29 de abr. de 2009

"Tem um aviso na porta do meu coração:
Quem não dança conforme o ritmo da casa,
não perca tempo tocando a campainha."







Maria Bethânia
no show 'Drama – Luz da noite'

28 de abr. de 2009

"Este fio fino de arame atravessado na minha testa, de têmpora a têmpora, vibrando sem parar, é preciso sim ser biônica atômica supersônica eletrônica, vocês pensam que eu sou de ferro?"







Caio F. Abreu

"Pensando melhor, continuavam sem saber, fazia muitos anos, se a realidade seria mesmo meio mágica ou apenas levemente paranóica, dependendo da disposição de cada um para escarafunchar a ferida."







Caio F. Abreu

"Limpa suas feridas. Limpa sua alma. Faz uma faxina nesse coração. e - preste atenção – faz isso logo, porque dá rato! (...) Eu comecei minha faxina. Tudo o que não serve mais (sentimentos, momentos, pessoas) eu coloquei dentro de uma caixa. E joguei fora. (Sem apego. Sem melancolia. Sem saudade). A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções. E fazer uma espécie de Feng-shui na alma."











(Fernanda Mello)

25 de abr. de 2009

"(...) é daquele emaranhado cheio de dor
e angústia fria e solidão escura
que ela arranca essa beleza que joga pra fora."




CFA

Isso nunca aconteceu, mas eu fico sofrendo como se tivesse. E passo o dia levando sustos como se todos os carinhos simples, que esqueci de reparar, fossem bonecos de mola macabros que saltam do nada. Não sei o que isso quer dizer, amor. Mas você sabe. Então, aperta minha mão e me diz que eu posso deixar tudo isso pra trás sem tanta dor.







tati bernardi
Eu gosto de você porque são tantos milhões de coisas que você sabe, mas você fritou e não diz nada. Você sabe tanto que tem preguiça. [...] Quem sabe mesmo, nem começa a dizer. É tanto que dá preguiça.








tati bernardi

E eu, nossa, não se aproveita metade, mas posso falar por horas ininterruptas e te levar a todos os extremos do universo com o que tenho a dizer. Mas a gente está cansado, tão cansado. E algo em nós, que se dá loucamente bem, escolheu assim. Não vamos jamais saber um do outro.









tati bernardi

23 de abr. de 2009


E eu corro no espelho de novo e repito cem vezes que não gosto de você. Não gosto de você. Não gosto de você. Porque se eu gostar de você, eu sei que você vai embora.







Tati Bernardi

E a gente vai por aí, se completando assim meio torto mesmo. E Deus escrevendo certo pelas nossas linhas que se não fossem tão tortas, não teriam se cruzado.









Tati Bernardi

"Amar era simples. Eu nunca tinha parado pra pensar nisso. Sequer tinha passado pela minha cabeça. Amar pra mim sempre foi o torpor, a berlinda, a coisa mais insuportável do mundo, a catapulta pra me lançar pra longe do próprio sentimento. Mas amar era simples. "







Tati Bernardi

"E quando já não sei mais o que sentir por você, eu respiro fundo perto da sua nuca, e começo a querer coisas que eu nem sabia que existiam."







Tati Bernardi

Talvez amanhã a gente possa se odiar juntos,
num ato de sinceridade livre e animal
perante tantos amores pálidos pela cidade corretinha.





Tati Bernardi

(...)
A maldade ou sacanagem ou fraqueza escancarada é fácil de afastar.
Mas o que fazer com as pessoas que te dão colo e carinho e poesia?




Tati Bernardi

"Agora eu sei que é a parte que a gente se beija com tanto ódio do resto do mundo e com uma cumplicidade bonita de não estar tentando nada. Não estamos tentando absolutamente nada. E por isso mesmo, vem devagar."







Tati Bernardi

"- Você acha que o nosso amor pode fazer milagres?
- Eu acho que o nosso amor pode fazer tudo aquilo que quisermos. É isso que te traz de volta pra mim o tempo todo. "






Caio F. Abreu

20 de abr. de 2009

(...)
Eu tinha vinte e dois anos e sentia a natureza em todas as fibras. Aquele dia estava lindo. Um sol mansinho, como se nascesse naquele instante, cobria as flores e a relva. Eram quatro horas da tarde. Ao redor o silêncio.Voltei-me para dentro, amolecida pela calma daqueles momentos. Queria dizer-lhe:- Parece-me que essa é a primeira das horas, mas que depois dela mais nenhuma se seguirá.Mentalmente ouvi-o responder:- Isso é apenas uma tendência sentimental indefinível, misturada à literatura da moda, muito subjetivista. Daí essa confusão de sentimentos, que não tem verdadeiramente um conteúdo próprio, a não ser o seu estado psicológico, muito comum em moças solteiras de sua idade...Tentei explicar-lhe, combatê-lo... Nenhum argumento. Voltei-me desolada, olhei seu rosto triste e ficamos calados.Foi então que pensei aquela coisa terrível: "Ou eu o destruo ou ele me destruirá".Era preciso evitar a todo custo que aquela tendência analista, que terminava pela redução do mundo a míseros elementos quantitativos, me atingisse. Precisava reagir. Queria ver se o cinzento de suas palavras conseguia embaçar meus vinte e dois anos e a clara tarde de verão. Decidi-me, disposta a começar no mesmo momento a lutar. Voltei-me para ele, apoiei as mãos no parapeito da janela, entrefechei os olhos e sibilei:- Essa hora me parece a primeira das horas e também a última!!Silêncio. Lá fora, a brisa indiferente. Ele ergueu os olhos para mim, levantou a mão sonolenta e acariciou os cabelos. Depois pôs-se a riscar com a unha os desenhos em xadrez da toalha de mesa.Fechei os olhos, abandonei os braços ao longo do corpo. Meus lindos e luminosos vinte e dois anos...
(...)









Clarice Lispector







De fato, nos últimos tempos, (...) não passava nada bem. Ora sentia uma inquietação sem nome, ora uma calma exagerada e repentina. Tinha freqüentemente vontade de chorar, e o que em geral se reduzia à vontade apenas, como se a crise se completasse no desejo.













Clarice Lispector

Muitas coisas que me aconteceram tão piores que estas, eu já perdoei. No entanto essa não posso sequer entender agora: o jogo de dados de um destino é irracional? É impiedoso.

















Clarice Lispector

Na rua, tudo era mais fácil, sólido e simples.
Caminhara depressa, depressa.
Não queria – a desgraça de sempre perceber (...).






Clarice Lispector

Os sensíveis
são simultaneamente mais infelizes e felizes
que os outros.













Clarice Lispector

14 de abr. de 2009


porque confessar, Senhores, pasmem, tambem mata.
e hoje eu vim aqui morrer um tantinho. mas um tantinho só.
confessar essa coisa que acabou mas que não acaba nunca. e me acaba.
e esse peso na cabeça, esse enjoo, essa tontura,
esse medo vertical que sobe e desce pelo meu corpo todo.
vertical, abismo. vertical, amor.
amor para que, Senhores, se o amor pra cada um é uma coisa.
não me venham com textos prontos pq eu tenho medo. morro de medo.
eu tenho q confessar antes d explodir, explodir em pedaços de miséria.
pq o passado é isso, é a miseria pessoal anunciada, estampada,
escancarada como o lixo do feriado que fede na calçada.
não dá p esconder. n dá p n cheirar.
e eu tenho nojo meus Senhores, um nojo imenso dessas coisas q
um dia foram boas e qndo viram monstros gigantes e pegajósos a
gnte nao tem onde esconder; pq não cabe, nao cabe em lugar nenhum
e ninguem qer reciclar.
eu vim aqui morrer um tantinho, pq tem alguma coisa
que eu qero enterrar, será que vc entende? e eu entendo?
Deus entende? diabo a quatro... blábláblá.
vá de rétro. eu qero dinamitar. vc me dói, dói, dói, dói, dor de doença.
por isso eu confesso, pq confessar tbm mata,
e prefiro morrer de qualqer coisa q seja
menos disso
que nem Deus deve ter ouvido.









jc

7 de abr. de 2009


Breve Introdução ao Estudo do Ciclo Seco



Todo mundo conhece ciclo seco, a maioria até já passou por ele. Alguns mesmo vivem desde sempre dentro dele, achando que isso é vida e eternizando o que, por ser ciclo, deveria também ser transitório. É preciso acreditar que passa, embora quando dentro dele seja difícil e quase impossível acreditar não só nisso, mas em qualquer outra coisa.
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Não que ciclo seco não tenha fé, o que acontece é que não podendo ver o que não é visível, fica limitado ao real.
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Antes de ir em frente, é importante dizer que ciclo seco nada tem a ver com as estações do ano. É coisa de dentro do humano, não de fora, e justamente por isso não tem nenhum método: vem quando não é esperado e vai quando não se suspeita.
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Ciclo seco não desaba de repente sobre alguém; chega aos poucos, insidioso, lento. Quando se percebe que se instalou, geralmente é tarde demais. Já está ali. É preciso atravessá-lo como a um deserto, quando se está no meio e a água acabou. Por ser limitado ao real, o ciclo seco jamais considera a possibilidade de um oásis ou de uma caravana passando. Secamente, apenas vai em frente.
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Porque o real do ciclo seco são ações, não pensamentos nem imaginações. Tanto que, visto de fora, não é visível nem identificável. Não se confunde com “depressão”, quando você deixa de fazer o que devia, ou com “euforia”, quando você faz em excesso o que não devia.
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Em ciclo seco faz-se exatamente o que se deve , desde escovar os dentes de manhã ou beber uísque à tardinha, mas sem prazer. Nem desprazer: Em ciclo seco apenas se age, sem adjetivos. À propósito, ciclo seco não se admite adjetivos – seco é apenas a maneira inexata de chamá-lo para que, dando-lhe um nome, didaticamente se possa falar nele.
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E deve-se falar dele? Quero supor entusiástico que sim, mas não tenho certeza se dar nome aos bois terá alguma serventia para o dono dos bois ou sequer para os próprios bois – e essa é uma reflexão típica do ciclo seco. Mas vamos dizer que sim, caso contrário paro de escrever já.
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E falando-se dele, diga-se ainda que ciclo seco não é bom nem mau, feio ou bonito, inteligente ou burro – nem a Alice de Woody Allen, nem Bette Davis em algum filme antigo, nem o Homem Elefante nem um dos irmãos Baldwin, nem Gertrude Stein nem Romário - , embora possa dar a impressão errada a quem o vê de fora, ávido por adjetivar.
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Ciclo seco, por exemplo, não se interessa por nada. Pior que não ter o que dizer, ciclo seco não tem o que ouvir, compreende? Fica na mais completa indiferença seja ao terremoto no Japão ou à demissão de Vera Fischer. No plano pessoal, tanto faz ler ou não ler um livro, ir ou não ao cinema – ciclo seco é incapaz de se distrair, de se evadir. Fica voltado para dentro o tempo todo, atento a quê é um mistério, pois que pode um ciclo seco observar de si mesmo além da própria secura, se não há sequer temporais, ventanias, chuvaradas?
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Nesse sentido, ciclo seco é forte, porque nada vindo de fora o abala, e imutável, porque de dentro nada vem que o modifique. E nesse sentido também é antinatural, pois tudo se transforma e ele não, simulando o eterno em sua digamos, i-na-ba-la-bi-li-da-de.
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E sendo assim, com alívio vou quase concluindo, pode se deduzir que.Não, não se pode deduzir nada. Só que passa, por ser ciclo, e por ser da natureza dos ciclos passar. Até lá, recomenda-se fazer modestamente o que se tem a fazer com o máximo de disciplina e ordem, sem querer novidades.
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Chatíssimo bem sei. Mas ciclo seco é assim mesmo.Todo mundo tem os seus, é preciso paciência. E contemplá-lo distante como se se estivesse fora dele, e fazer de conta que não está ali pra que, despeitado, vá-se logo embora e nos deixe em paz? Eu francamente não sei. Ainda mais francamente, nem sinto muito.





O Estado de S. Paulo, 22/01/95
(ABREU, Caio Fernando.
Pequenas Epifanias, crônicas
(1986/1995).
Sulinas: Porto Alegre, 1996, 192 p.)

6 de abr. de 2009


“Eu aqui tenho ido um pouco aos trancos. As vezes duvidando um pouco do acerto das opções que foram sendo feitas nos últimos anos, quando me dou por conta nesta cidade quase sempre árida, sem nenhum amor, sem paz. Um ceticismo, umas durezas que eu não tinha antes. Deixa pra lá.”











CFA

"Eu, infelizmente, sou um espírito cansado e 'blasé'; pouca coisa me entusiasma... No caminho em que eu entrei, eu tenho que aprofundar ao máximo até meus defeitos, qnto mais o tempo passar, mais enfronhada eu deverei estar no que eu faço - só assim conseguirei um arremedo de perfeição. Só tenho, na verdade, interesse e esperança em certas pessoas, em conhecer certas pessoas. O mundo me parece uma coisa vasta demais e sem síntese possível."











Caio F. Abreu

"Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente.Também sou muito calmo e perdôo logo. Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre."





Clarice Lispector

5 de abr. de 2009


Se tiver coragem, eu me deixarei continuar perdida. Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo – quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação. Como é que se explica que meu maior medo seja exatamente em relação: a ser? E no entanto não há outro caminho. Como se explica que o meu maior medo seja exatamente o de ir vivendo o que for sendo? Como é que se explica que eu não tolere ver, só porque a vida não é o que eu pensava e sim outra – como se antes eu tivesse sabido o que era! Por que é que ver é uma tal desorganização?"












Clarice Lispector

'Eu venho de uma longa saudade. Eu, a quem elogiam e adoram. Mas ninguém quer nada comigo. Meu fôlego de sete gatos amedronta os que poderiam vir. Com exceção de uns poucos, todos têm medo de mim como se eu mordesse.'











C. Lispector