27 de abr. de 2012

"O amor é o solvente universal para todos os conflitos e distinções. É através do amor, da compreensão e da aceitação que poderemos ascender para os reinos celestiais. O amor abre as dimensões do infinito.

Mas, há que se ter humildade e coragem para amar. Essa experiência não é tão fácil. Há que se ter coragem para ser você mesmo e revelar a sua essência. Em essência, nós somos amor. O amor é a seiva da vida. Há que se ter coragem para desvendá-lo, o que significa remover as máscaras e mecanismos de defesa que fomos aprendendo a usar ao longo da vida. 

Nós passamos muito tempo nessa vida nos protegendo, nos escondendo atrás de tantas e tantas camadas. Todo o esforço de um buscador deve ser para se afinar com a verdade. Pois, a verdade ilumina o amor e o amor ilumina a liberdade."


Sri Prem Baba

26 de abr. de 2012

‎"É possível viver, e mesmo viver feliz, quase sem lembrança, como o demonstra o animal; mas é absolutamente impossível ser feliz sem esquecimento.” 

(Nietzsche)

25 de abr. de 2012



‎"É difícil. Já que não passamos de recintos de tripas mornas e não totalmente podres, sempre teremos dificuldades com os sentimentos. Apaixonar-se não é nada, o difícil é ficar junto." 


(Louis-Ferdinand Céline)

23 de abr. de 2012

Você se esqueceu do meu beijo, não tirou minha febre, partiu sem cantar minha berceuse.

(Chico Buarque in, Leite Derramado)
São tantas as minhas lembranças, e lembranças de lembranças de lembranças, que já não sei em qual camada da memória eu estava agora. Nem sei se eu era muito moço ou muito velho, só sei que me olhava quase com medo...

(Chico Buarque in, Leite Derramado)
‎....porque cada lembrança já é um arremedo de lembrança anterior.

(Chico Buarque in, Leite Derramado)

9 de abr. de 2012

“Quem quer que lute contra monstros deve cuidar para que no processo não se torne um também.”

- FRIEDRICH NIETZSCHE, Além do Bem e do Mal


Calma. Respira. Quieta e sem choro. A gente volta na trilha dos seus projetos que se perderam. E se nem com minha ajuda você conseguir achá-los, te deixo morar num dos meus – de todo jeito, minhas esperanças são como uma casa de espelhos que você não pode mover o pescoço sem se ver.







Gabito Nunes

8 de abr. de 2012

‎"Ah, o tempo é o mágico de todas as traições... E os próprios olhos, de cada um de nós, padecem viciação de origem, defeitos com que cresceram e a que se se afizeram, mais e mais. Por começo, a criancinha vê os objetos invertidos, daí seu desajeitado tatear, só a pouco e pouco é que consegue retificar, sobre a postura dos volumes externos, uma precária visão. Subsistem, porém, outras pechas, e mais graves. Os olhos, por enquanto, são a porta do engano; duvide deles, dos seus, não de mim. Ah, meu amigo, a espécie humana peleja para impor ao latejante mundo um pouco de rotina e lógica, mas algo ou alguém de tudo faz frincha para rir-se da gente... E então?" 

O espelho - Guimarães Rosa

5 de abr. de 2012

Eu não sabia mais cantar na sala de estar com um público imaginário e só ter vergonha dos vizinhos quando fosse pega em flagrante. Essas coisas não aconteciam mais, e não era como uma lembrança comum, era como se nunca tivessem acontecido. 

Engraçado como a dor vai apagando as coisas legais na nossa cabeça. Ficou comigo outra cena, que não aconteceu mas que é muito mais nítida agora quando me esforço pra ativar alguma memória.

Eu era só uma criança ''órfã'' com os bracinhos estendidos na direção do portão.

As lembranças que enganam também dizem verdades, só que mais particulares.

Não tive força para continuar sendo feliz.
Não tive coragem para continuar de braços abertos quando cresci.
E muito menos tive vontade de cantar.

Sou um par de ouvidos e braços cruzados.




jc

3 de abr. de 2012

E alguém te encontra. E te reencontra. Te reinventa. Te reencanta. Te recomeça.

Gabito Nunes
– Sei. Sabe, ontem, ao sair da sala no fim do filme, fiquei cuidando aqueles casais amarrados indo pra casa juntos ou saindo pra comer alguma coisa. Se você parar pra pensar, deixar o ceticismo de lado, é a coisa mais bonita quando duas pessoas resolvem viver uma para a outra. Justamente porque é o mais difícil de ser feito. Somos cínicos a respeito da condição deles, mas acho que quem está na zona de conforto somos nós.




Gabito Nunes

Tempo + espaço = sinto sua falta




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Ele disse que precisava de espaço.



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Ela me pediu um tempo.



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Eu não sei. Na hora pareceu uma boa saída, sabe? Estava tão cansada. No redemoinho da situação, no calor da hora a gente fala um monte de bobagem, troços que intimamente pensamos, mas não cabe dizer. Eu não queria dar um tempo, eu só queria terminar com aquela gritaria, fugir, sei lá, virar pó, desmaiar, qualquer coisa. Ele não precisava ouvir algumas coisas que eu disse. Sei que o magoei.

***
Bom, foi ela quem pediu, não foi? O que eu poderia fazer a respeito? Em princípio, ficou decidido uns trinta dias. Eu não sei se vai resolver, esse mês longe. Mas o que a gente iria fazer? Acabar esganando um ao outro, ao mesmo tempo. Naquele dia pareceu a melhor solução. Agora eu já não sei mais.



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Eu odeio quando ele mente. Tudo bem, quando ele omite, mas para mim é a mesma coisa. Passa tempos sem mostrar entusiasmo por nada e aí eu o pego falando sobre um novo projeto com algum amigo. Isso me deixa pé-da-vida. Parece que ele não me quer por perto, que não mereço esse tipo de atenção da parte dele.



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Para uma garota, eu acho ela muito fechada. Pô, passei décadas tentando compreender uma mulher, saindo com elas, para quando eu morasse com uma, eu soubesse o que fazer. E agora isso, parece que estou namorando o Kimi Raikkonen. Ela é estranha, nunca demonstra nenhuma insatisfação, nunca faz uma cena de ciúme, não chora em filmes. Nunca sei como agir, é como se meu time jogasse sem centroavante, sabe? Fico sem referência.



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Sinto falta dele me pegando, de surpresa, como uma qualquer que conheceu na rua. Não sou muito romântica, dessas de jantar à luz de vela e toda essa parafernália. Por mim, a gente pula para a cena de sexo. Ele diz que eu tenho muita testosterona, às vezes brinca de me pedir emprestado. Ele acha que a gente não precisa fazer todos os dias. Uma vez ele veio com um papo freudiano ridículo de que os homens intelectualizados precisam de novidades, por isso sentem menos tesão. Mandei ele se foder, mas o palhaço disse que estava sem vontade. Pode?



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Eu acho o sexo supervalorizado dentro de uma relação. E ela me cobra isso o tempo todo, às vezes força a barra por uma novidade. Um dia eu ri da lingerie dela, achei horrorosa, parecia uma asa-delta, uma alegoria de fevereiro. E o pior é que ela pôs todas as expectativas naquilo. Sabe, por mim aquela peruca rosa-choque da Natalie Portman em Closer já seria o bastante. Você também acha, não é? Não gosto da sexualidade previsível. Sei lá. Sei que quando a gente faz é bom. Pra mim. Pra ela, não sei. Seria educado da parte dela fingir uns orgasmos de vez em quando.



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A última vez que senti que precisava dele? No show do Bob Dylan que ele não quis ir comigo, achou o ingresso muito caro pra quem não curte muito Bob Dylan. Bom, eu disse que ia sozinha e fui, não quis nem saber. Chorei o setlist inteiro, com ênfase em “You Belong To Me”. E o engraçado é que nunca choro na frente dele, ele deve me achar uma dinossaura insensível. Ah, se o espelho do banheiro falasse. Era meu sonho ver o cara e eu queria que ele estivesse comigo lá. Foi quando eu me dei conta. Preciso de quem amo para compartilhar tudo aquilo que sonhei. Ou não faz sentido.



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Foi quando meu pai morreu. Mas eu não quero falar sobre isso. Teve a vez que eu planejei morar um tempo na França. Era o sonho da minha vida, comer crepe, fumar cachimbo, passear pelo Arco do Triunfo, navegar pelo Sena, ler Flaubert e Rimbaud. Ela achou a ideia legal, mas não se animou. Foi quando eu vi que, insistindo com o plano, ela acabaria me dizendo que ia ficar no Brasil. Seria o fim. Eu desisti do meu sonho por ela, eu queria ficar com ela e não me arrependo. A gente sonha sozinho pra depois realizar com alguém. Complicado isso.



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Do que eu tenho medo? Deixa eu ver. Sei lá, de repente de chegar um dia e ver que foi tudo em vão, que não valeu a pena, cada gesto ou cada ação, cada investimento e concessão. Sabe aquela cena clássica no restaurante? Os dois jantando em silêncio, a mulher olhando para os lados atrás de casais iniciantes, mais felizes e vivazes que o relacionamento dela, o homem com o olhar atrás de um traseiro mais durinho. Eu tenho medo de um dia acordar e sentir que acabou.



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Não tenho medo de nada, eu acho. Talvez dela perceber que, na verdade, eu sou um fraco. Sabe, cara, eu convivo diariamente com essa sensação de que ela merece alguém melhor, capaz de protegê-la de verdade, dar-lhe um centro, uma vida, talvez uma família. Ela jamais ouvirá da minha boca, mas eu não me acho suficiente. É isso, meu medo é que ela descubra sozinha. Acho que tenho medo mesmo é dela inteira, mais do que, sei lá, de assalto ou de avião. O que é estranho, porque ela é tão pequenina e delicada e inofensiva.



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Ah, ele cozinha bem. Eu adoro quando ele fica vagando pela casa, entrando de quarto e saindo de quarto, com aquela calça de moletom cinza, meia e havaianas, e aquela camiseta centenária do Kurt Cobain que ele não vive sem. É quando eu me sinto em casa, num lar, é quando me dou conta que, apesar de tudo, eu sou feliz. Aí eu coloco uma chaleira no fogo, ela apita e ele aparece de repente, na cozinha, todo quieto e escabelado feito um menininho. Eu reclamo disso o tempo todo, mas é aquele silêncio que me traz paz.


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Ela tem uma bunda maravilhosa. Mas, sério. Eu gosto quando ela adormece no sofá e depois faz manha para ir deitar na cama. Aí eu a pego no colo, tiro cada peça de roupa, exceto a calcinha e as meias. Ela sente frio nos pés, até no verão. Não sei, eu me sinto poderoso e acolhedor. Então ela pede que eu a abrace de conchinha, ao menos até pegar no sono. Cara, eu odeio dormir de conchinha, detesto aqueles fios soltos de cabelo pinicando meu nariz. Mas adoro o cheiro que ela tem na nuca e ficar colado naquela bunda. Não sei como resolver isso.



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Não acredito em almas gêmeas ou frutas pela metade, mas eu acho que a gente se pertence, de alguma forma. Eu sou dele, sempre vou ser, mesmo que me apaixone ou sinta tesão por outra pessoa. Não me importo que nesse meio tempo ele conheça outra garota, desde que não transe com ela. Sabe, eu amo ele, de verdade. Que bobagem que eu fiz. Não quero dar tempo nenhum. Olha, sei que pedi pra você passar na noite aqui, mas eu preciso ligar, saber como ele está. Você não vai me achar uma idiota? Então é isso que eu vou fazer.



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E se nesse tempo ela conhecer outro? Azar, que se foda. Eu vou até lá. O apartamento também é meu. Sei que estou sendo contraditório, mas como não ser? Eu amo ela. É a minha garota e pronto. Não tem como fugir disso. Eu disse que precisava de espaço, ganhei o espaço e agora estou ouvindo os ecos da minha própria voz gritando o nome dela. Bonito isso que eu disse, né? Tem papel e caneta? Quero anotar pra ter o que dizer quando chegar lá.




Gabito Nunes

2 de abr. de 2012


O Tempo - Texto da novela A Vida da Gente... Recitado por Iná (Nicete Bruno)

"Quem teve o privilégio de viver muito sabe que o tempo é um mestre muito caprichoso. Às vezes, as suas lições são tão repentinas que quase nos afogam. Outras vezes, elas se depositam devagar como a conta gotas diante da avidez das nossas perguntas. E, por isso, quem teve o privilégio de viver...muito tempo, aprende a olhar com serenidade o turbilhão da vida.

Amores ardentes se extinguem. Urgências se acalmam. Passos ágeis, alentam.

Enfim, tudo muda. Muda o amor, mudam as pessoas, muda a família, só o tempo permanece do mesmo modo, sempre passando.

Um brinde ao tempo que esculpiu no meu rosto e na minha alma a sua marca que tanto me orgulho.

Ao Tempo!.... Ao Tempo....."
‎"Aqueles que amam a vida não lêem. Nem sequer vão ao cinema, na realidade. Independentemente de tudo o que possa ser dito, o acesso ao universo artístico é mais ou menos a preservação daqueles que estão um pouco fartos do mundo."

Michel Houellebecq