tudo não passa de um sentimento solto, sem dono, caçoando de todos nós?


Martha Medeiros


"Talvez eu e meu corpo formemos uma conspiração pelas costas de minha própria mente."







Friedrich Nietzsche


Vivo de esboços não acabados e vacilantes. Mas equilibro-me como posso, entre mim e eu, entre mim e os homens, entre mim e o Deus.





Clarice Lispector


No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta


Cecília Meireles

27 de mai. de 2012



Por um momento, cede. Nãos sejas assim implacável, incorruptível. Não paires, esquece as asas. Fecha os olhos. (...) Afunda o rosto, solta a língua. Lambe os orifícios. Deixa a baba escorrer. Geme, cadela no cio.




CFA in, Triângulo Das Águas


Nada acontecia. A tática solenidade entre nós começou a pesar tanto que. como um professor ou um psicanalista, tive o impulso de olhar o relógio para dizer qualquer coisa como bem, por hoje é só. Eu não conseguia dizer nada.




CFA in, Triângulo Das Águas


Gosto de seu rosto sem pintura alguma, do ar severo, das marcas sob os olhos...







CFA in, Triângulo Das Águas


... é necessário o escuro porque dele brota a luz. Como uma larva no interior visguento da crisálida, sem supor que a borboleta será seu próximo momento.




CFA in, Triângulo Das Águas


‎"Já agora te sigo a toda parte,
e te desejo e te perco, estou completo,
me destino, me faço tão sublime,
tão natural e cheio de segredos,
tão firme, tão fiel... Tal uma lâmina,
o povo, meu poema, te atravessa.”

-
Carlos Drummond de Andrade, in: A Rosa do Povo. 1. ed. 

São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p. 9.


Ele exigia liberdade, solidão, desprendimento, descobri depois. 







CFA
"Pensei em repetir palavras mágicas para concentrar energia em cada uma delas, mas nenhuma me ocorreu. Abracadabras, shazams. Talvez não fossem necessárias, porque eu estava carregado de amor por nós todos." 

[CFA]

26 de mai. de 2012



‎"Talvez eu devesse esquecer essa utopia de ser escritor profissional, e organizar uma vida de verdade, dessas que a gente chama de Vida, em maiúsculo, e grita coisas como “não se mete na minha vida!” e “da minha vida cuido eu!” – eu adoraria alguém cuidando da minha vida, se metendo, ou dizendo o que devo fazer dela, porque eu confesso que não sei." 




Gabito Nunes
Como homem ciumento eu sofro quatro vezes: por ser ciumento, por me culpar por ser assim, por temer que meu ciúme prejudique o outro, por me deixar levar por uma banalidade; eu sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.

Roland Barthes

21 de mai. de 2012


Sem nome


Você precisa fazer alguma coisa, as pessoas dizem. Qualquer coisa, por favor, as pessoas dizem. O que não dá é pra ficar assim. Nem que seja piorar, nem que seja enlouquecer. Olho o rosto das pessoas. Tem os ossos, dai tem a parte de dentro. Tem os olhos e tem o fundo dos olhos. Da boca saem esses sons. De repente alguém encosta em mim. Pra perguntar com o quentinho da mão se estou ouvindo e entendendo. Sorrio e torço pra pessoa ir embora. Torço pra alguém chegar, só pra torcer bem pouquinho por algo. Mas dai a pessoa começa a falar e torço pra pessoa ir embora. Não tem o que fazer, não tem o que dizer, não tem o que sentir. Sou uma ferida fechada. Sou uma hemorragia estancada. Tenho medo de deixar sair uma letra ou um som e, de repente, desmoronar.

Quando toca uma música bonita, minha ironia assovia mais alto. Um assovio sem melodia. Um assovio mecânico mas cuidadoso, como tomar banho ou colocar meias. Outro dia tentei chorar. Outro dia tentei abraçar meu travesseiro. Não acontece nada. Eu não consigo sofrer porque sofrer seria menos do que isso que sinto. Tentei falar. Convidei uma amiga pra jantar e tentei falar. Fiquei rouca, enjoada, até que a voz foi embora. Tentei aceitar o abraço da minha amiga, mas minha mão não conseguiu tocar nas costas dela. Não consigo ficar triste porque ficar triste é menos do que eu estou. Não consigo aceitar nenhum tipo de amor porque nenhum tipo de amor me parece do tamanho do buraco que eu me tornei. Se alguém me abraçar ou me der as mãos, vai cair solitário do outro lado de mim.

Se eu pudesse usar uma metáfora, diria que abriram a janela do meu peito e tudo de bom saiu voando. Eu carrego só uma jaula suja e escura agora. Se eu pudesse usar uma metáfora, eu diria que tiraram as rodinhas dos meus pés. Eu deslizava pelo mundo. Era macio existir. Agora eu piso seco no chão, como um robô que invadiu um planeta que já foi habitado por humanos. Mas eu não posso usar metáforas porque seria drama, seria dor, seria amor, seria poesia, seria uma tentativa de fazer algo. E tudo isso seria menos.

Não briguei mais por você, porque ter você seria muito menos do que ter você. Não te liguei mais, porque ouvir sua voz nunca mais será como ouvir a sua voz. Não te escrevo porque nada mais tem o tamanho do que eu quero dizer. Nenhum sentimento chega perto do sentimento. Nenhum ódio ou saudade ou desespero é do tamanho do que eu sinto e que não tem nome. Não sei o nome porque isso que eu sinto agora chegou antes de eu saber o que é. Acabou antes do verbo. Ficou tudo no passado antes de ser qualquer coisa. Forço um pouco e penso que o nome é morte. Me sinto morta. Sinto o mundo morto. Mas se forço um pouco mais, tentando escrever o mais verdadeiramente possível, percebo que mesmo morte é muito pouco. Eu sem nome você. Eu sem nome nós. Eu sem nome o tempo todo. Eu sem nome profundamente. Eu sem nome pra sempre.







Tati Bernardi

18 de mai. de 2012

‎"A negra sorriu:
- Tá vendo?
- Tou. A gente liberta o negro.
A negra ia apanhando o tabuleiro. Henrique ajudou-a a botar as latas vazias em cima. Ela perguntou:
- Você sabe qual é a coisa mais melhor do mundo?
- Qual é, minha tia?
- Adivinhe.
- Mulher...
- Não.
- Cachaça...
- Não.
- Feijoada...
- Não sabe o que é? É cavalo. Se não fosse cavalo, branco montava em negro..."

Jorge Amado
‎"entre as recordações dos dias felizes, pensava na insistente e excruciante presença de uma ausência" 


- A Ilha, pg 39
Aldous Huxley
‎"E depois os anos foram passando, ela casou, eu andei por aí, a gente nunca mais se viu nem se falou, seria estupidez manter contato com aqueles olhos de coruja que ela tem, aquelas pupilas que puxam, e o medo e o desejo acabam brigando de soco dentro da gente."

Gabito Nunes.

15 de mai. de 2012



‎"Era isso que eu queria: reações. Agora sim ela parece a minha garota de 1999. Bufando, me mandando ir embora, chorando de amor e ódio, cheia de ciúme, vibrando, pulsando, me jogando coisas, as sobrancelhas circunflexas, aquele veiazinha saltando nas têmporas. Enfim, é assim que eu gosto de vê-la: sentindo. Hoje é ira e desprezo. Amanhã é paixão e carinho. Quem é capaz de explodir de raiva, também é capaz de explodir de amor." 







Gabito Nunes

12 de mai. de 2012



‎"Enfim, é o conjunto que importa. O que vou fazer então? Mesmo que algum dia alguém me olhe e enxergue em mim um copo meio cheio, eu sei que a porção que carrego não dá nem pra mim, que dirá dividi-la com outra pessoa. Quem se sujeitar a ficar comigo morrerá de sede, provavelmente." 







Gabito Nunes

10 de mai. de 2012

‎'Fui dormir umas vezes tão feliz, que, se
soubesse minha força, levitava.
Em outras, tanta foi a tristeza que fiz versos.'
.
[Adélia Prado]

8 de mai. de 2012

‎"Então, se és digna de si mesma, não teima em espertar a lembrança morta ou expirante; não busca no olhar de hoje a mesma saudação do olhar de ontem, quando eram outros os que encetavam a marcha da vida, de alma alegre e pé veloz."

Machado de Assis

6 de mai. de 2012

‎" A adversidade é como um longo vento forte. Não quero apenas dizer que ela nos afasta de lugares onde poderiamos ir, mas também arranca de nós tudo, menos as coisas que não podem ser arrancadas, de modo que depois nos vemos como realmente somos, e não apenas como gostariamos de ser."

[Arthur Golden in "Memórias de Uma Gueixa"]


Eu tenho medo de você abrir o espartilho superficial que aperto todos os dias para me manter ereta, firme e irônica. Minha angústia particular que me faz parecer segura. Eu tenho medo de você melhorar minha vida de um jeito que eu nunca mais possa me ajeitar, confortável, em minhas reclamações. Eu tenho medo da minha cabeça rolar, dos meus braços se desprenderem, do meu estômago sair pelos olhos. Eu tenho medo de deixar de ser filha, de deixar de ser amiga, de deixar de ser menina, de deixar de ser estranha, de deixar de ser sozinha, de deixar de ser triste, de deixar de ser cínica. Eu tenho muito medo de deixar de ser.

Agora é menos de uma hora. Você vai chegar e automaticamente minha agenda de milhares de regras e horários e controles vai desaparecer. E eu vou ficar apavorada porque só o que eu tenho é o contorno mentiroso que eu dou para os meus dias. E você, porque me abraça e me dá outro desenho, é o vilão da minha vida programada. Você é o tufão de oxigênio que invade meu nariz mas, porque estou com tanto medo, mais parece falta de ar. Agora é menos de menos de uma hora. Preciso terminar esse texto. Mas eu tenho medo, sobretudo, de terminar esse texto. Sobre o que eu vou escrever se você for melhor do que esperar por você?




Tati Bernardi


Não lido bem com nada que não seja eu em minha bolha arejada de imaginações. Mentira, não lido bem com minha bolha arejada de imaginações também. Não lido bem com nada. Não deu tempo de virar mulher. 




Tati Bernardi


Mas você eu já desisti de esquecer. Pra sempre eu vou sentir um elevador de gelo seco em todos os meus andares quando você aparece de alguma maneira. Quando tem foto sua, quando tem recado seu, quando tem você atravessando a avenida.

Esse texto nem ficou bom, porque agora amo outra pessoa e então eu nem consigo te dizer nada incrivelmente bonito. Mas queria vomitar a última micrograma de sal viciante no fundo de um saquinho de salgadinhos que fazem mal mas que, na pressa, às vezes usamos como refeição.




Tati Bernardi