27 de nov. de 2008


O bar dos deprimidos disse um amigo meu. Devolvo um sorriso honesto. Isolo-me denovo a observar esse vai e vem bobo das ruas. Eu sei, é verão novamente. Já contei como o verão me deprime? Não a estação em si, mas o que ela nos rouba. Falo de nós, os esquisitos de plantão. O verão chega e parece nos arrancar o direito de sofrer, sofrer trancado em casa, com livros e vinhos, cd's anos 80, comida instantanea e toda a parafernalia que nos ressussita enfim. Chega assim invadindo e nos tira a solidão macia do inverno. Divertimento vira obrigação e é bom vc estar disposto a sorrir sempre, do contrario terá sem duvida alguem pra te falar o quanto o dia está lindo e tudo que vc deveria fazer. Chatíssimo. Chatíssimo o verão. Chatíssimo eu. Uma buzina ensurdecedora e acordo do meu semi-transe. Estou ainda ali vivendo o verão. Esbarrando em corpos suados e muitos biquinis. Sim, pq as almas só voltam depois do carnaval sabia? Pois é. Estou nauseado. Maldito vai e vem né, fazer o que. Quase amanhecendo, mais do que hora de ir pra casa. Vou correr. Tenho pressa de fechar as cortinas e colocar o ar-condicionado pra gelar, talvez congelar, idéias.

















jc

26 de nov. de 2008


Não sei se ainda faz algum sentido te contar que as luzes da cidade morrem devagar. Que os amores morrem devagar. Que as insinuações nascem devagar. Que o gozo é um carinho que nasce devagar e muito antes. Te contar que tudo nasce e morre devagar. Menos você e eu e todos eles ali que passam, tá vendo? Quer saber, não valeu a pena te contar. Esquece esse vazio que essas coisas todas dão. Vem, vamos pra casa.






jc

E O Vento Levou...
Lobão
Composição: Lobão - Tavinho Paes


Remoendo vícios
Dei de cara com você
Lembrança de hospício
De loucura e de prazer
Jogo da memória
Tua imagem se formou
Veio o vento e te levou!
Saudade de cisne
Um romance tão barato
Um de nós comia
E o outro cuspia no prato
Sem ressentimento, em silêncio digo adeus
Meu destino te esqueceu!
Sangra e sai de mim, não quero teu amor
Solidão não tem depois!
A mágoa já sumiu, tudo se acabou
Veio o vento e te levou!
Lembro a tua cara quando a gente terminou
Narciso ferido, teu espelho se quebrou
Cínica vanguarda, teu amor de marcha-a-ré
Disse adeus e deu no pé
Coração de bruxa. uma pele de maçã
Sexo de luxo, possuído por satã
Louca de desejo, você me fascinou
No inferno eu fiz amor.

23 de nov. de 2008


Eu quero ligar. Eu quero ligar e dizer que sinto saudades.
Dizer que sinto muito. Que não era pra ter sido assim. Mas não. Cumpro o ciclo. Pijama. Escova de dentes. Abajur. Cama. Inexistente emocional. Obsoleto.







jc

Uma carta embaixo da porta. Você ainda é capaz de imaginar a alegria de ver uma carta embaixo da porta? Nada de caixinhas de correio. Nada de mensagens eletronicas. Nem ligações. Uma carta perfumada. Um pedaço de alguem embaixo da sua porta. Porque não fiquei para sempre naqueles anos tão distantes? Não vou, não posso, não quero me adaptar ao século XXI. Mayday !!!!!













jc



Quero acabar com tudo. Vontade de esvaziar as gavetas. Tacar fogo em todos os papéis. Sair pela janela de manhã. Dar um nome sempre novo, sempre falso. Viver tantos em um só para não morrer nunca. Não morrer assim como morro as vezes quando sou só eu saindo pela porta da frente, voltando pela porta também da frente. Cansei do WELLCOME no tapete. Limpar os pés pra entrar. Tudo tão correto. Quero deixar pegadas sem registro. Digitais sem desenho. Não quero ser lembrado. Não quero ser chorado. Não quero ser uma saudade. Dor sem ferida. Melodia sem pause. Eu quero ser uma alucinação. E abraço sempre as pessoas como se elas fossem uma alucinação. Fica tudo confortável assim.







jc


tristeza.
mas uma tristeza tão dentro que nem dói.
só permanece.













jc

21 de nov. de 2008


Ohh Deus eu fechei aquela porta por conforto. Sete chaves em busca de paz. Deus eu nem sei porque estou falando com Você. Talvez Você nem esteja olhando pela minha janela está noite. Quantas janelas esse mundo tem. Se não me ouvir agora fica no vento o meu registro. Secretária eletrônica celestial, espero que já exista por lá. Oh Deus as pessoas te chamam porque acham ainda loucura falar sozinhas. Mas e se eu não quiser te dar um nome. Se eu não fizer igual a todos eles e não decorar os mandamentos. Se as orações forem improvisadas no caminho, medrósas e comuns, angustiadas por um ombro amigo, ou simplesmente alegres e agradecidas como uma canção. Será que me ouves mesmo assim? Deus, eu estou sozinho em casa e não quero atender a porta hoje. Rebeldia minha, quero ver se estás mesmo em todos os lugares como dizem. Sozinho em casa então? Não. Não, porque brilham estrelas e sopra o vento e abrem-se flores, quebram-se ondas, amam-se os bichos, passam os rios, movem-se o sol e a lua em espetáculo. Sim Tu existes para mim também. Questionadora minha conversa Contigo eu sei. Oro tão diferente é fato. Mas amo cada grão de poeira e cada pólem. Por isto não me podem julgar os que Te dão um único nome, melhores do que eu não são pois eu Te vejo vivo, vivo em todas as coisas e eles talvez não, piores também não são, dão-Lhe menos trabalho certamente. É só por agora, vou ali sonhar pecados mas eu volto. Sei que isso não é problema. Em pecados sou igualzinho ao mundo todo.















jc

20 de nov. de 2008


Tenho saudade de muita gente. Gente que eu li e que me leu também. Gente que precisou seguir porque a vida é assim. Eu invento moda. Tendência pra não seguir tendência nenhuma. Marco horários. Desmarco. Na vida as coisas acontecem já desacontecendo e isso que é lindo. Lindo porque te faz chorar numa sexta a tardinha enquanto a manicure te conta uma história triste que te lembra algo seu. Enfim. Foi lindo um dia. Não foi? Tenho amigos tão especiais que me abraçam sempre com aquele jeito ímpar. Em quantos abraços eu morri de amor e é tão bom. Próximo ao dia 10 vc abre a sua conta telêfonica e encontra tantos DDD's à pagar, já não são grátis os abraços de antes mas enfim, vc ainda morre de amores e tá tudo compensado. Gosto de tagarelar entrelinhas; Aquelas coisas que vc não precisa contar por inteiro porque a outra pessoa completa pra vc, se for uma alma especial, é claro. De gente não-especial tô tão cansada e me calo sempre. São tantas caras e bocas todos os dias, ser uma flor da porta pra fora todos os dias enquanto a Rita Lee grita na sua cabeça
'-Erva Venenosa ê ê ê' ...
Me sento a noite e escrevo sempre para alguém, é bom escrever para alguem, mesmo desconhecido. Eu sou uma palavra-mágica-sem-dono porque ainda não sei se prefiro as fadas ou admiro as bruxas. Sempre detestei gente que repara em tudo, repara e comenta. Eu prefiro as canetas sabe. Sou chata sim, muito chata, convencida e adoro reclamar, alias, adoro não, eu amo. Mas eu tenho um humor apuradíssimo e isso me permite reclamar e continuar amável. Falei que eu era convencida... Que nada. Eu sou é feliz. Me fiz feliz. Desculpe se eu deixo de ligar ou não deixo recado tipo um "táiiis bouuuaa amouurr?" eu sofro com isso mas eu gosto de vc viu, só que a vida segue para todas as direções e eu já entendi isso. Nem sempre sobra forças pra gente se rasgar em mil bilhetinhos. Já se tem que ser tão forte pra guardar as pessoas quietinhas aqui dentro né? Hoje acordei pensando amanhã, não por comando, só uma curiosodade quase infantil, linda, no ontem eu não penso por respeito mesmo, sabe como é? Quero deixar tudo original, porque quando a gente pensa e lembra e fala demais ele se perde, muda todo, vira bobagem. Não que eu não me lembre das tardes de verão no quintal quando demorava demais pra anoitecer por causa do sol e por causa das pessoas que brincavam comigo ali. Eu me lembro. Só não quero turvar, desgastar, nublar de invenções. Vivo os hoje's lutando para não me distrair com essas mentiras modernas, lutando pra que eu seja sempre de verdade, e vc também, vc que eu deixo chegar perto de mim e analiso tanto antes.
É a vida. Prefiro lenta. Observo, sinto o gosto, o cheiro.
Minha-engrenagem-corações-mãos-manivelas-pormenores.











jc

Tem umas coisas que a gente vai deixando, vai deixando, vai deixando de ser e nem percebe. Quando viu, babau, já não é mais. Mocidade é isso aí, sabia? Sabe nada.















cfa

"E para sempre então, agora, me sinto uma bolha opaca de sabão, supensa ali no centro da sala do apartamento, à espera de que entre um vento súbito pela janela aberta para levá-la dali, essa bolha estúpida, ou que alguém espete nela um alfinete, para que de repente estoure nesse ar azulado que mais parece o interior de um aquário e desapareça sem deixar marcas. "









Caio F Abreu

"porque há o momento do irremediável
como existem os momentos anteriores
de passar adiante em silêncio
tentando tirar o espinho da carne..."











CFA

16 de nov. de 2008


A cabeça dói ! A vida me dói !
O que não dói é a morte. Parece paz.
Uma prece pelo caminho à tardinha.
O que estou
dizendo
é que quero que vc morra em mim.









jc

12 de nov. de 2008


Tenho noites tão sós. Dias. Semanas. Ultimamente mêses. Sós e felizes de serem sós. Inabalávelmente sós. Nem campainhas, nem telefones, nem festas no andar superior ou ao lado ou na frente do meu nariz transformam esse tipo de solidão. Solidão com paz é uma sobremesa perfeita pra mim nesses tempos em que não me sei. São tempos em que não me vejo refletido em vidro algum. Tempos em que minha sóbra não passa de um desenho infantil móvel. Tenho mãos de alisar lençóis, colocar flores na água, mudar de canal. Tenho pés de girar cirandas, ciradinhas repetidíssimas em torno de fotos. Tenho olhos que não me trasmitem. Silêncios que explicam mau, não mau por falta de coêrencia, mas mau por falta de quem os queira compreender. Ninguem quer. Hoje ou amanhã ninguem mais quer entender. Eles não se sabem porque iam querer me saber. Exercicio tão tolo. Exercicio para pessoas como eu. Que passam épocas se procurando assim entre os móveis da casa. Entre os quadros do Louvre. Entre as buzinas do mundo. Entre as estátuetas do parque. As folhas secas de todos os anos. Todos parecem cansados disso. Não desejam mais SER. Eu desejo. Gosto de SER. De me procurar mesmo que nem sempre encontre. Mesmo que bata em paredes, em póstes, em porta-retratos, em cabides, em porões e sotãos de mim. Mesmo que eu já não seja. Gosto de mapear. Rodovia só. Avenida só. Róta de colisão da sala até o quarto. Vice e versa. BUMMMM em mim !!!!!!!
jc

"(...) inconscientemente, parecia querer buscar em autores, filmes e músicas, algum tipo de consolo. Como se alguém precisasse chegar bem perto do sofá, onde estava, colocar uma das mãos em seu ombro e dizer que aquilo era normal, que acontecia também com outras pessoas e que iria passar."













Caio F. Abreu

Deus, por quanto tempo ei de esperar!!!!!!!!???
Foi assim, aos bérros, que eu descobri a vida. Que eu descobri o coquetel mortal que ela é.
Lento, sujo, contaminado.
Foi assim que eu descobri que temos todos uma péle doentia. Que sente clara a vida triste.
Que observamos com olhos de maldade as alegrias mansas.
Foi assim que eu vivi todos os drinques,
os motéis, as malas, os postos de gasolina,
os vômitos nas beiras-de-estrada,
amores devidamente vomitados, beijos vomitados,
sorrisos vomitados, vomitadas tambem as saudades por uma questão de sobrevivência.
Eu sou triste porque vomitei todas as minhas estrelas.
Porque todas as covardias de todos os guetos do mundo difamaram a vida em mim.
jc

11 de nov. de 2008


Afogo-me em venenos meus. Intimos.
Homicídas sem sucesso. Eles me suicidam.









jc

Lhe ouço chamar. Revirando em pesadelos, passeio, outras éras. Acordo num susto, o corpo queimando em suores frios, contraditório como tudo que é intenso. Pela janela observo raios e trovões, anjos caindo. E nada cai do céu o povo diz em auto tom. Mas cai sim. Cai. Só vc que eu não vejo voltar. O abajur desenha uma sombra na parede à minha frente. Não vejo sombra alguma, vejo vc. Linda, perfeita, com sono, cabelos desalinhados. Pede-me para esperar-te e corre devolta até o quarto. Volta ainda mais linda, não entendo como pode ser possivel. Não que tivesse penteado os cabelos, ou trocado a camisola de seda preta curta sensual inesquecivel. Volta com um bilhete nas mãos. Não um bilhetinho azul como o que Cazuza cantou. Um bilhetinho vermelho. Intenso. Envolto num laço de cor palha. Delicadissimo porém marcante, assim como tu. Me entregas e pedes para que eu leia em casa somente. Atendo teu pedido. Atenderia todos eles por todas as vidas. Beijo-te em despedida e tu me perguntas se não posso mesmo ficar, respondo um triste e suave Não. Pelo qual até hoje me lastimo feito criança boba. Leio. Sorrio. Sorrio diante de tuas juras, teus planos, tuas promessas, tua felicidade. Sorrio pleno. Sorrio diante da ultima linha do bilhete tambem. Escrita em rabiscos amáveis apressados doces. Um código tão nosso. Cheio de amor, de entrega, de esperança. Nada disso eu sonhei, foi tudo real demais. Guardo ainda o bilhetinho vermelho. Guardo ainda sua imagem em perfeição. Emoldurada na memória. Blindada. Eternizada. Tão feliz tão triste recordação. Saudade é contráditório sim. Passau-se muito tempo e até hoje não compreendo onde erramos. O que é um erro. O que exatamente nos afastou assim. Mas tambem não lamento. São todas boas as lembranças. Me guardas tenho certeza. Te guardo tanto quanto, tenha certeza. Olho a janela outra vez. Ainda chove. Desligo o abajur. Deito-me. Pego o controle remoto em cima da cabeceira. Preciso de uma música baixinha para afastar da cabeça sua voz, sussuros, gemidos. Qualquer música do mundo menos aquelas. Seleciono outro genêro. Ecoa um trovão lá fora. Avisando-me que de vez enquando tudo isso irá voltar. Mas assim como vem tambem irá cessar. Repetidamente. Largo sobre o lençol o controle. O controle que auxilia no controle de mim. Adormeço pouco depois. Mas não demora muito faz-se hora de amanhecer. Amanheces em mim. Quietinha. Durante o dia tu não gritas. Silenciamos. Prosseguimos. Invadimos outras vidas. Duplamente contraditóras. No que acreditar?











jc

"Odeio as almas estreitas,
sem bálsamo e sem veneno,
feitas sem nada de bondade
e sem nada de maldade".









Nietzsche

O vento seca suas lágrimas. Vc está onde tudo começou. Dessa vez sozinha. Nada bem. Aconteceu. O que era acaso se perdeu. Amei demais. Amou tarde demais.











jc

8 de nov. de 2008


Mas estávamos ali, como dois sobreviventes — para usar a linguagem que ele provavelmente teria, se falássemos disso — de um naufrágio. Ou para usar a minha própria linguagem, essa de gente que vive amontoada entre outras gentes, mesmo quando se retira, porque a vida incha lá fora, invadindo as janelas fechadas, sobreviventes de uma série descolorida de fracassos iguais e mesmas tentativas, idênticas queixas, esperas inúteis, mágoas inconfessáveis de tão miúdas.





CFA


De certa forma, então,
o que poderia dizer de mais exato
se quisesse descrever a mim mesmo,
seria algo assim: sou cinza e longo.
Ou: é cinza e longo o que
de mim obliquamente
se reflete em certos vidros.








CFA

7 de nov. de 2008


Meus textos da madrugada escrevo mais cedo. E as mais bonitas mentiras em conversas apressadas eu contei. Na verdade eu nunca contei absolutamente nada, um episódio aqui, uma cena ali talvez. Escrevendo por tantos anos me veio um pensamento parecido com: ninguem merece tuas verdades completas.









jc

Arrasto móveis e escrevo cartas e envio e-mails e espero você. Espero sem esperar. Sem esperança. E tiro fotos e congelo momentos. Todos eles. Pra não perde-los como perdi à ti. Durmo tarde e aguardo invernos e repito musicas. Sinto falta. Te olho ao longe e te vigio constante te prendo assim. Ilusões que tenho. Frustrações. Empenho. Quando parar?











jc

6 de nov. de 2008


O céu esconde o que eu queria ver
Estrelas são olhos na escuridão
Noite inundada pela imensidão
Invade as portas da solidão
.
No universo nada é separado,
Nada é excomungado, é só união
O resto é ilusão
Entre o caos e a ordem se fez
A conciliação
.
Ooh-ooh-ooh
De quem é sanidade,
Se tens medo com pedras nas mãos?
Ooh-ooh-ooh
De quem é a verdade
Quando ainda lavam-se as mãos?
.
Queria ter uma vida normal
Queria poder sentir mais igual
Poder dormir quando a noite vem
Sonhar com flores caindo das mãos
.
Mas há uma cruz pesada, são espinhos
Que não param de sangrar em vão
Sangrando então
Todas as culpas inventadas
Derramadas no chão





Débora Blando

Um corpo quer outro corpo.
Uma alma quer outra alma e seu corpo.
Este excesso de realidade me confunde.
Jonathan falando:
parece que estou num filme.
Se eu lhe dissesse você é estúpido
ele diria sou mesmo.
Se ele dissesse vamos comigo ao inferno passear
eu iria.
As casas baixas, as pessoas pobres,
e o sol da tarde,
imaginai o que era o sol da tarde
sobre a nossa fragilidade.
Vinha com Jonathan
pela rua mais torta da cidade.
O Caminho do Céu.







Você não me sai da cabeça. Não me sai. Mas em off.







jc

Aquele vinho tinha gosto de beijo.
Não que fosse prazer. Era saudade.







jc

Hoje eu percebi que a minha raiva ultrapassa o vidro da sua janela. E fiquei parado ali, com a caneta na mão, me perguntando o que faltava para aquele vidro estilhaçar. Minha raiva ultrapassa simplesmente porque ultrapassaria qualquer muro. Qualquer chapa de aço. Qualquer continente cimentado. Ultrapassa mas não chega. Não chega entende. O seu vidro não se quebra assim, e foi por essas e outras que eu te amei um dia. Dorme em paz querida. Eu tinha pedras para jogar mas desisti. Tinha tambem papel e caneta, mas coloco no bolso agora. Adeus.






jc

5 de nov. de 2008


Tenho olhos agitados. Ensaio cambalhótas entre as desgraças. Dores embrulhadas em lonas de circo. Na retina o desenho de um palhaço farsante.









jc

Existe culpa em ser calado em meio à tantas palavras?







jc

Sempre me pego a pensar que a piedade é uma farsa. Estou na sala ouvindo um velho blues. É tão complicado se expor. Ser taxado de cético, frio, calculista, diabo à quatro. Mas não, eu não sou incapaz de amar. Amor ao próximo existe sim. Mas piedade... eu não sei não. Não sei se podemos realmente nos importar com algo além, quando estamos em nossas salas, imersos na meia-luz, afundados em almofadas, hipnotizados por perfumes do passado que passam e somem e passam e somem. É tudo tão vazio ao redor não é? O éco do blues. E vc, vc que é o centro do centro do centro das suas atenções. Piedade existe sim, é existe realmente. Já tive muita dó de mim durante esses anos todos.





jc

Entrei sem prestar muita atenção em nada. Alias, há meses eu não prestava atenção em nada. Talvez jamais tenha prestado. Não sei bem. A moça retocava a maquiagem. Mas não era uma cena comum. Seus olhos eram tristes, estavam úmidos, um sinal de lágrima recém chorada, recém sufocada, recém secada. Ela não me olhou diretamente, mantinha a cabeça baixa. Nunca na vida um silêncio me perturbou tanto. Muito menos um silêncio de um estranho. Esfreguei os olhos e molhei o rosto na tentativa de voltar ao meu estado normal, o da indiferença encenada com maestria pelos dias e dias afora. Levanto a cabeça, vejo um reflexo de rosto molhado no espelho. Estou só. Maquiagem nas mãos. Retoco. Sorrio leve. Saio. Devolta à vida. Vida? Não. Acho que não. Devolta ao mundo.






jc

4 de nov. de 2008


Envaidecida e orgulhosa
Não fui feita para a tal felicidade

Prefiro a paz da solidão
Afoga-me a razão

Sempre há um preço a se pagar
Não haverá quem te socorra

Não gritarei as desesperanças
Há desesperanças?






jc

Construa a ponte e venha reavivar as lembranças
Do meu perfume que ja se esvai na madrugada
Do meu batom que já se apaga
Faça-te atento, meu sussuro é baixinho
A saudade me enfraqece a alma e a voz
Tão nobre fazer dos escombros pontes
Apressa-te
Chegues a tempo,
Longe ou perto ainda sou tua
Mas nada é para sempre
As pontes quebram tambem, querido.







jc