27 de ago. de 2013

"E como a onda que rasga todo o mar,
Me rasguei de tudo o que vivi" (8)

22 de ago. de 2013



“Arranca metade do meu corpo, do meu coração, dos meus sonhos. Tira um pedaço de mim, qualquer coisa que me desfaça. Me recria, porque eu não suporto mais pertencer a tudo, mas não caber em lugar algum.” 




(José Saramago)

20 de ago. de 2013

Noites de Santa Tereza (CFA)
Para Ledusha
Foi escrito em 1983, no Rio de Janeiro.

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Estou ficando velha e louca aqui no alto deste morro velho, bem na curva da mangueira e das tormentas.
No porto inseguro lá embaixo vão e voltam navios (...)

...e repito repito meu amor você não precisa mentir, você só precisa me dizer porque (...) Deixo recado definitivo na secretária eletrônica alta madrugada e parto, definitiva também (...)

Agora sou o último quarto no fim de corredor, à esquerda de quem vai, não de quem vem, compreende? 

(...)

— alma gangrenada, a minha; (...)

...que não há de ser por delicatésse que perderei minha vida.
Entre os galhos da mangueira carregada espio a lua minguante sobre a Guanabara, lobiswoman esfaimada na curva das tormentas.

17 de ago. de 2013

Quero fazer um feitiço para que nada mais volte a andar. Quero ficar assim, no parado. Sei com medo que o que trouxe você aqui foi esse meu jeito de ir vivendo como quem pula poças de lama, sem cair nelas, mas sei que agora esse jeito se despedaça. Torre fulminada, o inabalável vacila quando começa a brotar de mim isso que não está completo sem o outro. Você assopra na minha testa. Sou só poeira, me espalho em grãos invisíveis pelos quatro cantos do quarto. Fico noite, fico dia. Fico farpa, sede, garra, prego. Fico tosco e você se assusta com minha boca faminta voraz desdentada de moleque mendigo pedindo esmola neste cruzamento onde viemos dar.

CFA
"Eu nunca vou conseguir falar de você. Para ninguém, ninguém. Eu posso até dizer umas coisinhas aqui, outras ali, posso até dizer que você é lindo, me faz um bem danado, etc. Mas dizer sobre você, sobre quem você é pra mim… nunca. Porque eu tenho essa coisa estúpida de não conseguir falar quando fico nervosa. E aparecer uma enxurrada de lágrimas na minha visão. E parecer que existe uma bola de pelo na minha garganta. Fica tudo uma merda. E eu nunca vou conseguir falar de você por causa disso. Porque eu fico nervosa, choro, sinto saudade, paixão acumulada, desejo, instinto de proteção, carinho, ciúme e amor. Isso tudo só de pronunciar as sílabas do seu nome."

(Yasmin Diniz)

28 de jul. de 2013



Dá, sim; dá, e com sombra e água fresca. E quem vo-lo diz é quem já pegou muito no sol nos desertos e muito mormaço nas charnecas da existência. Coragem, a Terra está rodando; vosso mal terá cura. E se não tiver, refleti que no fim todos passam e tudo passa; o fim é um grande sossego e um imenso perdão.




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Rubem Braga- A borboleta amarela

9 de jul. de 2013

E me ocorre que — porra, que troço mais literário — que as pessoas são um pouco quebra-cabeças que você vai juntando pedaço por pedaço (às vezes misturando dois ou mais jogos diversos e fazendo confusões medonhas, ou tentando freneticamente encaixar peças que absolutamente não cabem nos espaços, ou — tanta coisa). Me confundo nessas. [cfa]
Agora abri de novo o Mario de Andrade e peguei ele “sonetizando” lindo. Che, veja estes, a La Augusto dos Anjos (que tenho lido muito):

“Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!...Que eu quero amar a morte
com o mesmo engano com que amei a vida”.

[CFA]
"Eu me perguntei porque quando mais precisamos
de nós mesmos, geralmente mais nos faltamos.
Que estranha escolha é essa, que faz a gente alimentar
os abismos, quando mais precisa valorizar as próprias asas."

(Ana Jácomo)


Quem não é capaz de causar uma revolução dentro de si mesmo nunca conseguirá mudar as rotas sinuosas de sua vida. A maior miséria não é aquela que habita os bolsos, mas a alma.




Augusto Cury
"Fui com sua cara. Mas to voltando pra devolver."


-Tati Bernardi.
"Custamos a respeitar as dores invisíveis, para as quais não existem prontos-socorros. Não adianta assoprar que não passa."

(Martha Medeiros)
"Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura… Essa intimidade perfeita com o silêncio… Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado de pequenos absurdos, essa capacidade de rir à toa. Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza de quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser. Resta essa faculdade incoercível de sonhar, de transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade de aceitá-la tal como é, (…) e essa pequenina luz indecifrável a que às vezes os poetas dão o nome de esperança. Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto, esse eterno levantar-se depois de cada queda, essa busca de equilíbrio no fio da navalha, essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo infantil de ter pequenas coragens."


(Vinícius de Morais)
‎'No coração sentia a miséria que existe em levar uma queda. Recomeçou então a andar. Mancar dava uma dignidade a seu sofrimento.' 

Clarice Lispector in, A Maçã no escuro.

4 de jul. de 2013

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O Vento Frio da Infância
Oswaldo Montenegro

Pr'algumas pessoas o tempo tá no seu lugar
Pr'algumas pessoas é cedo
O vento da infância passou e não dá pra pegar
Os apaixonados têm medo
E o que ficou tão combinado não dá mais pra cumprir
Pr'alguns ainda é cedo
E o vento frio da infância ainda sopra nas estátuas
Pr'alguns ainda é cedo

.



Irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio do seu peito.




Adriana Falcão

19 de jun. de 2013

"—Você quer transar?
— Não, na verdade. 
— Você não gostou de mim?
— Gostei. Você tem uma feição bonita. Seu corpo é maravilhoso, até onde consegui ver. Adorei seus pés, são pequenos e bem cuidados. Seu cheiro é gostoso, também.
— Obrigada. Mas?
— Sei lá, não estou mais a fim. Acho que eu estava me sentindo meio solitário, meu telefone não tem tocado muito ultimamente.
— Você vai pagar pra alguém falar contigo, é isso?
— É. Acho que sim. Patético, eu sei. É que, atualmente, encontrar alguém pra trepar anda mais fácil que alguém disposto a escutar você. No futuro sua profissão será extinta, e nas esquinas haverá pilhas de gente com bons ouvidos, anunciando uma hora de papo por cinquenta contos. O cafuné será o novo boquete."



Gabito Nunes.


"...você tinha um medo engraçado e subitamente agarrava meu braço como se eu não estivesse tão desamparado quanto você." 




[CFA in, Do outro lado da tarde.]


“Prezado Professor, sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhum homem deveria ver. Câmaras de gás construídas por engenheiros formados. Crianças envenenadas por médicos diplomados. Recém-nascidos mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês fuzilados e queimados por graduados de colégios e universidades. Assim tenho minhas suspeitas sobre a Educação. Meu pedido é: ajude seus alunos a tornarem-se humanos. Seus esforços nunca deverão produzir monstros treinados ou psicopatas hábeis. Ler, escrever e saber aritmética só são importantes se fizerem nossas crianças mais humanas.” 




— Texto encontrado após a Segunda Guerra Mundial, num campo de concentração nazista.
“Quando a verdade de outra pessoa fecha com a sua, e parece que aquilo foi escrito só para você, é maravilhoso.”

Bukowski
Depois de um tempo, descobri mesmo o que era dor. Dor não era apanhar de desmaiar. Não era cortar o pé com caco de vidro e levar pontos na farmácia. Dor era aquilo, que doía o coração todinho, que a gente tinha que morrer com ela… Sem poder contar para ninguém.



- meu pé de laranja lima.


"A dificuldade - eu poderia dizer - não é aquela de encontrar uma solução, mas em vez disso é aquela de reconhecer como a solução algo que parece como se fosse apenas uma preliminar para ela. "Já dissemos tudo. - Não algo que se siga disso, não, isto é a solução!" Isso está conectado, eu acredito, com nossa errônea expectativa de uma explicação, ao passo que a solução da dificuldade é uma descrição, se damos a ela o lugar correto nas nossas considerações. Se nos atemos a ela, e não temos ir para além dela. A dificuldade aqui é: parar."

--Wittgenstein
“Minha solidão tomou proporções enormes. Nunca os dias foram mais compridos, nunca o sol abrasou a terra com uma obstinação mais cansativa. As horas batiam de século a século, no velho relógio da sala, cuja pêndula, tic-tac, tic-tac, feria-me a alma interior, como um piparote contínuo da eternidade.”

(O Espelho - Machado de Assis.)

6 de jun. de 2013

"A dificuldade - eu poderia dizer - não é aquela de encontrar uma solução, mas em vez disso é aquela de reconhecer como a solução algo que parece como se fosse apenas uma preliminar para ela. "Já dissemos tudo. - Não algo que se siga disso, não, isto é a solução!" Isso está conectado, eu acredito, com nossa errônea expectativa de uma explicação, ao passo que a solução da dificuldade é uma descrição, se damos a ela o lugar correto nas nossas considerações. Se nos atemos a ela, e não temos ir para além dela. A dificuldade aqui é: parar."

--Wittgenstein

3 de mai. de 2013



As pessoas falam que fulano é “puto” e fulana “sapatão” como se isso fosse um DEFEITO. Defeito, pra mim, é gente que carrega ódio no peito. Que não sabe o valor de um gesto bonito. Que insiste em ajudar a deixar o mundo do jeito que está: podre e pobre.




— Clarissa Corrêa.

25 de abr. de 2013



“Dizem que o amor acaba, termina. Mas não é verdade. Nada acaba, tudo muda, transforma. Depois da nossa fuga de casa, vem o nosso medo, vem a nossa coragem, vem o salto sem rede. Vi você indo embora, sendo levada de diferentes formas, tantas e tantas vezes. E depois vi você voltando. O que tinha sido vivido, o que tinha ficado para trás, era parte de uma mesma história, de uma mesma vida, de um mesmo sentimento… o amor. E foi, então, que eu vi nós dois juntos rompendo fronteiras. Do outro lado da fronteira, que sem perceber nós já tínhamos cruzado, e do lado de cá, dois adultos maduros, finalmente libertos daquele fardo pesado, feito de lembranças e sonhos antigos. Porque há sonhos novos do lado de cá da fronteira. E agora podemos viver…”


— A Vida da Gente.

"Tomara que os nossos enganos mais devastadores não nos roubem o entusiasmo para semear de novo. Que a lembrança dos pés feridos quando, valentes, descalçamos os sentimentos, não nos tire a coragem da confiança. Que sempre que doer muito, os cansaços da gente encontrem um lugar de paz para descansar na varanda mais calma da nossa mente. Que o medo exista, porque ele existe, mas que não tenha tamanho para ceifar o nosso amor." 



[Ana Jácomo] 

21 de abr. de 2013

Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo.


Tati Bernardi


"Sobre a sexualidade é fundamental reconhecer a criação do amor de Deus e dizer que onde há amor entre casais, ou entre homossexuais, seja mulher ou homem, onde há amor há ato de Deus, porque Deus é amor. A igreja penaliza os homossexuais dizendo que é uma inclinação perversa, imoral, e isso é uma atitude ilegítima. Não cabe a ela fazer um pronunciamento científico, se é normal ou se não é. O que cabe a ela é dizer que, desde que se descobre esta situação, que procurem não ser promíscuos, procurem viver a fidelidade e o amor, porque isso é o que importa. Essa é a missão da Igreja, dizer a verdade. E ela está negando essa verdade aos homossexuais." 




[Leonardo Boff]

7 de abr. de 2013

"Por isso a gente pensava sempre que o dia 
de hoje ainda era ontem. 
A gente se acostumou de enxergar antigamentes. "

Manoel de Barros
"De todos os loucos do mundo eu quis você. Porque eu tava cansada de ser louca assim sozinha. De todos os loucos do mundo eu quis você. Porque a sua loucura parece um pouco com a minha." 

— Clarice Falcão
“Não pretendo que a poesia seja um antídoto para a tecnocracia atual. Mas sim um alívio. Como quem se livra de vez em quando de um sapato apertado e passeia descalço sobre a relva, ficando assim mais próximo da natureza, mais por dentro da vida. Porque as máquinas um dia viram sucata. A poesia, nunca.”

— Mario Quintana
“Um livro aberto é um cérebro que fala; 
Fechado, um amigo que espera; 
Esquecido, uma alma que perdoa; 
Destruído, um coração que chora.”

— Voltaire
“Sem tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em lugares onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte… Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: “as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos”. Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.”

— Rubem Alves
“Intimidade é ler os olhos, os lábios e as mãos de quem está com você. Mais do que repartir um endereço, é repartir um projeto de vida. Não basta estar disponível, não basta apoiar decisões, não basta acompanhar no cinema: intimidade é não precisar ser acionado, pois já se está mentalmente a postos.”

— Martha Medeiros


“Estávamos ali com o céu em nós.”


— Machado de Assis


“A solução dos problemas humanos terá que contar com a literatura, a musica, a pintura, enfim com as artes.
O homem necessita de beleza como necessita de pão e de liberdade. As artes existirão enquanto o homem existir sobre a face da terra. A literatura sera sempre uma arma do homem em sua caminhada pela terra, em sua busca de felicidade.”


— Jorge Amado.

2 de abr. de 2013

“Às vezes é preciso dormir, dormir muito. Não para fugir, mas para descansar a alma dos sentimentos. Quem nasceu com a sensibilidade exacerbada sabe quão difícil é engolir a vida. Porque tudo, absolutamente tudo devora a gente. Inteira.”


Marla de Queiroz
Eu sei que não foi você que desarrumou minha vida e fez essa bagunça toda que tive que arrumar gradualmente enquanto cuspia minha raiva, minha dor, mas, por favor, para entrar aqui agora é preciso pés descalços e nenhuma armadura. É por eu não ter deixado de confiar nas pessoas que te peço isso. Não existe tristeza em mais nenhum canto desta casa, tudo foi limpo e adornado com amor.

Marla de Queiroz

Eu me recuso a amputar meus sentimentos. Eu nasci para sentir com todos os meus membros.


Marla de Queiroz

1 de abr. de 2013

AMARELLO




O que existe além do que ja foi dito sobre o amor? Toda minha vida pautada em amores que tive ou gostaria de ter. Falando sobre os que tive, também não tenho muito que dizer. Amei e fui muito bem amada. Mas foi um amor, um único amor, que veio cruzou minha vida, tocou minha alma e ficou marcado em minha pele.

Todos nos carregamos com nós uma história. Aquela que só nos atrevemos a lembrar, quando durante a noite no escuro, enconstamos nossas cabeças no travesseiro e o silêncio cala fundo.

Não importam os anos, certas coisas simplesmente permanecem. Mas então, numa quinta-feira a tarde de um ano qualquer, tropeçamos nesse amor já supostamente esquecido. Percebemos que amor igual não há e que aquela pessoa continua e continuará a ser nossa referência afetiva mais sincera e profunda.

Não é doença nem obsessão. Aliás não é nada, só amor. Amor dos bons, daqueles que são únicos e maravilhosos, que acontecem poucas vezes na vida das pessoas. Daqueles amores que ficam e que teremos que conviver com ele como algo concreto e parte de nossas vidas.

Que alma consegue atravessar a vida sem ter conhecido o amor e quem sabe, ter a sorte de ser correspondido? Que vida vale a pena sem amor? Nenhum sentimento é mais lindo profundo e transformador que o amor. Só amor transcende e purifica, enlouquece e cura, invade, permanece, liberta e aprisiona. Quando acontece é um som grave que penetra invade e permanece.

Não compliquem e nem elaborem o sentimento mais incrível e poderoso de todos. Permitam que ele chegue e se instale. Porque o resto são bobagens meninos, bobagens.




24 de mar. de 2013

Eu gosto que o lábio inferior desaparece um pouco quando você diz uma ironia ou quando acha que é gostoso. Eu gosto que você explode sem perder um ponto sereno e intocável nos olhos, como se nada estivesse acontecendo. Eu gosto que quando nada está acontecendo seus olhos não perdem um brilho de dor. Eu gosto que você não sabe se sabe cuidar mas queria ajudar a menina passando mal no avião. 


[Tati Bernardi]
"... Tinha suspirado,
tinha beijado o papel devotamente!
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades,
e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas,
como um corpo ressequido que se estira num banho tépido;
sentia um acréscimo de estima por si mesma,
e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante,
onde cada hora tinha o seu encanto diferente,
cada passo condizia a um êxtase,
e a alma se cobria de um luxo radioso de sensações!"

Primo Basílio - Eça de Queiroz

23 de mar. de 2013



...meio início, meio a meio, sem fim. 




[Leminski]
essa idéia
ninguém me tira


matéria é mentira




[Leminski]
essa a vida que eu quero,
querida

encostar na minha
a tua ferida









[Leminski]

21 de mar. de 2013


Eu a amo tanto, sou capaz de lembrar de cada traço seu com 20 e poucos anos, e tenho muito medo de um dia esquecer, coisa que será inevitável na chegada da velhice. Mas ainda que a memória falhe, eu estarei ali olhando pra eles todos os dias, mudados,  e tendo a alegria de observa-los mudar mais, NADA me faria esquecer todas as nossas sensações.

Aprendi sobre coragem com ela, quando ela veio me ver; aprendi sobre felicidade com ela, quando ela me levou pra casa na chuva; aprendi sobre amor, com tudo que entregamos uma pra outra; aprendi sobre saudade, quando ela ia embora naquele ônibus; sobre desejo, sobre beijo, sobre sexo e como essas coisas podem ser muito além do físico; aprendi que tudo pode fazer finalmente sentido; descobri as minhas falhas fingindo que só via as dela; descobri a dor quando nos separamos; mas principalmente descobri que precisava aprender a lutar, coisa que eu nunca tinha feito por ninguém; e vi que todo orgulho devia ser abandonado, e o egoísmo, e que por ela eu teria mais coragem do que o medo de toda a minha vida.

Percebi que precisava de algo muito grande pra sustentar um amor enorme, precisava de fé, sinônimo perfeito da palavra A M O R. Porque amar, as vezes, é crer no que ninguém mais vê.

Faria qualquer coisa pra nos manter juntas, mais do que juntas, unidas. Finalmente eu entendi o amor. Entendi que ele é possível pra mim, que aconteceu comigo, que acontece, e que sou muito privilegiada por experimentar tudo que ele traz.

E fico me repetindo e repetindo, porque o amor não cessa de repetir dentro de mim.

Só quero cuidar dela até o fim da minha vida. Beijar ela pra sempre e fazer dela a minha família. Desde que a conheci eu quis crer que se pode ter em comum um amor incomum. E creio!









jc




12 de mar. de 2013

‎"Só Deus perdoaria o que eu era porque só Ele sabia do que me fizera e para o quê. Eu me deixava, pois, ser matéria d'Ele. Ser matéria de Deus era minha única bondade."

- Clarice Lispector - A descoberta do mundo

1 de mar. de 2013

Dada a frivolidade derradeira de nossa luta pela vida, terá algum valor a efêmera carga de significado que a arte nos empresta? Ou o único valor estará em passarmos o tempo o mais confortavelmente possível?


- A culpa é das estrelas.
— Eu ficava dizendo ‚sempre‛ para ela hoje, ‚sempre, sempre, sempre‛, e ela só continuava falando ao mesmo tempo que eu, sem me escutar, e não disse ‚sempre‛ para mim. Era como se eu não estivesse mais ali, sabe? ‚Sempre‛ era uma promessa! Como é que você pode não cumprir uma promessa desse jeito?
— Às vezes as pessoas não têm noção das promessas que estão fazendo no momento em que as fazem — falei.
O Isaac me lançou um olhar ferino.
— Tá, tem razão. Mas você cumpre a promessa mesmo assim. Amar é isso. Amar é cumprir a promessa mesmo assim. Você não acredita em amor verdadeiro?
Não respondi. Não tinha uma resposta para aquela pergunta. Mas tive a sensação de que se o amor verdadeiro existisse, aquela seria uma definição bastante boa para ele.





- A culpa é das estrelas.
Sempre que você lê um folheto, uma página da Internet ou sei lá o que mais sobre câncer, a depressão aparece na lista dos efeitos colaterais. Só que, na verdade, ela não é um efeito colateral do câncer. É um efeito colateral de se estar morrendo. (O câncer também é um efeito colateral de se estar morrendo. Quase tudo é, na verdade.)


- A culpa é das estrelas.


Enquanto a maré banhava a areia da praia, o Homem das Tulipas Holandês contemplava o oceano:

— Juntadora treplicadora envenenadora ocultadora reveladora. Repare nela, subindo e descendo, levando tudo consigo.

— O que é? — Anna perguntou.

— A água — respondeu o holandês. — Bem, e as horas.




PETER VAN HOUTEN, Uma aflição imperial.


Que seja quem ama o dono dos meus braços, pois é no meio deles que me uno os pedaços.







Pedro Chagas Freitas
(...)

Às pernas tocadas por baixo das mesas, aos braços roçados por cima das mesas. E aos lábios que se beijavam a cada vez que se falavam.

(...)

A vida resume-se à absoluta sensação de vazio que só o que amas te oferece. A vida resume-se à absoluta sensação de vazio que não teres o corpo de quem amas te oferece. O homem vazio cheio de saudade, a cerveja vazia cheia de verdade.


(...)

E acreditou. Acreditar é um segundo de prazer. Quis estender a recordação, trazer de volta o que sabia que nunca, na verdade, fora capaz de ter.

(...)

Acreditar é um segundo de prazer. Não sabe se foi ele que correu para ela, não sabe se foi ela que correu para ele. Sabe que houve um abraço a meio do caminho – mas nem sabe (como saber o que só se sente?) qual era o caminho. Sabe ainda que ele não disse que a precisava, nem disse que a sentia como ela disse que o sentia. E sabe que aquilo, aquele nada dizer, aquele nada sentir, foi tudo o que precisou de ouvir, foi tudo o que precisou de sentir. Regressou à cama e aos lençóis e encheu-os de saudade em estado líquido. Não chorou mais do que o costume, não se quis mais dele do que o costume. E soube que a felicidade podia muito bem ser apenas aquilo: o homem defeituoso de sempre na realidade imperfeita de sempre. Acreditar é um segundo de prazer. 





Pedro Chagas Freitas
A mão dela tinha Deus dentro. Apertava-a, beijava-a com a minha mão

Há lá coisa melhor do que duas mãos que se beijam?


(...)

Sabíamos que era, como as nossas mãos eram, o tempo suficiente para aguentarmos o resto mais um tempo, para suportarmos o por fora das nossas mãos mais um tempo. Talvez, no momento em que as mãos se deixavam de amar, houvesse lágrimas, as lágrimas que se deixam cair sempre que algo cai dentro de nós. Talvez quiséssemos ficar por dentro das nossas mãos para sempre.

E ficámos. 





Pedro Chagas Freitas

27 de fev. de 2013

“Ontem eu estava numa festa, abraçado com um amigo hétero, que já estava com sono por causa das bebidas, ele adormeceu no meu colo, comigo fazendo carinho e seu cabelo e barba. Ao verem, todos falaram que ele era gay. Ele se tornou gay por estar abraçado com um outro homem, mas eu nunca me tornei hétero por abraçar uma garota.”

— O mundo é negro.
Quando não há mais certezas possíveis, só o amor sabe o que é verdade.

(Para Sempre Alice - Liza Genova)
"Sonho com um amor em que duas pessoas compartilham a paixão de buscar juntas uma verdade mais elevada. Talvez não devesse chamá-lo de amor. Talvez seu nome real seja amizade."

("Quando Nietzsche chorou", pág: 267, Irvin D. Yalom)
"…Eu creio que a senhora sonha talvez demais. Sonhará uns amores de romance, quase impossíveis? digo-lhe que faz mal, que é melhor, muito melhor contentar-se com a realidade; se ela não é brilhante como os sonhos, tem pelo menos a vantagem de existir."




"A Mão e a Luva"
-Machado de Assis
“A razão pela qual dói tanto nos separarmos é porque as nossas almas estão ligadas. Talvez, sempre tenham sido assim e para sempre serão. Talvez, tenhamos vivido mil vidas antes desta, e em todas elas tenhamos nos encontrado. E, talvez, em cada uma delas tenhamos sido obrigados a nos separar pelos mesmos motivos. Isso significa que esta despedida é, ao mesmo tempo, um adeus pelos últimos dez mil anos e um prelúdio do que virá. Quando olho pra você, vejo a sua beleza e seu encanto e sei que ficaram mais fortes a cada dia que você viveu. E sei que passei todas as vidas, antes dessa, procurando você. Não alguém como você, mas você, porque a sua alma e a minha têm de estar sempre juntas. E assim por alguma razão que nenhum de nós dois entende, fomos forçados a dizer adeus. Eu adoraria dizer que tudo vai dar certo pra nós, e prometo fazer tudo que eu puder para que isso aconteça. Mas se nunca mais voltarmos a nos encontrar, e se isso for verdadeiramente uma despedida, sei que nos veremos em outra vida. Nós nos encontraremos de novo, e talvez até lá as estrelas tenham mudado, e então nós nos amaremos, não só naquele momento mas por todas as vidas que tivemos antes.”

Carta de despedida de Allie e Noah.
Diário de uma paixão, Nicholas Sparks
Fico imaginando uma porção de garotinhos brincando de alguma coisa num baita campo de centeio e tudo. Milhares de garotinhos, e ninguém por perto - quer dizer, ninguém grande - a não ser eu. E eu fico na beirada de um precipício maluco. Sabe o quê que eu tenho de fazer? Tenho que agarrar todo mundo que vai cair no abismo. Quer dizer, se um deles começar a correr sem olhar onde está indo, eu tenho que aparecer de algum canto e agarrar o garoto. Só isso que eu ia fazer o dia todo. Ia ser só o apanhador no campo de centeio e tudo. Sei que é maluquice, mas é a única coisa que eu queria fazer.

O Apanhador no Campo de Centeio
“— Meu nome é Hazel. O Augustus Waters foi o grande amor estrela-cruzada da minha vida. Nossa história de amor foi épica, e não serei capaz de falar mais de uma frase sobre isso sem me afogar numa poça de lágrimas. O Gus sabia. O Gus sabe. Não vou falar da nossa história de amor pra vocês porque, como todas as histórias de amor de verdade, ela vai morrer com a gente, como deve ser. Eu tinha a expectativa de que ele é quem estaria fazendo meu elogio fúnebre, porque não há ninguém que eu quisesse tanto que…— Comecei a chorar. — Tá, como não chorar. Como é que eu…Tá.
Respirei fundo algumas vezes e retomei a leitura.
— Não posso falar da nossa história de amor, então vou falar de matemática. Não sou formada em matemática, mas sei se uma coisa: existe uma quantidade infinita de números entre 0 e 1. Tem o 0,1 e o 0,12 e o 0,112 e uma infinidade de outros. Obviamente, existe um conjunto ainda maior entre o 0 e o 2, ou entre o 0 e o 1 milhão. Alguns infinitos são maiores que outros. Um escritor de quem costumávamos gostar nos ensinou isso. Há dias, muitos deles, em que fico zangada com o tamanho do meu conjunto ilimitado. Queria mais números do que provavelmente vou ter, e, por Deus, queria mais números para o Augustus Waters do que os que ele teve. Mas Gus, meu amor, você não imagina o tamanho da minha gratidão pelo nosso pequeno infinito. Eu não o trocaria por nada nesse mundo. Você me deu uma eternidade dentro dos nossos dias numerados, e sou muito grata por isso.”

— Livro: A Culpa é das Estrelas
Respira o sabor de um beijo, o toque de um afago, o som de um arfar. Respira a mão de fogo de quem te ama, o suor em êxtase de quem te chama. E o abraço que não passa, e as palavras que te embraçam, e os olhares que te apertam. Respira – para saberes que vale a pena continuar.

Pedro Chagas Freitas

16 de fev. de 2013

Lamento ter sido indiscreto com minha dor e discreto com minha alegria.

Fabrício Carpinejar
Aquilo surpreendeu minha solidão, como raízes que levantam de súbito a calçada.

Fabrício Carpinejar
É que a morte - é essa a extrema ausência - implica delicadeza no olhar, o que não quer dizer fragilidade. Antes, é a coragem de assumir o próprio temor como uma antiga cicatriz pela qual já se adquiriu certa estima, apenas porque é nossa, apenas porque faz lembrar uma experiência intransferível. O amor que se viveu - e é essa a experiência intransferível -, quando morto, desaparecido do nosso olhar, do nosso tato, do nosso olfato, acomoda-se numa memória que é preciso revisitar: "O porão tem vida própria e respira/ o que jogamos fora".

Entrar nesse espaço é, talvez, a única possibilidade de sobreviver à falta, à incompletude que nos define como potenciais amantes e que nos confere o melhor do humano, ligando-nos ao que está sempre além de nós mesmos: ao outro.

Provavelmente por isso seja sempre tão difícil se desfazer dos objetos - presenças silenciosas - dos mortos que amamos (exatamente assim, com esse amor expresso no verbo ambíguo que mescla pretérito e presente)...




Fabrício Carpinejar

19 de jan. de 2013

Eu sou o caule dessas trepadeiras sem classe, nascidas na frincha das pedras: Bravias. Renitentes. Indomáveis. Cortadas. Maltratadas. Pisadas. E renascendo.




Cora Coralina

4 de jan. de 2013

"-Você não pode querer continuar ocupando um lugar que não é mais teu." Ele me disse, depois da primeira chuva daquele ano que mal começara.



jc