31 de dez. de 2010



Espero que de algum modo, qualquer um, a gente esteja junto sempre que a lua mudar de fase, ali, bem ali tão longe. Que a gente esteja junto no ultimo minuto do ano e pense um no outro vendo fogos coloridos. Continuo aqui, esperando que a gente continue junto até julho, na metade de tudo aquilo que cansa e fere mas continua sem remédio, apesar de remediado estar. Estou esperando que a gente se ame pra sempre, de algum modo, tanto faz qual deles; e que um dia a gente se encontre pra ficar ainda mais junto. Espero que mesmo esquecendo tudo isso você não esqueça que está comigo pelos doze meses, há muitas vidas. Eu te espero nessa e em outras, embaixo da árvore, sentados na grama do parque ou numa nuvem, sei que te encontro - ainda mais - qualquer hora.



[jc]

17 de dez. de 2010


"Tudo que se repetia na minha cabeça sobre ele era que: - deixou marcas inapagáveis espalhas pelo meu eu físico e emocional. e tudo isso gritava grita gritará fazendo ecos de mil anos por dentro e por fora." [jc]

10 de dez. de 2010

...sem encarar de frente sequer meu próprio rosto, a tal ponto me desgostavam o humano de mim e dos outros, próximos ou distantes, e de todos. 

[cfa]
"Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda".

(Clarice Lispector)

30 de nov. de 2010

"Estou a um quase passo de admitir que a vida que levo é um pretexto para ofuscar a vida que não gostaria de ter. Vida como desculpa por existir. E o incrível é que eu não dou o passo. Fico tão imóvel que estar parada é o meu maior movimento. O mais violento. E não consigo sair exatamente daquele lugar onde todas as sensações ocorrem, justamente por estar tão grudada em mim é onde mais dói: na pele. "



C. Lispector
"Haveria um grande silêncio em mim, mesmo que eu falasse"




C. Lispector
"Pois vivi tudo - menos a vida. E é isso o que não perdôo em mim, e como não suporto não me perdoar, então não perdôo aos outros. A este ponto cheguei: como não consegui a vida, quero matá-la."





C. Lispector

27 de nov. de 2010

A opinião alheia, então, torna-se detalhe desimportante. O que pode resultar – e geralmente resulta mesmo – numa enorme solidão. Dignidade é quando a solidão de ter escolhido ser, tão exatamente quanto possível, aquilo que se é dói muito menos do que ter escolhido a falsa não-solidão de ser o que não se é, apenas para não sofrer a rejeição tristíssima dos outros.




[Caio F.]

25 de nov. de 2010

“Acredito na verdade fundamental de todas as grandes religiões do mundo. Acredito que todas elas foram inspiradas por Deus, e que eram necessárias para os povos a quem foram reveladas. Se pudéssemos ler as escrituras das diversas religiões com a cultura dos seguidores daquelas religiões, chegaríamos à conclusão que todas elas estão de acordo nos seus princípios básicos e que são úteis para todos.” 




(Gandhi)

24 de nov. de 2010

-"Não foi nada. Deu saudade, só isso. De repente, me deu tanta saudade." 

[Caio F.]
E tem gente maravilhosa que, de repente, vai ficando longe, difícil de ver – e aí dança. Mas também acho que aquilo que é bom, e de verdade, e forte, e importante – coisa ou pessoa – na sua vida, isso não se perde. E aí lembro de Guimarães Rosa, quando dizia que “o que tem de ser tem muita força”. A gente não tem é que se assustar com as distâncias e os afastamentos que pintam. 






[Caio F.]

E se antes, um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem


O Teatro Mágico

22 de nov. de 2010

"Não existe razão no mundo porque eu devesse ficar sem ela. Não existe nada mais importante do que o nosso relacionamento, nada. E nós curtimos estar juntos o tempo todo. Nós dois poderíamos sobreviver separados, mas pra quê? Eu não vou sacrificar o amor, o verdadeiro amor, por nenhuma piranha, nenhum amigo e nenhum negócio, porque no fim você acaba ficando sozinho à noite. Nenhum de nós quer isto, e não adianta encher a cama de transa, isso não funciona. Eu não quero ser um libertino. É como eu digo na música, eu já passei por tudo isso, e nada funciona melhor do que ter alguém que você ame te abraçando." 




(John Lennon)
O Sono

O sono que desce sobre mim,
O sono mental que desce fisicamente sobre mim,
O sono universal que desce individualmente sobre mim —
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.

Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
É o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,
É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para isso.

O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.

Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.

Meu Deus, tanto sono!...



Álvaro de Campos

15 de nov. de 2010

Minha inteligência tornou-se um coração cheio de pavor,
E é com minhas idéias que tremo, com a minha consciência de mim.
Com a substância essencial do meu ser abstrato
Que sufoco de incompreensível,
Que me esmago de ultratranscendente,
E deste medo, desta angústia, deste perigo do ultra-ser,
Não se pode fugir, não se pode fugir, não se pode fugir!

Cárcere do Ser, não há libertação de ti?
Cárcere de pensar, não há libertação de ti?

Ah, não, nenhuma - nem morte, nem vida, nem Deus!



[Álvaro De Campos]

12 de nov. de 2010

'A consciência de amar e ser amado
traz um conforto e riqueza à vida que nada mais consegue trazer.'

 

Oscar Wilde
'Amor: eu vos amo tanto.
Eu amo o amor.
O amor é vermelho .
O ciúme é verde .
Meus olhos são verdes.
Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros.
Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber.'

 Clarice Lispector 
"Ontem tomei um táxi e me distraí tanto olhando pela janela que no meio do caminho estendi a mão para o banco vazio do lado querendo pegar tua mão. Tô com saudade."


Caio F.
"Eram dias parados, aqueles. Por mais que se movimentasse em gestos cotidianos - acordar, comer, caminhar, dormir -, dentro dele algo permanecia imóvel..." 


Caio F.
"O sertão é dentro da gente. E esse sertão não é feito apenas de aridez e provocação, mas também de veredas, de estações de alívio e beleza em meio à solidão."
 


João Guimarães Rosa

8 de nov. de 2010

"Não me lembro mais qual foi nosso começo. 
Sei que não começamos pelo começo.
 Já era amor antes de ser."


 (Clarice Lispector)
Ninguém suspeita de meu segredo, caminho severa pelas calçadas, olhos baixos para que minha sede não transpareça (...) ninguém me adivinha assim como tenho andado - castamente cinzelada no topo deste morro onde os ventos não cessam jamais de uivar, tendo entre as mãos, como quem segura lírios maduros dos campos, uma espera tão reluzente que já é certeza.


[Caio F.]
E os desertos, você sabe — sabe? — não param nunca de crescer.





[ Caio F.]

Não faço nada: cinemas cheios demais, ruas cheias demais. Quero voltar pra casa, ver Tv até a imbecilidade, dormir sem sonhos. Alguma coisa me falta desesperadamente. Estou perdido. Atravesso pontes, viro esquinas medievais. O dia é cinza e frio (...) Quero qualquer coisa que não tenho agora, um país, uma língua, um amor (...) 

[ Caio F.]
O que você chama de "merda" eu chamo de "arte". 

Cada um vê aquilo que é capaz de ver.





[Caio F.]


Gosto de mim assim, e mesmo que não houvesse mais, só por isso. Quando o mais coerente seria estar talvez numa clínica psiquiátrica.


Caio Fernando Abreu

1 de nov. de 2010

... — e ele achou bonito e lembrou (um pouco só, porque não havia tempo) remotos passeios, infâncias, encantos, namoradas. 




[Caio F.]

31 de out. de 2010

"...não sou mulher de correr da dor, deixo ela entrar as pouquinhos, esbugalhar meus sentidos, enfraquecer meu orgulho. Quando vejo, estou calada novamente, ouvindo o que você não diz e vendo o que você não faz. Apenas curtindo a limitação profunda e gigantesca da sua beleza esmagadora. Feliz em ser uma formiga que carrega milhões de plantas nas costas só para ver algum esforço meu alimentando você."



Tati Bernardi

29 de out. de 2010

 “Chorei porque não era mais uma criança com a fé cega de criança. Chorei porque não podia mais acreditar e adoro acreditar. Chorei porque daqui em diante chorarei menos. Chorei porque perdi a minha dor e ainda não estou acostumada com a ausência dela.”. 


(Anaïs Nin)

"Fico tentado a lhe dizer muitas coisas, todas elas inúteis, começando por lhe recomendar um analista. Ela se antecipa.
- Espero que você tenha o bom gosto de não me sugerir uma terapia.
- E eu espero que você tenha o bom gosto de não se suicidar.
Luísa ri. Ela só comete suicídio em pequenas doses cotidianas.
- Em algumas fases mais, outras menos. Comecei a me matar aos 17 anos e não parei até hoje".




Maria Adelaide Amaral

A única coisa mais inconcebível do que ir embora era ficar; a única coisa mais impossível do que ficar era ir embora. Eu não queria destruir nada nem ninguém, Só queria sair de fininho pela porta dos fundos, sem causar alvoroços nem consequências, e depois só parar de correr quando chegasse à Groelândia.




Elizabeth Gilbert.

Uma grande, uma enorme, uma devastadora falta de saco pra qualquer pessoa. Até rolaram umas possíveis galinhagens, mas não tô mais aqui pra isso, depois, ai haja forças para fazer caras & bocas, dizer coisas, arquitetar encontros, telefonemas. 




Carta para Maria Clara Cacaia Jorge
Caio F.

25 de out. de 2010

E quantos metros cúbicos de suor, para chegar a esse não-resultado!


Carlos Drummond 

24 de out. de 2010

{...}  chorou livremente, como se esta fosse a solução. As lágrimas corriam grossas, sem que ela contraísse um só músculo da face. Chorou tanto que não soube contar. Sentiu-se depois como se tivesse voltado às suas verdadeiras proporções, miúda, murcha, humilde. Serenamente vazia.


Clarice Lispector in Perto do Coração Selvagem
Tá certo. Não há nada a dizer, não há nada para explicar. Ou você entende, através da música e até do silêncio, e estamos conversados (e enriquecidos). Ou você não entende nada, porque seu repertório é outro. Então, numa gestalt, também estamos conversados. 

Ninguém enche o saco de ninguém, você me deixa em paz, eu te deixo em paz – certo? Fica combinado assim: se não te atrapalho, você me dá licença de ser assim do jeito que sou? (...)

Tem dias em que tudo se encaixa, como no momento das peças finais dos quebra-cabeças, e tem aqueles em que tudo se desencaixa numa aflição tonta de não haver sentido nem paz, amor, futuro ou coisa alguma.

Tem dias que nenhum beijo mata a fome enorme de outra coisa que seria mais (e sempre menos) que um beijo. Mas tem aqueles outros, quando um vento súbito e simples entrando pela janela aberta do carro para bater nos teus cabelos parece melhor que o mais demorado e sincero dos beijos. Precisamos dos beijos, precisamos dos ventos. Tem dias de abençoar, dias de amaldiçoar.

E cada um é tantos dentro do um só que vê e adjetiva o de fora que escapa, tão completamente só no seu jeito intransferível de ver: “E eu sou só eu só eu só eu”.


[Caio F.]
Penso em ti e dentro de mim estou completo.


Fernando Pessoa.
Não, não quero mais gostar de ninguém porque dói. 


(Clarice Lispector)
Eu sinto ciúme quando alguém te abraça, porque por um segundo essa pessoa está segurando meu mundo inteiro.


Caio F.

23 de out. de 2010

Mas sei que terei paz antes da morte 
e que experimentarei um dia o delicado da vida. 


(Clarice Lispector)
Minha essência é inconsciente de si própria (...)


(Clarice Lispector)
O futuro pesa toneladas em mim. 


(Clarice Lispector)
É preciso que você reze por mim. Ando desnorteada, sem compreender o que me acontece e sobretudo o que não me acontece. 




(Clarice Lispector)
A noite era de uma grande e escura delicadeza. 




(Clarice Lispector)
Às vezes, quando olho certas coisas passadas a que dei tanta importância e que não tem mais nenhuma, fico chateada. 


(Clarice Lispector)
Mas você - eu não posso nem quero explicar - eu agradeço. 


(Clarice Lispector)
Ser às vezes sangra. 


(Clarice Lispector)

21 de out. de 2010

"Agora os ouvidos dos meus ouvidos acordaram e agora os olhos dos meus olhos se abriram". 




[Cummings]  

19 de out. de 2010

Mas para você, revelo humilde: o que importa é a Senhora Dona Vida, coberta de ouro e prata e sangue e musgo do tempo e creme Chantilly às vezes e confetes de algum carnaval, descobrindo pouco a pouco seu rosto horrendo e deslumbrante. Precisamos suportar. E beijá-la na boca. De alguma forma absurda, nunca estive tão bem. Armado com as armas de Jorge.




Caio F.

18 de out. de 2010

Mas não, não diria nada. Não se diz mais uma palavra quando, de muitas formas nunca claras o suficiente para que os outros entendam, tudo já foi dito.






Caio F.
E a dor feito buraco de traça disfarçado sob castiçais.


Caio F.
"Ah, meu deus, tenho esperança adiada." 


Clarice Lispector

"Tenho tanta vontade de ser corriqueira e um pouco vulgar e dizer: a esperança é a ultima que morre."






 [Clarice Lispector]

17 de out. de 2010

"Não sabem quem eu sou nem de onde eu vim. Só conseguem enxergar o que eu revelo. Nunca olham por baixo do pano. Se eu rio, acham que estou alegre. E não sabem que às vezes quando eu rio com força demais, é que estou à beira do desespero."

(Henry Miller)

''Ora, tristeza, tente ao menos ser mais leve.
Quero de volta meus discos de dance music, que você tirou da prateleira. E minhas roupas estampadas, que sumiram do meu armário depois que você se instalou aqui.
Por favor, não tente entrar em contato comigo com as velhas razões de sempre. Não é a fria lógica dos seus argumentos que irá guiar meu coração daqui por diante. Quero ver a vida por outros olhos, que não os seus. Quero beber por outros motivos, que não afogar você dentro de mim. Cansei da sua falta de senso de humor, do seu excesso de zelo. Vá resolver suas carências em outro endereço.''

[Fernanda Young]

Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o própro coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...


CANÇÃO DE OUTONO 
- Cecília Meireles