27 de fev. de 2012



Confesso que sinto saudades de pessoas que só existiram na minha imaginação sempre tão carente. 










jc
Esse sutil rebaixamento aristocrático é um mecanismo que ela usa pra rechaçar o asco que sente dela mesma ao gostar de um cara como eu.




Gabito Nunes

24 de fev. de 2012



COITADOS” — PENSOU O HOMEM. — “QUANTA ILUSÃO. UM DIA O CIRCO PEGA FOGO, A MORTE CHEGA E DE QUE SERVIU ESSA ALEGRIA TODA?



Caio Fernando Abreu. Uma fábula chatinha, in: Pequenas Epifanias

21 de fev. de 2012



Só os apaixonados contestam, protestam, procuram a transformação. As paixões não cegam; elas iluminam, utopicamente, o destino do ser apaixonado. A paixão é o alimento da liberdade. Não pode, portanto, existir pragmática da singularidade humana, sem seres apaixonados que a realizem. A paixão é o que nos diferencia dos seres inanimados, que simulam viver olhando, indiferentemente, o mundo à espera da morte. Só os seres apaixonados têm condições de procurar viver em liberdade, de procurar vencer as tiranias culturais.




Luís Alberto Warat


E agora está você aí, com esse amor que não estava nos planos. Um amor que não é a sua cara, que não lembra em nada um amor idealizado. E, por isso mesmo, um amor que deixa você em pânico e em êxtase. Tudo diferente do que você um dia supôs, um amor que te perturba e te exige, que não aceita as regras que você estipulou. Um amor que a cada manhã faz você pensar que de hoje não passa, mas a noite chega e esse amor perdura, um amor movido por discussões que você não esperava enfrentar e por beijos para os quais nem imaginava ter tanto fôlego. Um amor errado como aqueles que dizem que devemos aproveitar enquanto não encontramos o certo, e o certo era aquele outro que você havia solicitado, mas a vida, que é péssima em atender pedidos, lhe trouxe esse e conforme-se, saboreie esse presente, esse suspense, esse nonsense, esse amor que você desconfia que não lhe pertence. Aquele amor em formato de coração, amor com licor, amor de caixinha, não apareceu. Olhe pra você vivendo esse amor a granel, esse amor escarcéu, não era bem isso que você desejava, mas é o amor que lhe foi destinado, o amor que começou por telefone, o amor que começou pela internet, que esbarrou em você no elevador, o amor que era pra não vingar e virou compromisso, olha você tendo que explicar o que não se explica, você nunca havia se dado conta de que amor não se pede, não se especifica, não se experimenta em loja – ah, este me serviu direitinho! 




Martha Medeiros

20 de fev. de 2012

Já se foi o tempo em que tentava ensinar algo a alguém. Antes eu tentava entender, tentava ajudar, compreendia "tadinho, é imaturidade". Hoje, perdi a paciência. Saí do jardim de infância e fui direto pro mestrado: pra estar comigo, tem que entender do assunto.

Tati Bernardi

15 de fev. de 2012



‎"Como a maioria dos sofrimentos, esse começou com uma aparente felicidade." 




A menina que roubava livros


‎"Quando te vi amei-te já muito antes. Tornei a encontrar-te quando te achei..."




(Fernando Pessoa)


‎"Tomei uma decisão. Só vou sentir ansiedade por uma coisa de cada vez". 







Charles Schultz


‎"Quando a razão é capaz de entender o ocorrido, as feridas no coração já são profundas demais." 







(A Sombra do Vento)


‎"[...] faça o favor de concordar comigo que uma cicatriz nunca é feia. [...] Porque, acredite em mim, uma cicatriz não se forma num morto. Uma cicatriz significa: "Eu sobrevivi." 







- Pequena Abelha, p.17


‎"Continuo pensando que se tudo o que entendemos por amor é a ânsia de sermos amados, nossa condição é deplorável."


( C.S. Lewis - Os quatro amores)


‎"Cegos que veem, Cegos que vendo, não veem" 


Ensaio sobre a Cegueira - José Saramago.


‎"Nós não podemos ficar lutando uns contra os outros(...). Não vão sobrar pessoas suficientes para seguir em frente. Se as pessoas não se livrarem de suas armas, e estou frisando: isso é para ontem, tudo vai acabar de um jeito ou de outro."


(Peeta em A Esperança - Suzanne Collins)


‎"Nossa tecnologia passou a frente de nosso entendimento, e a nossa inteligência desenvolveu-se mais do que a nossa sabedoria." 




- Roger Revelle


‎"Espero que ninguém que esteja lendo esta história alguma vez na vida tenha sido tão infeliz quanto Susana e Lúcia naquela noite. Mas se você sabe o que é isso, se já passou a noite toda acordado e chorou até acabarem as lágrimas...então sabe que, no fim, desce sobre a gente uma grande calma. Chegamos até a ter a sensação de que nada mais nos poderá acontecer." 


As Crônicas de Nárnia - C.S. Lewis


"... ler duas, três horas, até que, finalmente, como no poema de Drummond, viesse a manhã trazendo leite, jornal, calma e sono ..."




(Fausto Wolff)


‎"A gente foge da solidão quando tem medo dos próprios pensamentos." 





Érico Veríssimo
‎"E que justiça a resguarda?... Bastarda.
É grátis distribuída?... Vendida.
Que tem, que a todos assusta?... Injusta.

Valha-nos Deus, o que custa
O que El-Rei nos dá de graça.
Que anda a Justiça na praça
Bastarda, vendida, injusta."

Gregório de Mattos e Guerra
Não sou nada especial; disso estou certo. Sou um homem comum, com pensamentos comuns, vivi uma vida comum. Não há monumentos dedicados a mim e o meu nome em breve será esquecido, mas amei outra pessoa com toda a minha alma e coração e, para mim, isso sempre bastou.

Diário de uma paixão - Nicholas Sparks


‎"A colheita é comum, mas o capinar é sozinho"


João Guimarães Rosa
‎"É algo que está dentro de mim, que me faz agir e que talvez seja uma fantasia infantil, mas que me ajuda sempre a lembrar que eu devo me realizar como pessoa através do que eu penso de mim mesma, e não através da imagem que inspiro. Tanto quanto possível, não quero me submeter a padrões de sucesso externos, mas seguir meus próprios valores. Para isso, transformo os respingos das histórias que criam a meu respeito em estímulo para seguir o meu caminho. É como se fosse um exercício para o espírito..."

O Segredo de Luísa, Fernando Dolabela
‎"Não retiro nenhuma satisfação da comida ou da bebida, e as canções e os risos transformaram-se em estranhos que são suspeitos para mim. Sou uma criatura de dor, pó e amargas saudades. Há um vazio dentro de mim onde um dia tive o coração."

As crônicas de gelo e fogo - A fúria dos reis (p. 505, l. 17-20)
“Eu coleciono livros da mesma forma que minhas amigas compram bolsas de grife. Às vezes, só gosto de saber que os tenho e lê-los de fato não vem ao caso. Não que eu não termine lendo-os todos, um por um. Eu os leio. Mas o mero ato de comprá-los me deixa alegre – o mundo é mais promissor, mais satisfatório. É difícil explicar, mas eu me sinto, de alguma forma, mais otimista. A totalidade do ato simplesmente me faz feliz.” 

Jennifer Kaufman e Karen Mack - Ler, viver e amar
“Eu poderia ter o mesmo pai, a mesma mãe, ter freqüentado o mesmo colégio e tido os mesmos professores, e seria uma pessoa completamente diferente do que sou se não tivesse lido o que eu li. Foram os livros que me deram consciência da amplitude dos sentimentos. Foram os livros que me justificaram como ser humano. Foram os livros que destruíram um a um meus preconceitos. Foram os livros que me deram vontade de viajar. Foram os livros que me tornaram mais tolerante com as diferenças.”

Martha Medeiros
‎"A leitura transformou-se numa geradora de perigos, uma vez que a ignorância era o passaporte para os céus."

Luís Mlianesi - A casa da invenção
A livraria portuguesa Ler Devagar, em Lisboa: 




Quando o homem quis ser como Deus, criador do mundo, inventou os livros que multiplicam o mundo. Graças a esse engenhoso artifício de tinta e de papel, podemos sentir tudo, de todas as maneiras, observar o universo com cem olhos, viajar no tempo, descer ao interior da terra e ao outro interior, mais remoto, de nós mesmos.

José Luís Garcia Martin



‎"O destino dos seres humanos é feito de MOMENTOS felizes e não de ÉPOCAS felizes"







Friedrich Wilhelm Nietzche (1840-1900).
‎"O mais importante de tudo é olhar o mais profundamente possível para recordar o que a gente quer fazer da vida. A verdadeira cura ocorre quando podemos prever para nós um futuro animador. A inspiração é o que nos mantém em forma. As pessoas não se curam para passar mais tempo diante da televisão." 

James Redfield - A Décima Profecia
Drummond falando sobre escrever, em entrevista no ano de 1982.

"É necessário uma certa emoção que você ao mesmo tempo se entrega a ela e a controla, compreendeu? É um jogo assim, curioso, no meu caso particular, eu sinto isso, uma certa necessidade de escrever uma coisa que possa ser considerada verso. Eu não sei se aquilo vai continuar, eu terei um impulso suficiente para prosseguir? Ou se aquilo vai ser travado de repente. Às vezes uma pessoa bate na porta e me oferece uma xícara de café. Terrível. Às vezes você tá no ônibus, tá no táxi, e vem uma daquelas ideias que você considera maravilhosa, e você não tem um lápis, não tem um papel e aquilo voa toda vida e não aparece mais. 

Eu acho, ao contrário das teorias modernas, que a inspiração existe. Inspiração é o momento em que você sente um impulso, às vezes criando assim até uma espécie de elevação ligeira da temperatura, você se sente um pouco inflamado, um pouco quente, com vontade de fazer alguma coisa. Depois vem a razão, vem a análise, você vai fazer a frio o poema, já agora com a razão mais do que com o sentimento, mas sem abandonar nunca o sentimento. 

Agora, em geral, nunca sai perfeito da primeira vez. Você tem que ler aquilo, reler mostrar a um amigo, guardar para o dia seguinte, botar na gaveta. Às vezes é necessário até, botar três meses na gaveta ler depois e dizer "Fui eu que escrevi isso? Não é possível, tá muito ruim.""
‎[...] "Com a estranha sensação interior de satisfação que sempre se observa até nas pessoas mais íntimas quando acontece uma repentina desgraça com seu próximo e da qual nenhum ser humano, sem exceção, está livre, a despeito até do mais sincero sentimento de compaixão e simpatia".

Fiódor Dostoiévski, Crime & Castigo
‎"... podemos estar convencidos durante muito tempo - anos talvez - de que queremos alguma coisa, se soubermos que nosso desejo é irrealizável. Porém, se de súbito nos vemos diante da possibilidade de este desejo ideal se transformar em realidade, passamos a desejar apenas uma coisa: nunca tê-lo desejado."

'A História Sem Fim - Michael Ende'


‎"Um dia a luz do conhecimento vai voltar a iluminar o universo dos homens" 





de Grimpow, O Eleito dos Templários
“Não tem medo de que eu o machuque? Eu posso cortar sua jugular com um único movimento errado da lâmina de barbear.”
Ele fitou-a por um longo tempo, como se visse sua alma, até responder um simples: “Você não vai.” E logo emendou. “Quando você conhece determinados tipos de dores, todo o resto passa a não ter sentido. As dores físicas, novato, não são nada perto das mentais.”

Pág. 279 A Infiltrada – Infiltrando-se na NSA- Natália Marques)
‎"Os livros contraem-se assim irremediavelmente, tragicamente. Não importa por onde comece a contaminação; há um cheiro, um restolhar de papel, e depois a gulodice alastra. Começa-se a ler muito antes de saber localizar literaturas, nomes, gêneros, e há nesse estrebuchar inicial qualquer coisa de sublime que definitivamente se perde quando crescemos e aprendemos a selecionar o bom e o mau. Lembro-me de vaguear inebriada pelas prateleiras das livrarias, folheando as prateleiras de baixo à procura do livro que eu queria e não sabia qual era, revoltada com a ideia de que talvez o livro estivesse nas prateleiras de cima. Lembro-me dos dias em que um título, uma frase, me faziam trazer para casa ratoeiras onde os dedos se entalavam e os olhos esmoreciam."

(Inês Pedrosa in: A instrução dos amantes. Publicações Dom Quixote, p. 132-133
‎"Sonhos não são desejos, desejos são intenções superficiais, enquanto sonhos são projetos de vida. Desejos morrem diante das perdas e contrariedades, sonhos criam raízes nas dificuldades." 

De gênio e louco todo mundo têm um pouco - Augusto Cury - página 52
‎"Nunca lhe confessei o meu amor com palavras, mas se os olhos falam, o último dos tolos poderia verificar que eu estava totalmente apaixonado. Ela por fim compreendeu e por sua vez me lançou um olhar... o mais doce de todos os olhares imagináveis".

O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë

14 de fev. de 2012

“Quase não dá pra suportar, mas dá. Eu nem choro porque é daquelas tristezas que o choro sai em berros e eu ainda estou na casa da minha mãe, não posso berrar assim, do nada. E nem resolveria. Nada resolve. Triste. Só isso. Ninguém vai morrer e nem eu.”

Tati Bernardi

10 de fev. de 2012



Ele entregava-se aos blues amargos, cafés fortes, tabacos lentos.







[Caio F.]


... já que sua função na vida sempre fora mesmo ausentar-se estratégico sem deixar vestígios, o que tinha sua dose de melancolia, mas também de alívio, convenhamos. Como as estantes de madeira escura suportando o peso das obras completas de Karl May, Michel Zevaco e Edgard Rice Burroughs. 







Caio F.

9 de fev. de 2012

E agora ali voltava, como um varão novo, soberbamente virilizado, liberto enfim da sombra que tão dolorosamente assombreara a sua vida, a sombra mole e torpe do seu medo! 

Eça de Queiroz - A Ilustre Casa de Ramires
‎"Passar uma noite sem Matilde me parecia tão improvável quanto cessarem todas as ondas sem mais nem menos." 

Chico Buarque - in, Leite Derramado.


"Tudo estava se confundindo, tudo desmoronava. Sabia que meu caso com Lucille não iria durar muito mais. Ela queria que eu fosse do jeito dela. Ela fora casada com um estivador que a tratava mal. Eu estava disposto a me casar com ela, adotar sua filhinha e tudo mais, caso ela se divorciasse do cara, mas nem sequer havia dinheiro suficiente para o divórcio e a transa toda era irremediável; além do mais, Lucille jamais me compreenderia; gosto de muitas coisas ao mesmo tempo e me confundo inteiro e fico todo enrolado correndo de uma estrela cadente para outra até desistir. Assim é a noite, e é isso que ela faz com você, eu não tinha nada a oferecer a ninguém, a não ser minha própria confusão." 








On The Road


Jack Kerouac

8 de fev. de 2012



Preciso do Lexapro mas ele acabou há semanas, igual meu amor. E agora, de repente, preciso tanto dos dois novamente.










Tati Bernardi

7 de fev. de 2012

Quando tá tudo indo bem, eu sempre tenho a sensação de que alguma coisa, no fundo, tá muito errada. Sei lá, é como se um relacionamento saudável fosse impossível no meio dessa merda toda, e quando eu não posso ver os erros, eu fico com essa certeza de que estou sendo enganada. E fico procurando, investigando, revirando o mundo pra encontrar os vacilos, mentiras, motivos pra terminar. Percebe a loucura? É como se ninguém pudesse me amar e ponto, de tanto colarem o adesivo de ‘trouxa’ na minha testa, qualquer carinho me parece suspeito. Percebe a tortura? Fico oscilando entre confiar e desconfiar, querendo viver uma história leve e sempre me afundando nas minhas neuroses e cicatrizes. E homem nenhum aguenta isso, homem nenhum percorre meu labirinto até o fim. Mas como eu poderia me entregar, sem antes saber se posso ir inteira? Como posso confiar de novo, sem saber se vai ser realmente diferente? Quero alguém que rompa meus lacres, não que me lacre mais! E sigo estragando tudo, só pra não ficar pior depois. Quando eles finalmente se cansam e caem fora porque eu sou louca de pedra, eu fico satisfeita. Volto pra fossa por um tempo, sem mistérios, já conheço bem o lugar e a porta de saída. E penso “Viu, sabia que eu tava certa”. Talvez eu até esteja errada, mas que se dane. Se uma pessoa não tem paciência nem pra conquistar minha confiança e afastar meus medos, o que eu posso esperar então? Sou quebra-cabeça de 500 mil peças, quem não tiver capacidade, tenta um jogo mais fácil. Eu supero e agradeço.

Tati Bernardi

4 de fev. de 2012

"Liberdade na vida é ter um amor pra se prender. A gente reclama muito da dependência, mas como é maravilhosa a dependência, confiar no outro, confiar no outro a ponto de não somente repartir a memória, mas repartir as fantasias. Confiar no outro a ponto de esquecer quem se foi assim que o outro esteja junto, é talvez chegar em casa e contar seu dia e só sentir que teve um dia quando a gente conta como foi. É como se o ouvido da outra pessoa fosse nossos olhos. 

Amar é uma confissão. Amar é justamente quando um sussurro funciona melhor que um grito. Amar é não ter vergonha de nossas dúvidas, é falar uma bobagem e ainda se sentir importante. É lavar louça e nunca estar sozinho. É arrumar a cama e nunca estar sozinho. É aquela vontade danada de andar de mãos dadas durante o dia e de pés dados durante a noite."





Fabrício Carpinejar
Tem gosto de querer e gosto de desejo, desejo derramado, espalhado sobre a pele, um gosto quente, delicado e salgado.
E existe um gosto único, de uma porta secreta, onde tudo que é bom no mundo fica oculto. Você sente o gosto de vinho ou de carne ou queijo, mas quando você está com boca entre as pernas, há um outro tipo de fome que gosto nenhum no mundo pode saciar. "

(Brandon Blachter)

1 de fev. de 2012

E desejá-lo assim, com todos os lugares comuns do desejo, a esse outro tão íntimo que às vezes julga desnecessário dizer alguma coisa, porque enganado supões que tu e ele vezenquando sejam um só (…)


(Caio Fernando Abreu - Natureza Viva. In: Morangos Mofados)
POUCA-VERGONHA É FOME, É DOENÇA, É MISÉRIA, É A SUJEIRA DESTE LUGAR, POUCA-VERGONHA É FALTA DE LIBERDADE E A ESTUPIDEZ DE VOCÊS. PENA TENHO EU DE VOCÊ, QUE PRECISA SE SUJEITAR A ESSE EMPREGO IMUNDO: EU SOU UM SER HUMANO DECENTE E VOCÊ É UM VERME.

(Garopa, mon amour; in: Pedras de Calcutá)


Mas tão, tão modesto. Assim, sa’s, uma PUTA expectativa cercada por todos os lados de desilusão. Que nem calda de chocolate em bolo. Só a casquinha. 




(Carta a Jacqueline Cantore. Safe Sampa, 24 de fevereiro de 1988.)


Um Brasil imundo, corrupto, violento, mas também mágico, sensual. Sinto cada vez mais uma paixão desesperada — e rejeitada — por esta terra. Aquele amor não-retribuído que aos poucos vai virando veneno, desejo de vingança, rancor e mágoa.

(Carta a Maria Lídia Magliani. SP 12.07.90)


Ando tenso, inseguríssimo e muito só.

(Carta a Luiz Arthur Nunes. São Paulo, 10 de março de 1986)


Você pergunta: “todos os vernizes descascam?” Eu acho que para quem tiver a coragem de deixá-los descascar, sim. E isso é bom.

(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani. SP 10. 09. 91.)


Não é — penso — que você estivesse “louca”. Aspas fundamentais. O que sucede, ma belle, é que você — com suas antenas afiadíssimas de artista e, digamos, Mulher Vivida —captou a loucura em volta. Esta sim, insana ao limite da demência psicótica. Loucura feia, brava, destruidora, assassina.






(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)


(…) mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o mesmo jogo e embora supondo conhecer as regras, me deixo tomar inteiro por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso descarnado, essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os pratos vazios, torno sempre a voltar, talvez penalizado do teu olho que não se debruça sobre nenhum outro assim como sobre o meu, temendo a faca, a pedra, o gume das tuas histórias longas, das tuas memórias tristes, cheias de corredores mofados, donzelas velhas trancadas em seus quartos, balcões abertos sobre ruazinhas onde moças solteiras secam o cabelo, exibindo os peitos, tornarei sempre a voltar porque preciso desse osso, dos farelos que me têm alimentado ao longo deste tempo (…)

(À beira do mar aberto, in: Os Dragões Não Conhecem O Paraíso)


Preciso tomar ar, fingir que sou normal & tenho um profundo interesse pelas pessoas e acontecimentos culturais e todas essas estonteantes possibilidades urbanas.




(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)


Era uma dor sujinha como lençol usado por um mês, sem lavar, pobrinha como buraco na sola do sapato. Furo na meia, dente cariado. Dor sem glamour, de gente habitando aquela camada casca-grossa da vida.

(Caio Fernando Abreu. Pálpebras de neblina, in: Pequenas Epifanias)


Guerras, pestes, são os tempos. Estou louco para cair fora deste vendaval contaminado que virou o planeta. Numa muito boa, invejo e admiro a vida nova que você inventou/conquistou.

(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)


Mas o que houve — o tropeço, o solavanco, o esbarrão, a tosse no meio da área lírica —, o que houve foi um pensamento impiedoso e exatamente assim: não faço parte disso.

Não uma dúvida, mas uma certeza. Absoluta.







(Caio Fernando Abreu. Agostos por dentro, in: Pequenas Epifanias)


... e me anoiteço ainda mais e me entrevo tanto quando estás presente e novamente me tomas e me arrancas de mim me desguiando por esses caminhos conhecidos onde atrás de cada palavra tento desesperado encontrar um sentido, um código, uma senha qualquer que me permita esperar por um atalho onde não desvies tão súbito os olhos, onde teu dedo não roce tão passageiro no meu braço, onde te detenhas mais demorado sobre isso que sou e penses quem sabe que se aceito tuas tramas, e vomitas sobre mim, depois puxas a descarga e te vais, me deixando repleto dos restos amargos do que não digeriste, mas mesmo assim penses que poderias aceitar também meus jogos, esses que não proponho, ah detritos, (…)







(Caio Fernando Abreu. À beira do mar aberto, in: Os dragões não conhecem o paraíso


Nos últimos tempos, me baixou uma humildade, criatura, dei para cozinhar, fazer faxina. Saio quase nada, vejo quase ninguém. Uma vida pra dentro, numa cidade indiferente. Bem dificilzinho — o diminutivo é porque sempre penso nas criancinhas embaixo das pontes e aquelas coisas todas.

(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)


Mas quando você pensa que um perigo medonho passou é porque outro ainda pior está vindo? Oh, Deus. E o perigo-passado realmente deixou você mais forte para o perigo-vindouro? E se só ficou o cansaço e se a amarilis desistir? E se eu desistir e for cuidar das verbenas, cravinas e amores-perfeitos que acabei de plantar? 

(Caio Fernando Abreu. Aos deuses de tudo que existe, in: Pequenas Epifanis)


Além disso, eu tinha desaprendido completamente a sua linguagem, a linguagem que também tive antes, e, embora com algum esforço conseguisse talvez recuperá-la, não valia a pena, era tão mentirosa, tão cheia de equívocos, cada palavra querendo dizer várias coisas em várias outras.


(Caio Fernando Abreu. Uma história de borboletas, in: Pedras de Calcutá)


(…) e choro sempre quando os dias terminam porque sei que não nos procuraremos pelas noites, quando o meu perigo aumenta e sem me conter te assaltaria feito um vampiro faminto para te sangrar e te deixar mudo, sem nenhuma história a te esconder de mim, enquanto meus dentes penetrando nas veias da tua garganta arrancassem do fundo essa vida que me negas delicadamente, de cada vez que me procuras e me tomas, contudo me enveneno mais quando não vens e ninguém então me sabe parado feito velho num resto de sol de agosto, escurecido pela tua ausência (…)




(Caio Fernando Abreu. À beira do mar aberto, in: Os dragões não conhecem o paraíso)

Estou ficando cada vez mais cruel. E quero DISTÂNCIA.

(Caio Fernando Abreu, carta a Jacqueline Cantore)
Dei conselhos a ele, disse que admitia que cada um fizesse o que bem entendesse, mas que devia-se resguardar um limite de decência, de respeito pelo outro e por si próprio, que se deve ter uma diretriz na vida, senão fica tudo vazio, sem sentido.

(Caio Fernando Abreu. Carta a Hilda Hilst)
Você tem que ser mais Escorpião e cortar fora a parte ferida. Chega de meias-solas e paliativos. Na minha opinião, você precisa de UMA BOA CAMA (ou várias) […]. Toma um porre, fuma um baseado, mas por favor — desguia. Daqui faço força e peço desculpa pelo atrevimento do toque. 

(Caio Fernando Abreu. Carta a Luciano Alabarse)
‎...na raça, na solidão que ninguém compreende, e por isso mesmo não dói. 

(Caio Fernando Abreu. Carta a Jacqueline Cantore)
Andei/ando sentindo — imagine, que retrocesso emocional — CARÊNCIA AFETIVA. Das brabas. Passei uns três, quatro anos fazendo a bicha durona, dizendo coisas do tipo ai, amor? é coisa de extrema juventude, isso não existe. Não sei bem como, começou a doer, a faltar. Uma sede daquelas de comercial de Sprite no Saara lembra? 

(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)



O telefone não toca e, sem garantias, ele continua a lembrar. Tão perigoso, mesmo passado.






(Caio Fernando Abreu. Saudades de Audrey Hepburn, in: Os dragões não conhecem o paraíso)