24 de mar. de 2013

Eu gosto que o lábio inferior desaparece um pouco quando você diz uma ironia ou quando acha que é gostoso. Eu gosto que você explode sem perder um ponto sereno e intocável nos olhos, como se nada estivesse acontecendo. Eu gosto que quando nada está acontecendo seus olhos não perdem um brilho de dor. Eu gosto que você não sabe se sabe cuidar mas queria ajudar a menina passando mal no avião. 


[Tati Bernardi]
"... Tinha suspirado,
tinha beijado o papel devotamente!
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades,
e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas,
como um corpo ressequido que se estira num banho tépido;
sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo condizia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

Primo Basílio - Eça de Queiroz

23 de mar. de 2013



...meio início, meio a meio, sem fim. 




[Leminski]
essa idéia
ninguém me tira


matéria é mentira




[Leminski]
essa a vida que eu quero,
querida

encostar na minha
a tua ferida









[Leminski]

21 de mar. de 2013


Eu a amo tanto, sou capaz de lembrar de cada traço seu com 20 e poucos anos, e tenho muito medo de um dia esquecer, coisa que será inevitável na chegada da velhice. Mas ainda que a memória falhe, eu estarei ali olhando pra eles todos os dias, mudados,  e tendo a alegria de observa-los mudar mais, NADA me faria esquecer todas as nossas sensações.

Aprendi sobre coragem com ela, quando ela veio me ver; aprendi sobre felicidade com ela, quando ela me levou pra casa na chuva; aprendi sobre amor, com tudo que entregamos uma pra outra; aprendi sobre saudade, quando ela ia embora naquele ônibus; sobre desejo, sobre beijo, sobre sexo e como essas coisas podem ser muito além do físico; aprendi que tudo pode fazer finalmente sentido; descobri as minhas falhas fingindo que só via as dela; descobri a dor quando nos separamos; mas principalmente descobri que precisava aprender a lutar, coisa que eu nunca tinha feito por ninguém; e vi que todo orgulho devia ser abandonado, e o egoísmo, e que por ela eu teria mais coragem do que o medo de toda a minha vida.

Percebi que precisava de algo muito grande pra sustentar um amor enorme, precisava de fé, sinônimo perfeito da palavra A M O R. Porque amar, as vezes, é crer no que ninguém mais vê.

Faria qualquer coisa pra nos manter juntas, mais do que juntas, unidas. Finalmente eu entendi o amor. Entendi que ele é possível pra mim, que aconteceu comigo, que acontece, e que sou muito privilegiada por experimentar tudo que ele traz.

E fico me repetindo e repetindo, porque o amor não cessa de repetir dentro de mim.

Só quero cuidar dela até o fim da minha vida. Beijar ela pra sempre e fazer dela a minha família. Desde que a conheci eu quis crer que se pode ter em comum um amor incomum. E creio!









jc




12 de mar. de 2013

‎"Só Deus perdoaria o que eu era porque só Ele sabia do que me fizera e para o quê. Eu me deixava, pois, ser matéria d'Ele. Ser matéria de Deus era minha única bondade."

- Clarice Lispector - A descoberta do mundo

1 de mar. de 2013

Dada a frivolidade derradeira de nossa luta pela vida, terá algum valor a efêmera carga de significado que a arte nos empresta? Ou o único valor estará em passarmos o tempo o mais confortavelmente possível?


- A culpa é das estrelas.
— Eu ficava dizendo ‚sempre‛ para ela hoje, ‚sempre, sempre, sempre‛, e ela só continuava falando ao mesmo tempo que eu, sem me escutar, e não disse ‚sempre‛ para mim. Era como se eu não estivesse mais ali, sabe? ‚Sempre‛ era uma promessa! Como é que você pode não cumprir uma promessa desse jeito?
— Às vezes as pessoas não têm noção das promessas que estão fazendo no momento em que as fazem — falei.
O Isaac me lançou um olhar ferino.
— Tá, tem razão. Mas você cumpre a promessa mesmo assim. Amar é isso. Amar é cumprir a promessa mesmo assim. Você não acredita em amor verdadeiro?
Não respondi. Não tinha uma resposta para aquela pergunta. Mas tive a sensação de que se o amor verdadeiro existisse, aquela seria uma definição bastante boa para ele.





- A culpa é das estrelas.
Sempre que você lê um folheto, uma página da Internet ou sei lá o que mais sobre câncer, a depressão aparece na lista dos efeitos colaterais. Só que, na verdade, ela não é um efeito colateral do câncer. É um efeito colateral de se estar morrendo. (O câncer também é um efeito colateral de se estar morrendo. Quase tudo é, na verdade.)


- A culpa é das estrelas.


Enquanto a maré banhava a areia da praia, o Homem das Tulipas Holandês contemplava o oceano:

— Juntadora treplicadora envenenadora ocultadora reveladora. Repare nela, subindo e descendo, levando tudo consigo.

— O que é? — Anna perguntou.

— A água — respondeu o holandês. — Bem, e as horas.




PETER VAN HOUTEN, Uma aflição imperial.


Que seja quem ama o dono dos meus braços, pois é no meio deles que me uno os pedaços.







Pedro Chagas Freitas
(...)

Às pernas tocadas por baixo das mesas, aos braços roçados por cima das mesas. E aos lábios que se beijavam a cada vez que se falavam.

(...)

A vida resume-se à absoluta sensação de vazio que só o que amas te oferece. A vida resume-se à absoluta sensação de vazio que não teres o corpo de quem amas te oferece. O homem vazio cheio de saudade, a cerveja vazia cheia de verdade.


(...)

E acreditou. Acreditar é um segundo de prazer. Quis estender a recordação, trazer de volta o que sabia que nunca, na verdade, fora capaz de ter.

(...)

Acreditar é um segundo de prazer. Não sabe se foi ele que correu para ela, não sabe se foi ela que correu para ele. Sabe que houve um abraço a meio do caminho – mas nem sabe (como saber o que só se sente?) qual era o caminho. Sabe ainda que ele não disse que a precisava, nem disse que a sentia como ela disse que o sentia. E sabe que aquilo, aquele nada dizer, aquele nada sentir, foi tudo o que precisou de ouvir, foi tudo o que precisou de sentir. Regressou à cama e aos lençóis e encheu-os de saudade em estado líquido. Não chorou mais do que o costume, não se quis mais dele do que o costume. E soube que a felicidade podia muito bem ser apenas aquilo: o homem defeituoso de sempre na realidade imperfeita de sempre. Acreditar é um segundo de prazer. 





Pedro Chagas Freitas
A mão dela tinha Deus dentro. Apertava-a, beijava-a com a minha mão

Há lá coisa melhor do que duas mãos que se beijam?


(...)

Sabíamos que era, como as nossas mãos eram, o tempo suficiente para aguentarmos o resto mais um tempo, para suportarmos o por fora das nossas mãos mais um tempo. Talvez, no momento em que as mãos se deixavam de amar, houvesse lágrimas, as lágrimas que se deixam cair sempre que algo cai dentro de nós. Talvez quiséssemos ficar por dentro das nossas mãos para sempre.

E ficámos. 





Pedro Chagas Freitas